quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A verdade social na imagem:


Como demonstrar que na crise econômica o capital é prioridade em detrimento do sofrimento do trabalhador? Uma imagem sintética, criativa e ao mesmo tempo didática é mais útil que um gráfico ou um texto recheado de conceitos que somente especialistas em economia entendem. Está certo que estes dois últimos recursos são imprescindíveis para que a população compreenda o funcionamento objetivo do capitalismo. Mas do ponto de vista da consciência de classe, a imagem traz um apelo sensível que não se descola do processo de compreensão da dinâmica capitalista. A verdade social da imagem apresenta trabalhadores de bolsos vazios e burgueses arrotando dinheiro.
  Em tempos de crise a arte é uma força vital para a esquerda revolucionária. É hora de criarmos imagens que denunciem a exploração e a miséria.


                                                                                             José Ferroso

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O rock criativo do Pink Floyd:


Décadas passam e o culto à banda de rock Pink Floyd só aumenta. O recém lançado documentário The Wall, que registra a recente turnê de Roger Waters , comprova que o repertório do Floyd atrai tanto o vovô de setenta anos quanto o guri de quinze anos. Entretanto, a admiração pela lendária banda inglesa não pode se limitar a uma relação entre consumidor e produto cultural. Tratando-se de Pink Floyd, o rock é uma manifestação artística que possui relações com a rebeldia dos anos 60/70. Seria importante se os ouvintes atuais se dessem conta desta dimensão transgressora da música feita pelo Floyd.
  Muita gente conhece algumas das obras primas do Floyd realizadas nos anos setenta, como Dark Side of the Moon (1973). Mas é fundamental que se conheça também a fase underground, lá na segunda metade dos anos sessenta. Durante a colorida explosão da contracultura londrina, a banda era sinônimo de experimentalismo. Inusitados voos musicais faziam do rock do Pink Floyd expressão da criativa  revolta juvenil contra a sociedade burguesa. Neste processo Syd Barret era o mago subversivo.


                                                                                                  Tupinik

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Criar e refletir/refletir para criar:


É um despropósito submeter a criação artística às leis de mercado. Isto é consenso para todos os militantes de esquerda. Porém, na ânsia por criar obras de arte, muitos artistas progressistas fazem muito sem pensar no que e porque. O resultado acaba sendo muitas vezes obras compradas e vendidas segundo as exigências capitalistas, neutralizando em vários momentos as implicações filosóficas do sentido libertador que a arte pode exercer. Não se trata de separar a reflexão da prática artística, mas conjuga-las dialeticamente.
 O filósofo alemão Walter Benjamin compreendeu muito bem que a palavra escrita e a imagem tornam-se  mercantilizadas na realidade do grande capital; o que dialeticamente não impede que a arte exerça um papel político progressista na direção do socialismo. Sendo assim em meio às novas realidades técnicas de criação, reprodução e circulação das obras de arte,  a militância cultural revolucionária precisa contribuir com a reflexão estética. Esta reflexão é parte do processo criativo , pois o debate marxista é um pressuposto para que não se caia em idealismo artístico: a arte em si não salva politicamente, mas as transformações políticas dependem da arte.


                                                                                     Lúcia Gravas

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Teatro, política e censura:



 Teatro, liberdade e censura são os temas centrais que ocupam mostras realizadas na cidade de São Paulo. Os eventos  Ciclo de Dramaturgia, Censura Em Cena  e Ocupação João Das Neves, promovem em centros culturais da capital paulista debates, leituras, palestras, exposições e espetáculos. A questão da repressão e das diferentes formas de censura definem o caráter destas mostras.
  Dentro da vida cultural brasileira, o teatro tem sido historicamente alvo constante de perseguição e censura. Durante a ditadura militar(1964-1985) censores estabeleciam intensa vigilância sobre a dramaturgia e as encenações teatrais dispostas a denunciar os problemas da sociedade brasileira. Portanto nada melhor do que colocar em destaque a contribuição de um diretor como João das Neves , criador do emblemático Grupo Opinião. A oportunidade para se conhecer a obra deste importante diretor brasileiro está no Itaú Cultural, que traz uma mostra sobre João. Devemos lembrar que  foi o Opinião que estabeleceu a primeira resposta política ao Golpe de 64. João das Neves, que foi perseguido e censurado pela ditadura, precisa ter o seu trabalho conhecido pela nova geração.
 Embora a censura hoje não seja sistematicamente empreendida pelo Estado, ela existe numa sociedade conservadora, na qual a iniciativa privada encarrega-se muitas vezes de censurar temas que são " indesejáveis " para o status quo.


                                                                                              Geraldo Vermelhão

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Literatura e transgressão social:


Quando divorciada da vida concreta, da língua viva e cotidiana, a literatura não passa de exercício formal. Seja pelos caminhos da prosa ou do poema(ou ainda desafiando os limites entre ambos) a literatura pode revelar formas de consciência social que pela franqueza e proximidade da vida concreta, eleva o homem para além da miserável rotina da sociedade alienada.
 Ao adotar um processo de exteriorização sobre aquilo que se passa no interior do escritor que se move concretamente no mundo, a escrita torna-se ação libertadora. A imaginação explode as cadeias mentais e liberta a nossa percepção. Portanto, os códigos de escrita deixam de ser a tradução dos interditos do mundo burguês para converter-se em transgressão, em um passeio por uma realidade mais viva(e politicamente indomável ) do ser. Os beats e os surrealistas ilustram este processo de alforria mental.


                                                                                              Marta Dinamite

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

FIT e os artistas de esquerda da Argentina:


O avanço político da classe operária na Argentina em torno da FIT(Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) possui correspondentes culturais. Músicos, atores, cineastas e outros artistas empenham-se atualmente na criação de formas artísticas que são o correlato das lutas da FIT. Um exemplo interessante disso seria uma versão da " Internacional ", símbolo musical/político do proletariado de todos os países, gravada por estes artistas. A sensibilidade dos trabalhadores é atingida em cheio por um hino que não perdeu em nada da sua envergadura política e veracidade artística.
  Torcemos pelo avanço do trabalho destes artistas que estão contribuindo com a luta da esquerda argentina no campo estético.


                                                                                              Os Independentes

Oitava edição da Mostra Luta!


 Vem aí a oitava edição da Mostra Luta! De 2 a 11 de outubro, o festival irá mostrar mais uma vez a veia da resistência cultural na cidade de Campinas. Organizada por coletivos independentes da mesma cidade, a Mostra Luta! envolverá exibição de filmes, performance, teatro, dança, exposição de charges e fotografias, etc.
  Repressão social, produção audiovisual periférica e desenhos censurados pela ditadura militar(1964-1985) são alguns dos assuntos que estarão presentes nesta edição do evento. Respondendo ao conservadorismo verificado na atual sociedade brasileira, a Mostra Luta! promove práticas artísticas/políticas que mantém acessa a chama da militância cultural.


                                                                                  Conselho Editorial Lanterna

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A criatividade é revolucionária:

As soluções estéticas da cultura estabelecida, são conservadoras pela sua própria natureza política: elas estão a serviço de fórmulas expressivas que visam castrar a própria expressão. Convertidos em espectadores passivos, em consumidores e não agentes políticos, os trabalhadores são privados da sua criatividade. Não criar e sim reproduzir os fundamentos econômicos e políticos do capitalismo, acaba por ser a missão reacionária de artistas, cineastas, atores e outros profissionais que são instrumentos da alienação social.
 O processo político que pode proporcionar  a libertação da classe operária é também aquele que estimula as faculdades criativas da mesma: artistas, cineastas e intelectuais revolucionários precisam questionar a ideologia dominante. Criar valores revolucionários a partir de formas revolucionárias compreende um necessário exercício libertário para uma nova cultura a ser gerada.


                                                                                        Os Independentes

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Arte e política cultural em Cuba:


 Não dá pra ficar derramando lágrimas com as vitórias do imperialismo norte americano sobre a isolada Cuba: a ilha está sofrendo com os erros da esquerda no século passado. Olhando para o presente, os capitalistas querem que saudemos enquanto povo conquistado a produção cultural norte americana. Em meio ao revoltante domínio ianque sobre os meios de comunicação de massa na América Latina, o dever dos militantes de esquerda(independentemente do nível de concordância e identificação política com a Revolução de cubana de 1959) é estabelecer uma reflexão crítica sobre o modelo cubano. Na esfera da cultura, existe uma trajetória artística e intelectual em Cuba que é praticamente desconhecida dentro da esquerda brasileira. Exprimindo as contradições políticas do próprio processo revolucionário cubano, esta produção deve ser estudada e protegida da barbárie imperialista no continente latino americano.
 A memória  da Revolução cubana de 1959, que em 1961 integrou-se ao bloco de países comandados pela então URSS, foi junto a necessidade de uma educação política revolucionária para as massas,  uma prioridade estabelecida por artistas revolucionários cubanos. Dentro dos organismos culturais como o Icaic(Instituto Cubano del Arte e Indústria Cinematográficos), a Casa de las Américas e a Unión de Escritores y Artistas de Cuba, havia um intenso debate cultural. Ligados ao Ministério da Educação, artistas e intelectuais divergiam quanto aos modelos estéticos: enquanto que alguns pregavam a independência frente ao realismo socialista, outros defendiam uma política cultural de tipo stalinista.
 A partir dos anos setenta, em meio a um  complexo cenário político internacional em que o governo cubano estreita seus laços com a União Soviética,  os stalinistas defensores do realismo socialista ganham força e a repressão come solta. Mas será que toda a produção artística cubana seria um reflexo soviético? Ora, mas é exatamente isso que a mídia capitalista quer que o público brasileiro pense.  Apesar de todos os erros políticos da Revolução cubana, tratou-se de uma Revolução e portanto com correspondentes culturais que não podem ser descartados. É preciso estudar e compreender que nem tudo na política cultural de Cuba foi realismo socialista.

                                                                                 Lenito/José Ferroso

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

As concepções estéticas do marxismo:

O processo de putrefação da cultura estabelecida faz com que a teorização sobre as manifestações artísticas entrem no mesmo samba. Não existindo saída artística e política fora da oposição ao modo de produção capitalista, estetas e artistas precisam voltar-se para as reflexões marxistas. O objetivo não é encontrar um teto ideológico para realizar profissões de fé. O pesamento marxista oferece uma compreensão da História que não permite surtos idealistas, escapismos de boteco, individualismo decadentista, etc. Analisando a arte enquanto parte integrante da superestrutura e logo uma atividade capaz de interferir na base material da sociedade, o pensamento marxista não molda a arte mas fortalece intelectualmente o artista que percebe as pesadas correntes que aprisionam o seu voo libertário.
 Haveria um único caminho estético para o marxismo? Maiakóvski, Brecht, Lukács, Breton, Sartre, Pedrosa, Glauber, Godard, Benjamin, Marcuse, Trotski, Meyerhold, Gorki, Eisenstein... Existem muitos caminhos para a as reflexões estéticas marxistas. Apesar de suas diferenças(que são um pressuposto saudável para o debate) estas teorias são indispensáveis para o artista rebelde.


                                                                                                 Geraldo Vermelhão  

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Uma referência do Cinema Marginal:


O cineasta ítalo brasileiro Andrea Tonacci é um nome fundamental do cinema brasileiro. Seu mais recente longa Já Visto Jamais Visto vem chamando a atenção para o conjunto de sua obra. Sob o ponto de vista da contestação social, da crítica e da oposição ao status quo, Tonacci nos brinda com filmes seminais dentro do chamado Cinema Marginal dos anos 60/70. Neste movimento que radicalizou a proposta do cinema de autor na direção do underground, da contracultura, temos além de Sganzerla e Bressane , autores revolucionários como Andrea Tonacci. Bang Bang , de 1970, é uma aula de experimentalismo e de questionamento das convenções sociais e cinematográficas. Uma aventura estética, altamente anárquica e debochada, que hoje surte um efeito devastador sobre o nosso bem comportado cinema brasileiro.
 Definitivamente a obra de Andrea Tonacci, e em especial sua contribuição no movimento do Cinema Marginal, envolve um conjunto de lições estéticas libertárias. Quem faz cinema no Brasil precisa assistir aos filmes deste importante cineasta.


                                                                                                 Os Independentes

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Zé Lins e a luta de classes no engenho:


A literatura de José Lins do Rego condensou, com um realismo brilhante e preciso, as lutas e as contradições sociais do nordeste. Sobretudo seus romances da década de trinta calcados na decadência da " sociedade açucareira " , revelam a luta de classes nos engenhos da região da zona da mata. Zé Lins fez isso sem precisar recorrer a um vocabulário politizante(o escritor não fez da literatura uma mera desculpa para inserir de modo artificial conceitos marxistas). A miséria enquanto aspecto central da sociedade brasileira, surge em romances como Menino de Engenho(1932) como um conjunto de fatos perturbadores, os quais incomodam o leitor politicamente acomodado.
  Enquanto que a sociologia de Gilberto Freyre(intelectual que foi muito influente na vida de Zé Lins) não saia de dentro da Casa Grande, alguns romancistas engajados como Jorge Amado caíram nas décadas de 30 e 40 no panfleto previsível.  Zé Lins foi um escritor que relatou os dramas do nordeste sem cair em mera propaganda política. Este romancista presta um grande serviço às reflexões estéticas marxistas.


                                                                                            Lúcia Gravas

terça-feira, 15 de setembro de 2015

CPC: Revolucionário ou zdanovista?


O Centro Popular de Cultura criado em 1961, vinculado à UNE, envolveu uma concepção artística própria dos anos do governo Jango. As reformas de base e toda aquela atmosfera esquerdista permitiu a emergência daquilo que o próprio CPC classificava como " arte popular revolucionária ". Pautada pelo nacionalismo, uma produção artística de protesto empenhava-se na compreensão da arte popular enquanto arte que expressa a consciência revolucionária do proletariado.
 De que maneira as reflexões estéticas marxistas em torno de Carlos Estevam, podem ajudar na orientação dos artistas militantes de hoje em dia? Aquela arte combativa do janguismo, calada pelo Golpe de 64, seria uma saída para a torre de marfim? Haveria influências nocivas do realismo socialista na estética do CPC? A resposta cultural revolucionária é necessariamente nacionalista? Será que a arte popular revolucionária supera a passividade do povo e contribui para a sua consciência política? Como avaliar o legado do CPC após o avalanche de manifestações e movimentos como o tropicalismo e o punk? Estas perguntas ainda não foram suficientemente debatidas...


                                                                                         Lenito/José Ferroso

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Filmes que assustam o burguês:


Hoje em dia um burguês não gosta de ser reconhecido como membro da burguesia. Isto se explica ideologicamente, já que ocultando a existência e os conflitos históricos entre as classes sociais, garante-se que as coisas continuem no pé em que estão. Mas para fazer as ovelhinhas berrarem de medo e revelarem sua identidade, o cinema é um meio estratégico. Enquanto espelho cultural o cinema pode revelar os mais profundos pesadelos, as mais terríveis lembranças soterradas pelo inconsciente e os mais brutais mecanismos de opressão social.
  A agressividade estética de um filme, se elaborada a partir de um espírito livre e contestador, possui um alcance político altamente subversivo. Tão importante quanto filmes didáticos capazes de revelar(sem demagogia) os conflitos de classe, são filmes que tiram o chão da burguesia(que retiram as suas certezas morais). Luis Buñuel, por exemplo, fez isso melhor do que ninguém.


                                                                                            Marta Dinamite

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A participação do espectador na obra de arte:


A participação do espectador que interage com a obra de arte, é uma ideia que anda banalizada. O atual bom mocismo e a síndrome de playground da classe média não deixam ver o que existe de revolucionário na arte participativa: obras estruturadas a partir de formas geométricas, como faziam Lygia Clark e Hélio Oiticica nos anos sessenta, trazem pelo caráter tridimensional uma relação criativa entre artista e espectador.  O significado da obra não está dado, pois ele é aberto e depende da participação. Ao exigir a ação do espectador sobre a obra, mostra-se a necessidade do engajamento físico e psicológico. É o princípio da própria participação política, pois o espectador torna-se agente, sujeito das suas ações.
 A manutenção de uma sociedade que precisa controlar os indivíduos a partir da compra e venda de mercadorias, que precisa perpetuar a divisão social do trabalho, não pode consentir com o pleno desenvolvimento de uma arte participativa. É mais fácil para os capitalistas transformar tudo em uma espécie de " diversão exótica ". Embora não possamos copiar estratégias estéticas do neoconcretismo, podemos ao menos toma-las como princípio criativo para agir sobre a sensibilidade de espectadores. Este é um passo importante no combate ao mundo alienado.

                                       
                                                                                        Os Independentes  

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A arte do subdesenvolvimento:

Se a guerra fria é coisa do passado, o conceito de subdesenvolvimento ainda aplica-se claramente à realidade econômica e social do Brasil. Com a crise atual borrando a maquiagem da denominação " emergente ", a questão que nos é colocada é: a arte de combate feita no Brasil diz respeito ao chamado " terceiro mundo "? Pode não existir mais o " segundo mundo ", ou seja o bloco de países formados por burocracias que se autodenominavam " socialistas ", mas o fato é que ainda existem os países capitalistas pobres. América Latina, África e alguns países da Ásia possuem a miséria e o saque  imperialista enquanto realidades em comum. Qual arte condiz com estas realidades históricas/geográficas?
 A arte dos países explorados precisa ser necessariamente uma arte rebelada, capaz de unificar as tradições populares e apontar na direção da independência política. Nada de ficar imitando padrões europeus(ainda que sejam de " vanguarda "). As estéticas revolucionárias deverão nascer em solo explorado.


                                                                                    José Ferroso/Lúcia Gravas

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Fúria musical:



 Como o protesto social está enraizado na música? A linguagem musical bate através de cada nota no corpo do ouvinte. Os efeitos sensíveis  destas batidas alteram, a partir do que está sendo cantado/tocado, a compreensão do real . Logo a música é reveladora das contradições políticas. Seja na proposta acústica, seja na proposta elétrica(ou ainda eletrônica) a música em seu efeito político progressista depende de sinceridade e fúria. Especificamente a fúria é a base da canção que explode nos ouvidos e estimula o inconformismo político.
 Uma música enfurecida está longe de ser um mero fenômeno adolescente. No caso do punk, por exemplo, são recorrentes entre seus críticos tentativas de desqualificar a revolta rítmica através da acusação de " muita espinha e pouca música ". Se a energia e a revolta são qualidades de adolescentes que não aceitam " o mundo adulto '(ou seja, a porta de entrada da cultura dominante), então que a fúria musical esteja com os garotos.


                                                                                                    Tupinik

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Teatro livre e popular:

Engana-se quem acha que um teatro experimental, antinaturalista e politizado, seja coisa de classe média. Pelo contrário: a modernização da linguagem teatral feita por gente como Meyerhold, Maiakóvski, Piscator, Brecht e Oswald baseia-se no gosto popular, que rompe com as estruturas convencionais da representação no palco. As formas populares de diversão teatral passam longe do teatrão e por isso reivindicam no seu molho estético o protesto político e a sátira social.
 Um grupo de teatro embasado na crença de que a arte participa do esclarecimento quanto aos problemas concretos da realidade brasileira, deve encaminhar-se para os locais aonde o povo está e não ficar sonhando com grandes espetáculos em espaços institucionais(economicamente a ideia do teatrão fica ainda mais complicada devido à crise em que as preocupações culturais para governantes vão para o fim da lista de prioridades).  É preciso assumir um teatro livre e popular se quisermos avançar esteticamente/politicamente.


                                                                          Geraldo Vermelhão

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A necessidade das inquietações estéticas:


 Por incrível que pareça a caretice não é monopólio da direita. De que adianta um espetador ser de esquerda se este age da maneira mais conservadora possível diante de uma obra de arte? Qual é o sentido da obra de um artista politicamente progressista se este não é aberto para a pesquisa estética? O problema é que enquanto estas contradições não se resolvem, o espectador reacionário ganha um espaço cada vez maior: o conservadorismo político no Brasil aumenta o seu volume quando a cultura é um prolongamento de esquemas previsíveis e bem comportados.
 Se quisermos contribuir com a abertura mental que pode despertar uma sensibilidade de esquerda, devemos então mostrar que as inquietações estéticas trabalham para a emancipação humana. A arte, que em si não salva de ninguém de nada, é uma força sem a qual as transformações políticas seriam incompletas. Estar contra o conservadorismo político e contra a caretice significa lutar contra o regime capitalista. Hélio Oiticica que o diga!


                                                                                                Marta Dinamite

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A arte que transforma o cotidiano:


 Quem pensa a arte sob o ponto de vista da contemplação perdeu o bonde da História há muito tempo. Aos trabalhadores não interessa o culto vazio das formas, o fetichismo que estetiza e sufoca o sentido social da obra de arte. Sob o ponto de vista socialista a arte deve ser prática, acessível, ágil, sintética e interessada nos problemas da vida concreta. Abaixo o azul celeste e os delírios pequeno burgueses! O sentido político da arte está no cotidiano do proletariado: aonde ele vive, trabalha e se diverte. Obras funcionais devem despertar uma profunda transformação da percepção humana.


                                                                                                      José Ferroso

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A contribuição poética de Breton:


 André Breton é um modelo de intelectual que faz falta na atualidade. Ele foi expressão de uma geração rebelde que não se preocupava com certificados acadêmicos e ideológicos mas com uma aventura espiritual capaz de arrancar o homem da sua condição de servo da razão burguesa. Fundador e principal cabeça do movimento surrealista, Breton comprovou que a poesia é mais ampla(e mais subversiva) do que qualquer crivo estético ou convenção literária. O poeta é entendido enquanto revolucionário que não se submete aos ditames políticos em arte(ainda que estes possam ser revolucionários). Para o surrealismo a poesia é uma prática de reencantamento do mundo. É uma ação  criativa que torna-se um pressuposto da própria Revolução política.
 Nossa intelectualidade provinciana, narcisista e entregue aos modismos, não leu com atenção a obra de André Breton. Existem poucos títulos do escritor francês nas livrarias. O prejuízo espiritual disto envolve esteticismo, relativismo e o fortalecimento das couraças. Sem envergadura em suas ideias, artistas e poetas seguem com suas confusões políticas e sua ignorância quanto às possibilidades libertárias dos meios de expressão que cada um dispõe. Exprimindo uma ideia revolucionária da poesia, do amor e da liberdade o surrealismo, tal como Breton o concebe, atua pela emancipação humana. Breton precisa ser lido e debatido no Brasil.


                                                                                             Os Independentes

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Cinema latino americano é cinema político:


Intelectuais e cineastas culturalistas insistem em analisar (e estimular) o cinema dos países latino americanos unicamente pelo dado cultural. É como se os costumes, valores e práticas de um povo fossem retratados num filme como meros detalhes folclóricos. Estes intelectuais e cineastas despolitizados desconsideram as implicações econômicas que condicionam estas culturas e o cinema que as representa. Alvo do imperialismo norte americano, a América Latina não pode produzir um cinema de tipo relativista: a dor, a exploração e as heranças desumanas das ditaduras, são elementos que coexistem com as peculiaridades culturais dos povos.
 Um cinema latino americano não resolve o seu problema recebendo apoio de poderosas empresas capitalistas para a produção e realização de filmes. Um cinema latino americano, político devido as suas obvias necessidades de emancipação, existe em função de um conjunto de práticas revolucionárias. É deste caldeirão rebelde que nasce e se desenvolve um pensamento cinematográfico verdadeiramente revolucionário. Aprendam, por exemplo, com Glauber Rocha.


                                                                                                       Lenito

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Romance proletário?


O romance social é uma importante estratégia literária para se discutir os problemas sociais gerados no interior do monstro capitalista. Mas um passo além no combate literário estaria na criação de um romance caracterizado não apenas pela miséria do proletariado, mas por narrativas que tornam-se expressões políticas diretas dos seus interesses. O termo romance proletário, popularizado sobretudo durante a depressão econômica dos anos trinta, seria para muitos escritores engajados a superação do mero retrato social na direção de obras que abordam claramente a luta de classes. Porém, seria esta uma estratégia historicamente correta? Haveria a possibilidade de uma arte ou uma literatura proletária? Até que ponto a tentativa de provocar o choque e informar politicamente o leitor não poderia descambar para a mera propaganda rasteira?
 Diante da atual produção literária em torno do chamado romance periférico e do romance prisional, o debate em torno de um suposto romance proletário se faz presente neste início de século XXI. É preciso que este debate se intensifique se quisermos extrair juízos literários que contribuam com a luta anticapitalista.


                                                                                         Geraldo Vermelhão