domingo, 29 de abril de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 106

É preciso saber contar histórias. Não qualquer historinha, como aquelas de enredo furado feito um triste pneu que deixa toda futilidade se esvair por estradas que não levam o povo a lugar nenhum. É preciso saber contar as histórias necessárias:causos e revoluções, lutas cotidianas e revoltas épicas, pequenas tramas de resistência e acontecimentos de grande vulto, amores sem mentiras e comédias que mostram a verdade. Mas o importante mesmo é que tudo isso seja narrado de modo saboroso e violento.
 Saboroso porque cada fato, cada detalhe do fato, cada pedacinho do drama, precisa prender a atenção daquele que ouve ou lê. Uma boa história é aquela que meche com a imaginação e faz a cabeça trabalhar a mil por hora. Já o lado violento da narrativa serve para despertar, fazer com que as pessoas não mergulhem e se afoguem num mundo paralelo. A mentira da ficção deve ser profundamente verdadeira, ou seja, deve falar com realismo e liberdade total sobre as coisas como elas realmente são. Esta sinceridade produz choques e quem narra precisa saber chocar para fazer pensar.
 Que sejam escritas as histórias necessárias para o nosso povo ter consciência de quem ele é e de quem ele pode ser. Abaixo os heróis da classe dominante, porque suas lições são disfarces para amolecer o cérebro e promover o imperialismo, a guerra,a miséria e o conformismo social. Abaixo aqueles pequenos casais de personagens, que hora dramaticamente, hora comicamente, celebram um amor mesquinho e de aparência. As verdadeiras histórias de amor, as verdadeiras histórias de aventura , as verdadeiras histórias de luta, ainda estão para ser escritas. Estas histórias deverão ser expressão do povo e portanto  colocadas a serviço dos trabalhadores(estes são os verdadeiros herdeiros da cultura).

domingo, 22 de abril de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 105

Hoje estamos profundamente tristes: a notícia da morte de Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores cineastas do Brasil e do mundo, nos pegou de surpresa. Mas ao mesmo tempo em que estamos de LUTO,  sentimos também cair sobre nós uma enorme responsabilidade histórica: é hora de LUTAR pelo cinema revolucionário brasileiro. A contribuição de Nelson neste terreno é incalculável na medida que o próprio autor foi um dos pioneiros de um cinema que mostrou, com autenticidade e realismo, o Brasil.
 Este fato nos compele a uma tarefa cultural em que é preciso: 1- Divulgar para a nova geração o extraordinário legado cinematográfico de Nelson Pereira dos Santos. 2- Pensar a herança estética do cinema de Nelson e logo sua importância para um programa cinematográfico que tem como objetivo retratar criticamente a realidade brasileira.
  A marca de Nelson Pereira dos Santos no cinema brasileiro não irá desaparecer porque ele fez parte de uma geração que, já na década de 1950, colocou a sétima arte na rota da política. Foi ele quem ajudou a acertar o ponteiro do cinema com o melhor da literatura de esquerda do Brasil: Nelson levou para as telas obras dos escritores  Graciliano Ramos e Jorge Amado. Tratava-se de um tipo de intelectual que deve ser modelo para os mais jovens: Nelson foi um cineasta comprometido com o nosso povo. Seus filmes, tais como Rio, 40 graus(1955), são obrigatórios para se entender o nosso país. Muito obrigado Nelson Pereira dos Santos. 

domingo, 15 de abril de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 104

EXPERIMENTO LITERÁRIO (criação coletiva)

Ovos de serpente estão sendo chocados em segredo. O terror fazia a testa do rapaz suar. É um cara legal, trinta e poucos anos, profundamente angustiado. Ao seu lado quatro amigos que vão evaporando pelo ar da noite. O caminhar noturno é tão incerto quanto a economia: sapatos gastos, movimentos oscilantes, calcanhares esfomeados contra calçadas feitas de todos os dejetos da terra.
 Na avenida só existem imagens mentirosas. Algumas palavras proféticas aparecem aqui e ali com um diagnóstico tão preciso quanto o de um cientista social:

" Lutem agora, não esperem a abertura do matadouro ! "

 " Cuidado com os pés de barro da democracia burguesa: para manter seus interesses, a classe dominante poderá recorrer aos cães sedentos por sangue! "

" Camaradas! Dinamitem agora com ações artísticas as torres de marfim: a cultura deve estar nas mãos dos trabalhadores ! " 

" Atenção trabalhadores da cultura ! Seu trabalho poderá deixar de existir quando a sociedade tecnológica terminar de dominar a terra " 

" O imperialismo vai beber todo o seu sangue "

" A intolerância veste sua roupa mais vistosa em épocas de crise. Cuidado camaradas! Devemos esclarecer as massas ! "

O rapaz terminou sua lata de cerveja. Fechou o casaco(um vento gelado golpeava seu peito). Aquelas frases pichadas no vento diziam algo importante. O que está acontecendo? No canto escuro da esquina, ele ouve, em pânico, o chocalho de uma cobra.




domingo, 8 de abril de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 103

Convite aos militantes de esquerda:

Venham, venham, venham assistir a um clássico do Cinema Político mundial:

SYMPATHY FOR THE DEVIL(1968), de Jean Luc Godard. 

Não se trata de mero entretenimento: é uma oportunidade para que, dentro da perspectiva cineclubista, sejam debatidas questões estéticas indispensáveis para o trabalho dos militantes da cultura de hoje. No atual momento em que a sociedade brasileira vive, marcado por polarizações ideológicas, é necessário saber interpretar e produzir imagens/narrativas que atuam na luta de classes. Nosso objetivo é utilizar o ciclo de filmes CINE 68, para propor uma reflexão sobre o legado estético e político do cinema de autor do final dos anos 60.  
 Neste longa de Godard, o cineasta francês registra a banda inglesa Rolling Stones gravando no Olympic Studios, em Londres, seu hit Simpathy For The Devil(que integraria o antológico álbum da banda Beggar´s Banquet, de 1968). O filme articula imagens das gravações dos Stones com uma narrativa revolucionária, que ao refletir de maneira poética sobre o explosivo contexto de 1968, apresenta sequências referentes a temas como a contracultura, a mídia, a emancipação feminina, a luta dos Panteras Negras etc.  

Dia: 14/04/18

Local: Museu da Imagem do Som de Campinas. 

Horário: 17 h 

domingo, 1 de abril de 2018

Boletim Lanterna. Ano 08. Edição 102

Burguês: - O que é isso?

Artista:- Um poema

Burguês:- Quanto custa?

Artista: - É impossível dizer... As leis do mercado não tem nada a ver com as leis da arte.

Burguês:- Ora, tudo tem preço, tudo vale grana.

Artista:- Quantificar sensações, tabelar experiências interiores e carimbar pensamentos são mentiras inventadas pelo capitalismo.



A necessidade de expressão é muito perigosa numa sociedade dividida em classes. Exteriorizar livremente pensamentos e sentimentos coloca em evidência um outro tipo de trabalho. Um artista/escritor pode ser assalariado, pode ser " um operário das letras "( ainda que na maioria dos casos o intelectual não seja proletário). Todavia, se o artista aplica-se numa atividade tida como improdutiva, estamos falando de alguém que abre uma brecha na realidade para olhar livremente o mundo. Nesta operação estética surgem imagens que se chocam violentamente contra a ideologia dominante.



A ARTE É UMA ATIVIDADE CONTRÁRIA AO TRABALHO ALIENADO!