sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Ato no MIS Campinas:

Neste próximo sábado (dia 31 de janeiro, a partir das 19h) um importante ato promete reunir cinéfilos e militantes da cultura no Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas. Trata-se de um notável manifesto que enfrenta a mediocridade cinematográfica em nome do cineclubismo: verdadeira prática de formação estética e política da população.Como já vem sendo divulgado em redes sociais e publicações eletrônicas, toda mobilização envolve a reivindicação e a luta por uma sala gratuita de cinema em Campinas. 
  A importância política deste ato consiste em reagir contra a destruição do espaço público. É contra o lastimável estado de alienação social, que coletivos de comunicadores, artistas e ativistas mobilizam-se para criar um espaço de exibição e debate cinematográfico. Abracemos com paixão revolucionária esta iniciativa!


                                                                                     Conselho Editorial Lanterna  

A teatralização do grafite:

Sendo o grafite uma das mais poderosas e combativas experiências estéticas da atualidade, sua influência pode ser sentida também no campo das artes cênicas. Talvez o exemplo mais frutífero desta conexão, esteja nas apresentações do grupo Perversos e Polimorfos inspiradas no trabalho de Banksy. Movimento, por exemplo,  revela um trabalho interessantíssimo de Ricardo Gali, diretor do grupo, sobre a influência do grafiteiro e ativista britânico que vem assustando os conservadores.O grande barato nisto é como o estêncil influencia o gesto, a representação da imagem do muro no corpo humano. Esperamos que estas experiências tenham longa vida.


                                                                                             Marta Dinamite

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O compromisso com a imaginação criadora:

Se um artista deseja realmente colocar sua obra enquanto contribuição efetiva para a emancipação humana, então ele não pode castrar sua própria imaginação. É precisamente nos recôncavos da sensibilidade, nas ocultas camadas do ser, que o artista identificado com a luta contra o mundo por assim dizer burguês, deve lançar-se sem medo. Quem teme a este mergulho interior, precisa observar que os artistas mais avançados da modernidade, foram bem fundo nessa. Frida Kahlo que o diga.
 Frida foi um pintora que decididamente mobilizou todos os seus modos de expressão de acordo com suas intensas emoções e experiências(inclusive as mais trágicas de sua vida). Sua obra representa um dos pontos altos da vanguarda mexicana do começo do século passado. Enquanto que alguns pintores mexicanos, como Siqueiros, adequaram sua arte aos propósitos limitadíssimos do realismo socialista, Frida foi livre: sua obra e conduta pessoal confluem para uma postura existencial que desafia os padrões morais da classe dominante. Sendo assim, recomendamos aos artistas de esquerda que não deixem de olhar atentamente para o fundo de si mesmos.


                                                                                                  Os Independentes    

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A memória dos Mutantes:

Tá aí um livro que precisa sair: a fotógrafa Leila Lisboa Sznelwar, que conviveu intimamente com a banda de rock brasileira os Mutantes, está numa campanha com fãs do grupo para lançar um livro com imagens inéditas. Esta iniciativa, é fundamental para a História do rock e da música popular em geral no Brasil. Sznelear captou a banda em um período de intensa produção musical e experiências contraculturais: entre 1969 e 1974, existe um importante legado fotográfico que ajuda na reconstituição histórica de uma época em que se a barra pesava politicamente, sob a ponto de vista musical a juventude resistia através da criatividade e de uma louca busca pela liberdade. 
  Hoje os Mutantes gozam de um prestígio artístico internacional. Seu valor musical é inquestionável, sendo que para muitos, a banda brasileira foi mais longe em termos de criatividade do que gente como Beatles e Pink Floyd. Este livro seria mais do que oportuno para contribuir com a divulgação do legado musical dos Mutantes.


                                                                                                       Tupinik

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Os manifestos do Modernismo brasileiro:

Rever criticamente a trajetória do modernismo brasileiro, implica em conhecer sua própria linguagem. Diante disso é muito oportuno que se leia o recém lançado livro A Palavra Modernista: Vanguarda e Manifesto, de Pedro Duarte(a obra saiu pela Casa da Palavra). O autor investiga a escrita modernista a partir do manifesto, ou seja, o formato privilegiado pelas vanguardas artísticas do século XX para exprimir projetos estéticos que visavam romper com as tradições culturais da sociedade burguesa. Investigar as plataformas teóricas do nosso modernismo, é um percurso que encontra no manifesto sua principal porta de entrada: em revistas como a barulhenta Klaxon, é que observamos a presença destes documentos de agitação e provocação. Porém, há de se convir que a revolução modernista conheceu sérios limites de classe: intelectuais e artistas bem abastados promoviam importantes formas de rebelião estética, mas ignoravam a revolução em seu sentido político mais profundo.  
 A renovação  de nossas letras e artes, deu-se durante a década de vinte dentro de um verdadeiro balaio de gatos: escritores e artistas unidos em torno de uma concepção moderna e bastante idealista do que seria uma arte nacional, possuíam concepções estéticas e políticas distintas. Neste sentido embora existisse um sentimento unânime de ruptura, notamos interpretações contrastantes para os caminhos de uma arte moderna autenticamente brasileira: entre Oswald de Andrade e Plínio Salgado, por exemplo,os oceanos ideológicos eram enormes. 
Se a maioria dos modernistas ignoraram o movimento operário, a coisa toda iria mudar quando alguns dos seus quadros mais radicais encaminham-se no final dos anos vinte, para a luta política de esquerda: Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Patrícia Galvão e Tarsila do Amaral, não tardariam em compreender que era preciso romper não apenas esteticamente, mas politicamente com a classe dominante. Sendo assim, na hora de olharmos para os manifestos do nosso modernismo, saibamos identificar os sinais das tendências que contribuem historicamente com o questionamento dos valores artísticos e políticos da classe dominante.


                                                                                          Geraldo Vermelhão

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A idealização da imagem do proletariado:

Existe um pequeno mas não menos problemático fenômeno: alguns jovens " comunistas ", que nunca colocaram os pés numa fábrica ou sequer frequentam mercados municipais e feiras populares,  nutrem uma imagem que culmina na  fetichização da classe operária. Cercando-se por exemplo de cartazes soviéticos, estes militantes criam um falso imaginário, que portanto não corresponde ao contexto cultural do operário brasileiro de hoje em dia. A verdade é que estes garotos ainda não se libertaram das características idealistas próprias da pequena burguesia. Ainda que compreendam por exemplo a Revolução russa de 1917 e a produção artística que ela resultou, eles insistem em estereótipos nos quais o proletário brasileiro de hoje não se reconhece.
 Mulheres com lenços na cabeça e com saia de camponesa russa, homens de macacão com martelos nas mãos e fazendo uso de quepes, corresponde a um conjunto de imagens do operário europeu do começo do século passado. Se quisermos pensar a imagem dos trabalhadores brasileiros da atualidade, então devemos observar além do evidente aspecto da miscigenação(que foi abordado por nomes combativos do modernismo brasileiro) as novas características visuais que compõem o jovem operário que escuta funk e rap e incorpora-se aos mais variados elementos da cultura popular, sobretudo aqueles provenientes dos estados nordestinos. Ou seja, para representar o povo é preciso ver/conviver com trabalhadores de carne e osso. Compreendendo atentamente a cultura popular brasileira, poderemos avançar numa nova construção da imagem do operário revolucionário.


                                                                                                     José Ferroso    

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Porque falar em expressionismo alemão hoje:

Dentre as lições revolucionárias do expressionismo alemão, está a ruptura com a imagem enquanto construção naturalista. Isto ainda representa muito, se levarmos em conta que a percepção das massas é até hoje estruturada no cinema comercial e na mídia burguesa como um todo, através das  " ilusões verdadeiras" de um convencionalismo naturalista. Sendo assim, um primeiro ato revolucionário no plano da imagem não encontra-se em uma suposta natureza realista do seu objeto, mas numa linguagem que recria o real.
 Ernst Bloch está entre os poucos marxistas que valorizaram o caráter revolucionário do expressionismo alemão. Bloch sabia que as formas sombrias e assimétricas não eram produtos de uma imaginação " irresponsável "(rs) ou de um delírio que aliena a imagem da realidade. É a revolta contra o conjunto da cultura burguesa que fez do expressionismo, ainda que nem todos os seus artistas fossem pessoas de esquerda,  a recusa de um modo de percepção: é a negação de toda  herança burguesa em arte. 
  Ainda que este debate estético seja próprio do século passado, nunca é demais lembrar que a intervenção artística contrária ao status quo, depende de uma proposta formal que o negue.

                                                                                 
                                                                                                         Marta Dinamite 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A perenidade das obras de arte:

Não apenas estetas e historiadores da arte, mas qualquer pessoa atenta ao potencial sensível/transformador da experiência artística, pergunta-se como uma determinada obra, passados tantos anos, ainda pode comover/comunicar-se com homens de períodos históricos posteriores. Marx e Engels enquanto pais do socialismo científico, não eram menos atentos a este aspecto da vida cultural. Aliás, o próprio Marx escreveu sobre o fato assombroso da arte grega ainda proporcionar deleite estético, mesmo passados séculos após o fim do modo de produção escravista. Bem, esta indagação, é um desafio para aqueles que pensam a arte em seu sentido político transformador. 
  Quando o conteúdo, que exprime uma época(e os meios técnicos desta mesma época), torna-se forma e perpassa contextos históricos, então a arte que encarna o ponto de vista político dos setores oprimidos, passa potencialmente a ser um campo sensível que educa o trabalhador de hoje. Ou seja, estudar as obras que ainda se comunicam conosco, além de ser um dado ligado ao caráter " atemporal " de um clássico, pode ser também uma força política que seleciona as obras de arte verdadeiramente combativas: afinal de contas, o alcance político depende de qualidade artística para sobreviver ao fluxo de mudanças históricas.


                                                                                                              Lenito   

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A batalha da literatura de esquerda:

É recorrente ouvirmos, mesmo entre pessoas de " esquerda ", afirmações equivocadas tais como " se o povo mal sabe ler, por que insistir em uma literatura de contestação social? ". Este tipo de raciocínio, sugere que a experiência com a palavra escrita seja algo quase que exclusivo do universo cultural da classe média e da burguesia. Isto não é verdade na medida em que o texto impresso, também é parte do ambiente proletário. Entretanto, a palavra escrita insere-se no conjunto de uma produção popular que a grosso modo não estabelece vínculos entre literatura e os problemas sociais; aliás entre jornais sensacionalistas, publicações que exprimem fundamentalismo religioso e uma literatura que retrata a indústria cultural, a palavra escrita em seu lastro popular parece não acompanhar uma literatura de cunho social. Exceções existem, é verdade: romances, contos e poemas que compõem as chamadas literatura periférica e prisional, que o digam. Mas mesmo com estas poderosas expressões de literatura popular e engajada, é fato que a leitura de obras literárias contestadoras, é parte da realidade de um pequeno setor da classe média.
 Pois bem, a questão não é se a classe trabalhadora  lê ou não lê, mas o que ela lê. Para que a literatura empenhada em fazer uma leitura crítica capaz de desvendar e problematizar(via ficção, por exemplo) os problemas concretos do povo adquira relevo, deve-se aprofundar um processo educativo que a tome como hábito incorporado ao conjunto da vida cultural popular. Sim, não é a primeira vez que escrevo sobre isso. Também não é a primeira vez que chamo a atenção para o fato de que é responsabilidade da esquerda, fazer uso dos diferentes meios e espaços para difundir aquilo que podemos classificar de uma produção literária de esquerda. Mas, é preciso insistir nisso se quisermos que a literatura sobre os trabalhadores seja lida pelo povo e não por pessoas que defendem(mesmo que neguem) as diferenças de classe. 


                                                                                             Lúcia Gravas
     

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Um ponto de vista artístico revolucionário e independente, sobre Cuba:

As motivações reacionárias da opinião pública internacional, apresentam diferentes apelos para ver Cuba novamente invadida e saqueada pelo imperialismo norte americano. Usa-se por exemplo, a situação da artista cubana Tania Bruguera para isso. A artista foi presa no final do ano passado em Havana, após a tentativa de apresentar a performance O Sussurro de Tatlin(referência ao fundamental arquiteto soviético, que foi uma das grandes expressões do construtivismo russo). Mesmo posta em liberdade, Tania está sendo atualmente monitorada pelas autoridades. Acusada de provocar " a desordem " na Ilha, Tania Bruguera e sua obra revelam as atuais contradições políticas sobre o acordo realizado entre Cuba e os EUA. Se tal acordo, tão celebrado por artistas e intelectuais conservadores, não modifica a política cultural stalinista do regime de Raul Castro, isto não significa que Tania represente automaticamente o ponto de vista da direita, ou seja daqueles que querem derrubar o socialismo em Cuba: Tania Bruguera é uma artista militante, que estabelece a crítica de esquerda.
 Tania Bruguera  utiliza as conquistas expressivas da arte contemporânea (verificadas na performance, por exemplo) para realizar um fecundo trabalho envolvendo temas sociais. Sua coragem como artista, exprime um desejo político que levanta a necessidade de se conjugar socialismo e liberdade. Os procedimentos policiais do stalinismo, dos quais Tania é vítima, são inimigos do verdadeiro socialismo. O socialismo não possui razões políticas para temer a uma arte livre; ao contrário, ele deve reivindica-la.  
 A esquerda de um modo geral, precisa tomar como exemplo a obra de Tania Bruguera para defender uma política cultural que rompa definitivamente com métodos burocráticos e autoritários. Para não colocarmos azeitona na empadinha da mídia capitalista, precisamos sustentar uma visão revolucionária e independente da arte(é a única maneira de se combater o ponto de vista liberal neste campo). O próprio destino político da Revolução cubana, depende disso.


                                                                                                  Os Independentes
 

Um rastro histórico de guitarras quebradas:

Uma data importante para a História do rock: o primeiro single da banda inglesa The Who, está completando cinquenta anos. A canção I can´t explain, ajudou na constituição de um momento musical em que o volume da guitarra sintetizava toda fúria e insatisfação da juventude proletária inglesa. Sim, havia muita alienação entre os chamados Mods(que o som do The Who representava), mas ao mesmo tempo não se pode negar que dentro deste e de outros movimentos culturais ingleses dos anos sessenta, nota-se a revolta contra a moral burguesa. 
 A segunda metade dos anos sessenta apresentou uma importante mudança progressista na consciência política dos jovens ingleses: dos cabelos desalinhados e dos terninhos de lapela dos Mods até o psicodelismo  dos hippies(de origem norte americana), uma efervescência contracultural londrina desafiava as tradições e a própria ideologia do Império Britânico. Sob o ponto de vista musical, a banda The Who condensou com talento brutal e muita violência estética todo um processo cultural e político composto pela antiarte, pela arte Pop , pelo anarquismo e pela contracultura. Os álbuns  My Generation(1965), A Quick One(1966), Sell Out(1967) e Tommy(1969), mostraram que o rock é curtição e ao mesmo tempo rebelião consciente contra o status quo.


                                                                                                    Tupinik 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A barricada do cinema:

Com a crise econômica comendo solta, quem pode acreditar nas falsas imagens do cinema comercial? Com exceção dos paspalhos que divorciam a câmera do olhar crítico, começa a ficar claro que o filme brasileiro não pode ser uma extensão da linguagem dos filmes norte americanos. A descolonização da arte cinematográfica, exige que pensemos referenciais imagéticos capazes de comunicar-se honestamente com o público: é a miséria e a alienação que devem ser objetos de análise, de reflexão. 
 A imagem em movimento, não pode escapar das determinações históricas resultantes da realidade material dos países latino americanos. Não importa o gênero: nenhuma comédia ou nenhum filme policial podem ser perpétuos copiadores de fórmulas que visam separar a realidade do filme da realidade histórica. Estamos num momento em que o cineasta brasileiro deve buscar uma sólida formação política, literária e teatral, afim de possuir elementos que viabilizem imagens com os ritmos, os cheiros, a textura e os sons de um país que não se resume ao deslumbramento consumista da indústria cultural. 
 Para não morrer enquanto linguagem, o cinema brasileiro deve estar em seu lugar histórico: a barricada que desafia " os mandamentos " do capital.


                                                                                                 Geraldo Vermelhão   

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O legado de Boal:

O fato da plateia de qualquer teatro existente no interior da economia capitalista, ser inevitavelmente  expressão da sociedade de classes, faz com que o espetáculo encenado revele uma posição política sobre tal sociedade. A obviedade desta afirmação, leva-nos em direção a teatrólogos como Augusto Boal: este foi um artista que optou pelos trabalhadores, pelos oprimidos. O seu projeto estético comprometido com o povo brasileiro e a sua cultura, é de grande atualidade; de modo que o teatro político no Brasil conheceu a sua maturidade e consistência com Boal. A influência do teatrólogo dos oprimidos nos nossos dias, se faz presente em vários grupos teatrais de esquerda. Afim de ampliar esta influência, precisamos prestigiar o Projeto Boal: trata-se de uma importante exposição que está ocorrendo no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Esta iniciativa conta com parte do acervo do teatrólogo brasileiro.
 É no mínimo obrigatório que atores, dramaturgos e diretores de teatro conheçam de maneira aprofundada o legado de Augusto Boal. Não podemos permitir que a barbárie promovida pela ditadura militar, deixe  soterrada a dramaturgia e a teoria deste que é um dos mais combativos nomes das artes cênicas no Brasil. É preciso que as novas gerações aprendam e pratiquem este modelo insuperável de teatro revolucionário.


                                                                                                      Lenito 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A herança punk contra um " governo de esquerda ":

Ao lembrarmo-nos do derradeiro show que a banda de punk rock inglesa The Sex Pistols realizou nos EUA em janeiro de 1978, acabamos por perceber que a estética punk não ficou nos anos setenta: ela ainda é expressão de artistas e jovens enraivecidos contra a democracia burguesa. Nossa companheira Lúcia Gravas indagou-se, em artigo publicado antes de ontem no nosso blog,  sobre o tipo de política cultural que deverá ganhar espaço dentro da esquerda no Brasil neste ano. Adianto-me em dizer(mesmo correndo todos os riscos contidos nas " previsões ") que não será entre aqueles que apoiam o governo que surgirão as inovações culturais de esquerda. Perante o tipo de política econômica do governo(baseada num aperto de cinto em que os trabalhadores é quem ficam sem ar), creio que as práticas e manifestações culturais voltadas para o questionamento da sociedade capitalista, irão partir cada vez mais de militantes e artistas independentes. O fato da autogestão ser a marca registrada de uma política cultural que não aceita mais a aliança entre burguesia e classe operária, deverá fazer da precariedade(e portanto da recusa de verbas públicas)  um principio estético na revolta simbólica contra o status quo; e nada melhor e mais influente do que o punk para isso. 
Existe um claro sintoma histórico no fato das principais manifestações de rua puxadas por anarquistas e pela esquerda independente, conterem muito da linguagem estética de origem punk. Trata-se de um conjunto simbólico de natureza juvenil, que não aceita o fato dos trabalhadores  sofrerem com a crise econômica. Uma arte rebelada, nascida da estética punk, deverá ganhar presença ao longo deste ano.


                                                                                                               Tupinik

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Criação artística e agitação política:

Entre a descrença sobre o potencial político da arte(que exprime a posição do artista reacionário) e a visão idealista baseada na ideia de que  a arte sozinha transforma a realidade(a qual exprime o artista que não compreende o funcionamento da organização social), pairam inúmeras confusões ideológicas. Se é verdade que a formação intelectual de muitos artistas é teoricamente frágil, não resistindo assim a uma indagação mais profunda sobre o sentido da experiência estética na realidade concreta, devemos em contrapartida nos perguntar por que a esquerda não consegue mais exercer, de maneira satisfatória, influência sobre a criação artística.
 Novas expressões artísticas de contestação social existem, e são produtos evidentes dos ambientes de esquerda: vídeos militantes que reinventam o cinema de autor, cartazes de rua ancorados na arte gráfica soviética e peças teatrais que revisitam as estéticas de Maiakóvski e Brecht, seriam exemplos disso. Porém, a grosso modo, o que observa-se  é um completo quadro de alienação e uma grande antipatia pelo pensamento marxista; já que é bem mais seguro e aconchegante esconder-se nas teorias evasivas dos estetas do umbigo. Sim, não estão na classe média esnobe que vive com os narizes no céu e os olhos no nada, os artistas contestadores dos nossos dias. Deve-se portanto investir fisicamente e politicamente no contexto popular: é ali que encontram-se artistas que possuem uma sensibilidade que vai totalmente de encontro com a criação artística que torna-se uma poderosa expressão de agitação política. A esquerda só poderá recuperar a sua influência cultural aonde o povo está.


                                                                                                     José Ferroso 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A política cultural e as posições da esquerda:

Com a posse do ministro da Cultura Juca Ferreira, levanta-se mais uma vez as diferentes apreensões que as organizações políticas de esquerda fazem da cultura no Brasil. A militância cultural sob o ponto de vista socialista, não possui um único parecer sobre a dinâmica da produção artística: enquanto que redes de organizações culturais defendem o uso da captação de recursos via governo federal, outros grupos optam pela autogestão que proporcionaria independência política/ideológica frente ao Estado capitalista. Portanto, entre defensores do governo do PT e aqueles que possuem vínculos políticos com partidos que não compactuam com as práticas do mesmo, existem maneiras distintas de influenciar a realidade política por meio da produção cultural. Mas num contexto histórico tremendamente hostil ao projeto socialista, como ambas as posições podem avançar em termos de política cultural?
 Em mais de uma década de governo, o PT certamente diferenciou-se das políticas culturais dos governos anteriores. Apesar da tensão política interna, entre aqueles que foram diferenciados como " marxistas e tropicalistas ", o fato é que o Ministério da Cultura dialogou com as bases produtoras de cultura(estas conseguiram viabilizar vários projetos). Os Pontos de Cultura, movimentos de Mídia Livre e redes como o pessoal do Fora do Eixo, seriam expressões organizacionais  que vinculam-se ideologicamente aos governos de Lula e Dilma. Porém, outros coletivos identificados com programas políticos que defendem a independência política da classe operária na luta pelo socialismo, atuaram e atuam através dos seus próprios recursos: foram nas jornadas de junho de 2013 e nos atuais protestos de rua(contrários ao aumento da passagem de ônibus, por exemplo) que encontramos poetas, atores e produtores de audiovisual que não acreditam na aliança entre classe dominante e classe trabalhadora para se produzir uma cultura de contestação social. 
 Será preciso observar as medidas do Ministério da Cultura, em meio ao cenário atual de crise econômica e de patrulha ideológica anticomunista exercida pela mídia burguesa, para medirmos qual estratégia irá adquirir relevo entre grupos de esquerda tão heterogêneos. 


                                                                                                       Lúcia Gravas   

A intervenção de uma " estética pop ":

Nas mais diferenciadas manifestações de rua dos nossos dias, existe a utilização recorrente de uma linguagem, por assim dizer, pop: mascaras, camisetas e cartazes com apropriações de ícones da cultura de massa, fantasias que parodiam símbolos do consumismo, etc. É fato que nem toda esta estratégia simbólica  contemple inimigos do status quo. Depende-se muito do uso político que é feito do pop... Aliás, é no ambiente de classe média, aonde nasceu e atualmente se reproduz esta estética pop(cuja raiz histórica é a própria Pop Art, do pós guerra), que encontramos posturas políticas distintas: da defesa (consciente ou não) da democracia burguesa, exercida por profissionais liberais e estudantes conservadores, até o caráter anarquista reivindicado por artistas libertários, estudantes rebeldes e militantes anticapitalistas.
 Nesta bagunça simbólica/ideológica, aonde cabe desde os mais contestadores coletivos de street art até os mais " alegres " devoradores de sabão em pó e paladinos da " democracia ", a esquerda não pode ficar comendo poeira. Inserir a luta operária num contexto marcado por uma sensibilidade pop, pode trazer importantes avanços para a consciência dos trabalhadores(estes também, não estão fora da cultura de massa). Se a reivindicação política das massas é a base para uma passeata popular, deve-se aprender com a irreverência das estéticas libertárias de rua.


                                                                                                      Marta Dinamite

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Música brasileira: liberdade conquistada e o atual perigo da despolitização

Vive-se atualmente no Brasil um importante momento de liberdade musical. Como sempre faço questão de frisar aqui, a música popular brasileira ampliou o seu alcance estético para além das barreiras do nacionalismo. É impossível desconsiderar hoje que gêneros como o rock e o rap, sejam partes integrantes da música brasileira. Mas mesmo com as conquistas estéticas(fruto histórico de iniciativas ousadas, como o tropicalismo, por exemplo), a fragmentação musical vem servindo unicamente ao mercado.
 Não existindo barreiras, vários músicos tornam-se  reféns das prateleiras que delimitam os diferentes estilos musicais, que circulam por sites, aparelhos eletrônicos, canais de Tv a cabo, redes sociais, etc. Se produzir, editar e circular músicas ficou fácil, por outro lado ficou difícil reunir cantores e artistas em torno de movimentos e propostas que exprimam uma posição política contrária ao domínio capitalista.
  Os novos meios de difusão legados pela era digital, aos quais refiro-me sempre com otimismo, dado o seu alcance popular, precisam ser utilizados de modo progressista e não de acordo com os imperativos do comércio, que geralmente aprisionam todas as melodias na armadura da mercadoria. Para que a canção no Brasil retome seus laços com uma postura crítica e de contestação social, deve-se saber fazer uso das liberdades conquistadas e dos novos meios.


                                                                                                          Tupinik  

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Caricatura, romance e intolerância na Europa:

Se a Europa deu-nos durante os últimos duzentos anos expressões revolucionárias na literatura, na pintura, na filosofia e em outras inúmeras áreas da cultura, atualmente é o lado conservador que ganha força. Os casos da Alemanha e da França são visíveis com o avanço da extrema direita: intolerância é a palavra que precisamente traduz um sentimento de aversão por culturas estrangeiras, especificamente por imigrantes adeptos do islamismo, os quais supostamente ameaçariam a " identidade cultural " alemã e francesa. A coisa toda só vem piorando com o ataque covarde ocorrido no último dia 7, em que terroristas adeptos de uma leitura fundamentalista do Islã, atacaram em Paris a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, assassinando funcionários. Este trágico acontecimento envolvendo esta publicação conhecida por realizar caricaturas do profeta Maomé e de outros nomes da religião muçulmana, acaba por levantar o seguinte problema: como defender a diversidade cultural e a liberdade de expressão da fúria fascista, quando organizações fundamentalistas acabam dando gás para os conservadores?
 Num cenário hostil aos grupos e minorias étnicas, outras manifestações culturais além de desenhos satíricos, parecem intensificar o debate político na Europa. Este é o caso do recentemente publicado romance Soumisson , de Michel Houllebecq. No livro o autor narra numa ficção que se passa em 2022, a chegada ao poder de um partido muçulmano. De acordo com as primeiras repercussões do romance na esquerda francesa, trata-se de uma obra que ao expor o choque entre valores ocidentais e o Islã, acaba por reforçar a influência da extrema direita que rechaça a imigração muçulmana na França. A temperatura deve elevar-se ainda mais pelos próximos dias. Para se responder a um cenário de intolerância que parte tanto da extrema direita quanto de organizações terroristas, deve-se compreender que se a esquerda deve zelar pela liberdade de expressão (entre romancistas e cartunistas, por exemplo), ela deve também saber fazer uso da mesma para denunciar as tendências políticas conservadoras da Europa.


                                                                                                  Geraldo Vermelhão

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O Surrealismo perante a luta de classes:

Um cenário político conservador vem ganhando terreno nos dias de hoje . Enquanto que no âmbito nacional os conflitos de classes pipocam em tempos de crise econômica, na Europa a extrema direita anda tirando a suástica do armário. Se o ano de 2015 promete ser tenso, como a arte pode contribuir para a exposição das inquietações dos homens que lutam contra a sociedade alienada? A orientação do surrealismo, como vem sendo sustentada particularmente por nós neste periódico, pode parecer aos olhos dos nacionalistas de esquerda um " exotismo de classe média ". Nada mais falso: o surrealismo é uma posição revolucionária atual, cuja presença é indispensável no seio da luta de classes. Se para a régua acadêmica(que divide a cultura pelo historicismo) o surrealismo seria conversa francesa do século XX, é porque os intelectuais de gabinete não entendem o poder de fogo que a poética surrealista possui na civilização burguesa dos nossos dias. Um poeta ou pintor surrealista não está interessado em novidade, mas no " novo mais profundo ": é no inconsciente, isto é no território do desejo, que o novo deve ser buscado.
 O que necessitamos hoje são de obras que rompam com a razão burguesa através de imagens violentas, incontrolavelmente poéticas, selvagens. A arte pode enfeitar ou destruir a moral estabelecida. No caso do surrealismo, cujas lições encontram-se na História do movimento surrealista(que ainda pulsa, que ainda está rolando), a arte é um meio que serve para violentar as restrições e o conjunto de regras que fazem a rotina conformista andar. Se existe algo na vida cultural que pode fortalecer as lutas dos trabalhadores do Brasil e do mundo, é o cultivo dos ovos de onde nascem imagens coloridas pela revolta plástica.


                                                                                                   Os Independentes

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sartre e o escritor rebelde

Cinco décadas após o escritor e filósofo francês Jean Paul Sartre recusar o prêmio Nobel de literatura, recai sobre nós uma pergunta que poucos intelectuais se fazem hoje: por que escrever? O poço de vaidades que enche o crânio dos intelectuais de classe média, proporciona respostas superficiais, quando não bem ensaiadas. Para uma boa parte da geração de Sartre , a motivação da escrita era bem outra: escrever implica em considerar a existência do leitor e logo de um indivíduo que concebemos como livre. Para o existencialismo, viver em um estado de não liberdade só pode fazer com que o escritor escreva sobre as lutas pela libertação, exprimindo uma posição política contrária ao sistema capitalista. Esta é a causa maior da escrita de Sartre, que valendo-se dos gêneros do romance, do conto, da dramaturgia, além do próprio ensaio filosófico e da atividade jornalística, questiona o conjunto das formas de opressão do mundo contemporâneo.
  A atividade do escritor engajado, que pressupõe a figura do intelectual rebelde, não admite bajulações e nenhuma forma de institucionalização da obra literária. Servir-se da palavra para fazer sua a causa dos oprimidos, é o que deve bastar para o escritor comprometido com os problemas do seu tempo. No caso de Sartre em particular, denunciar o nazismo, divulgar as ideias de Che Guevara e as lutas do terceiro mundo,  e ainda combater a moral burguesa, compreende o itinerário de um escritor engajado(e para o filósofo existencialista, este é o cerne da questão) .


                                                                                                          Lenito 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A produção artística enquanto dimensão do movimento estudantil:

Embora a esquerda brasileira(de um modo geral) encare as questões culturais quase como um parêntesis da luta política, existem em algumas organizações importantes discussões em torno da criação artística dos nossos dias. O caso do movimento estudantil revela um contexto fecundo para isso, já que para os mais diferentes partidos e correntes de esquerda, o tema da arte diz respeito geralmente aos " jovens ", aos temas da juventude(uma generalização que merece certa cautela, já que assim como a escola e a universidade, os sindicatos e os movimentos sociais também necessitam de uma vivência cultural contestadora, que não seja necessariamente de " juventude "). 
Diante disso, estejamos atentos ao que irá rolar da nona edição da Bienal da UNE(União Nacional dos Estudantes). A edição do evento que irá ocorrer entre os dias 1 e 6 de fevereiro na cidade do Rio de Janeiro, tem por título " Vozes do Brasil ". Como vem sendo divulgado pelos veículos ligados a esta entidade estudantil, a nona edição da Bienal pretende discutir a linguagem no Brasil e consequentemente a diversidade revelada nos diferentes registros escritos ou falados. Tudo indica que uma grande quantidade de jovens irá apresentar o tema através da literatura, do teatro, do audiovisual, da música, das artes plásticas, etc. Pois bem, este será um momento válido para se refletir sobre a maneira como a produção artística está presente no atual movimento estudantil, visto que este não se restringe aos grupos e correntes que apoiam a própria UNE: da mesma maneira que a posição política de muitas organizações de esquerda da atualidade são contrárias ao governo, no plano cultural também não existe unanimidade, seja ela política ou estética. O fato é que a nona edição da Bienal da UNE deve ser observada por todos os militantes de esquerda, independentemente de sua filiação política. Dito isto, o que precisa ser analisado e exaustivamente debatido, é a maneira como a cultura está sendo criada, experimentada e teorizada pela esquerda brasileira. 
 Historicamente o movimento estudantil brasileiro representa um destacado celeiro de tendências estéticas para a arte contestadora. Seja na perspectiva nacionalista cuja raiz está no CPC(Centro Popular de Cultura) ou na dimensão mais vanguardista, experimental e internacionalista, cuja origem remete ao pessoal da antiarte e da contracultura. Sendo assim é vital  o que os estudantes de hoje, provenientes de diferentes origens sociais e regionais, continuem contribuindo com a vida artística brasileira. Aguardemos.


                                                                                                   Lúcia Gravas    
      

domingo, 4 de janeiro de 2015

Socialismo: arte livre

Não é nada fácil ficar de pé diante da avalanche reacionária que desce morro abaixo. Sabemos que a campanha de cretinização que o marxismo sofre não para nem nos feriados: a orquestração de informações produzidas por jornalistas e intelectuais bancados pelo capital, precisa enquanto necessidade ideológica da classe dominante, instalar-se na cabeça e no coração dos homens. Acontecimentos recentes, que nada mais são do que consequências fatídicas dos erros políticos daquilo que sobrou das burocracias socialistas, alimentam  a máquina capitalista: a reação enfurecida da Coreia do Norte contra a Sony, a repressão do governo chinês contra artistas e os aplausos que artistas e intelectuais cubanos estão dando diante da " abertura " política de Cuba. Nos três casos que rendem atualmente nos grandes veículos de comunicação do Brasil e do mundo inúmeros artigos anticomunistas, rege uma conclusão equivocada: no capitalismo a arte é livre enquanto que no socialismo a arte é dirigida e constantemente reprimida. Se os fatos culturais ocorridos na Coreia do Norte, na China e em Cuba parecem confirmar este raciocínio que tanto excita o intelectual burguês, devemos antes estabelecer 2 perguntas: será que estes países são realmente socialistas? Até que ponto o artista possui liberdade no sistema capitalista?
 Embalada pelo pronunciamento do presidente norte americano Barack Obama(ele afirmou que a Coreia do Norte não respeita a liberdade de expressão), a opinião pública internacional transforma em ícone cinematográfico(rs) a comédia hollywoodiana A Entrevista, longa metragem que ridiculariza o líder norte coreano Kim Jong-Un(o governo norte coreano chegou a fazer ameaças ao governo dos EUA). Já na China, o governo decidiu enviar artistas que não adequam-se aos " parâmetros estéticos " estabelecidos pelo Partido Comunista Chinês, para áreas rurais e assim inspirarem-se na vida campesina para criar uma arte que condiz com o regime. Este acontecimento que gera inevitavelmente comparações com a Revolução cultural(1966-1976) liderada por Mao Tsé Tung, condiz com um modelo de política cultural ainda preso ao zdanovismo, como pode ser comprovado no já célebre discurso do líder Xi Jinping, ocorrido em outubro do ano passado. Aliás, a China vive uma situação gozada: ao mesmo tempo em que existem relações capitalistas de produção, notamos ainda resquícios de um receituário estético afinado ao realismo socialista. Por fim, em Cuba, aonde a chamada abertura política mina aos poucos o governo socialista, escritores estouram rojões diante da oportunidade de um intercambio cultural com os EUA, ao mesmo tempo em que a indústria cultural ganha terreno através do investimento em multiplex. A inserção da economia capitalista pelo setor de serviços, pode trazer aos olhos  liberais autonomia para os artistas cubanos. Bem, então a associação entre socialismo e arte sempre rima com repressão? De qual modelo socialista estamos falando? Cuba, China e Coreia do Norte são expressões políticas da tese do socialismo em um só país. Este parentesco com o stalinismo gera inevitavelmente o isolamento político e a precariedade cultural. Cultuar líderes políticos e viver com fórmulas estéticas simplificadoras da expressão, são sintomas de Estados socialistas deformados. 
 Não se trata de menosprezar a contribuição política destes países: antes da Revolução chinesa de 1949, a China era constantemente saqueada pelo imperialismo e os chineses eram considerados na língua imperialista como os " homens doentes da Ásia ". Cuba antes da Revolução de 1959, sofria com a ditadura de Fugêncio Batista e era tida como um parque de diversões imperialista, no qual milionários norte americanos e mafiosos usavam e abusavam. Ambas as revoluções expulsaram estas formas de opressão de seu território nacional. Porém, ao ficarem circunscritas nos limites do nacionalismo, tais revoluções depararam-se com a pressão capitalista: os governos socialistas tornaram-se ainda mais duros e intolerantes do ponto de vista cultural e político. Após uma inicial fase de brilhantismo revolucionário, o cinema e a literatura cubana perderiam ao longo do tempo em ousadia e liberdade. Na China e por extensão na Coreia do Norte(com a qual a China possui laços políticos desde A Guerra da Coreia de 1950-53) observamos duas burocracias que incapazes de debater(sem recorrer ao uso da violência) com operários, camponeses, jovens e soldados, acabaram por importar o realismo socialista de proveniência soviética, minando a criatividade que poderia e muito colaborar com a construção do socialismo. 
O socialismo depende da arte para construir uma  nova cultura, sendo inadmissível que o artista seja um garoto de recados das medidas governamentais. Ao mesmo tempo, também é fato que a arte depende do socialismo para se desenvolver hoje:  submetido ao capital, o artista não possui autonomia para viver do seu ofício sem compactuar com os apelos comerciais da indústria cultural. A arte conivente com o sistema capitalista só pode gerar esterilidade através de espaços oficiais, prêmios, sucesso e uma somatória de vaidades que fortalecem o individualismo e a hierarquia entre aqueles que " vencem " e " perdem " no campo das artes. É preciso ressaltar que no capitalismo a liberdade pertence apenas aqueles que possuem poder econômico. Se em países como Cuba e China vários artistas não possuem simpatia pelo socialismo, isto deve-se a um modelo autoritário de socialismo, que não guarda nenhuma semelhança com a maneira como o marxismo entende as questões culturais. Portanto, uma renovação da arte depende de um novo socialismo. 


                                                                                         Afonso Machado     

Homenagem a Chico de Assis:

Retomamos nossa publicação neste início de de 2015 com uma triste notícia: a morte do ator, dramaturgo e intelectual militante Chico de Assis. Este que é um dos nomes exponenciais do teatro brasileiro da segunda metade do século passado, deixou-nos aos 81 anos de idade. Para se pensar e praticar um teatro político, para se criar uma dramaturgia revolucionária e popular, é impossível não nos remetermos ao nome de Chico de Assis. Para nós homenagear este ícone do teatro brasileiro não é uma atitude solene, mas um gesto de militância cultural.
Chico de Assis esteve presente em vários dos momentos cruciais da cultura brasileira dos anos sessenta. Seu engajamento está inscrito na sua colaboração com o Teatro de Arena e com o CPC(Centro Popular de Cultura) da UNE(União Nacional dos Estudantes). Ao lado de outros importantes nomes do teatro brasileiro como Boal e Vianninha, Chico de Assis nos lega um trabalho inspirador. Que a vida e a obra de Chico de Assis sejam estudadas e aplicadas ao teatro brasileiro dos nossos dias.


                                                                      José Ferroso/ Geraldo Vermelhão