terça-feira, 31 de março de 2015

Possibilidades de engajamento na música popular:

Afirmar que a chamada música popular brasileira possui uma variedade de estilos e ritmos, é algo que até o burguês mais desatento é capaz de dizer. Mas quem disse que esta diversidade rítmica nasceu para o uso exclusivo do mercado? Por que a canção só é pensada e executada como mercadoria? Pois é, este nível de extrema alienação da canção popular, impede com que a música seja valorizada a partir daquilo que ela realmente é: música
  Quando o chamado homem caipira reúne-se com seus amigos nas áreas rurais, para noites de viola, sanfona e cachaça(em espetáculos enfeitados por sons de grilos e por voos de vaga-lumes), a música é uma experiência rica e popular em si mesma. O mesmo podemos dizer em relação às rodas de samba nos bairros operários. Outros inúmeros exemplos são encontrados na vida musical brasileira: as festas populares  ao som do forró e do baião, os palcos mal iluminados das pequenas casas aonde o rock come solto, as reuniões de jovens que se encontram para ouvir rap e funk, etc. Pois bem, todas estas vivências musicais não podem ser empobrecidas pelos jogos do capital. A diversidade musical brasileira precisa engajar-se numa luta política que liberte os trabalhadores e a música da escravidão capitalista.


                                                                                                               Tupinik 

segunda-feira, 30 de março de 2015

Allen Ginsberg: o poema é um blues

É comum verificarmos, entre boa parte dos poetas atuais, a necessidade de uma escrita sem algemas. Ou seja, o relato em que os aspectos íntimos e políticos do poeta se confundem não comporta o formalismo, mas exige versos livres. Esta consciência literária encontra seu amparo na poesia beat, sobretudo no trabalho do poeta norte americano Allen Ginsberg. Com a mesma facilidade com que descolamos um exemplar de Uivo(1956) ou A Queda da América(1979), e nos deslocamos diretamente para um bar ou uma praça para ler os versos deste que é o poeta libertário mais controvertido do pós-guerra, podemos escrever um poema sobre estas e outras experiências. Quer dizer, a poesia beat é expressão orgânica dos ritmos vitais, do cotidiano, das ruas, daquilo que observamos, lemos, cantamos, etc e tal. 
 Ginsberg nos mostra que o poema é um canto enlouquecido, aonde cabe a um só tempo o delírio, o erotismo  e a crítica social. Enquanto que alguns beats se perdiam de forma individualista em suas estradas interiores, Ginsberg fez da poesia uma forma de participação(e de contestação). Para ele a poesia é como um blues, em que a dor, a solidão e o desespero são exteriorizados numa estonteante beleza que está à margem da cultura estabelecida. Esta condição de escritor marginal é o que permite nos dirigirmos não para o abismo sem nexo mas para a revolta contra as formas de opressão.


                                                                                            Os Independentes

sexta-feira, 27 de março de 2015

Cinema Soviético no MIS Campinas:

Começa amanhã(dia 28/03) na sessão das 16 h do Museu da Imagem e do Som de Campinas, o ciclo de CINEMA SOVIÉTICO. Iniciaremos o evento com o filme  TEMPESTADE SOBRE A ÁSIA(1926) de Pudovkin. Compareçam!


                                                                                              Conselho Editorial Lanterna

quinta-feira, 26 de março de 2015

Porque os artistas devem ler Marx:

Se um artista se quer revolucionário, sua arte deve conceber uma fusão progressista entre forma e conteúdo, e não ser mero formalismo. Por que ler Marx? Existem várias razões:

1- Para não cair na conversa fiada da " arte pela arte "

2- Para não cair na lábia do realismo socialista, que de marxista não tem nada

3- Para não ser preza fácil do relativismo estético dos pós-modernos

4- Para compreender que enquanto existir capital, a obra de arte e o homem continuarão alienados

5- Para comprovar que o artista é um trabalhador

6- Para se ter a convicção de que o artista deve tornar-se um trabalhador revolucionário da cultura

7- Para compreender que a arte não pode resolver a sua crise sozinha: a libertação da arte depende da revolução socialista



                                                                                                  Os Independentes

quarta-feira, 25 de março de 2015

Brecht na ordem do dia:

Dizer que Bertolt Brecht é atual, é dizer pouco: o teatrólogo alemão ainda fornece a munição da vez na reflexão crítica sobre a sociedade capitalista. Existem inúmeros exemplos de grupos teatrais que adaptam peças de Brecht hoje em dia no Brasil e no mundo. Um exemplo bacana encontra-se na adaptação do texto " A Exceção e a Regra ", realizada pela CIA. Estável de Teatro(cabe salientar que o espetáculo rolou na parada da estação de trem Franco da Rocha, em São Paulo). O teatro dialético é esteticamente atual na medida em que ele encena, traduz e questiona as contradições do sistema estabelecido.


                                                                                                           Lenito

terça-feira, 24 de março de 2015

A utilidade da arte:

Só não se pergunta sobre a utilidade política da arte o artista alienado. Ninguém pode deixar de observar na sociedade de classes o significado político que a imagem encerra: seja para dominar ou libertar, a arte exprime sempre uma posição política frente a um determinado modo de produção. Seria este um raciocínio sectário e utilitarista? Evidentemente que a necessidade da criação artística abrange também questões que não estão diretamente ligadas à luta de classes. Porém, só poderemos viver esteticamente, experimentando a beleza desinteressada das coisas, quando o capital for destruído. Até lá, o artista não pode abandonar a sua responsabilidade política para contribuir com uma sensibilidade revolucionária.


                                                                                         Geraldo Vermelhão

segunda-feira, 23 de março de 2015

Literatura e cinema brasileiro:

Adaptações de textos literários são estratégias recorrentes entre diretores ao longo da História do cinema. Estando claro que o cineasta é um intérprete da obra literária, esta não pode subjugar os elementos que são específicos da linguagem cinematográfica: o filme não está preso ao texto, sendo que a montagem flui a partir da palavra escrita. Tratando-se das relações entre o cinema e a literatura no Brasil, encontramos exemplos que resultam tanto em obras revolucionárias quanto em obras conservadoras. Levando em conta que tanto o escritor quanto o cineastas são autores, é indispensável dizer que um produto progressista decorre da posição política de esquerda que ambos podem e devem assumir.
 Se tomarmos Graciliano Ramos como exemplo, não se pode considerar a hipótese de um cineasta reacionário realizar a adaptação de algum dos romances do escritor alagoano. Nelson Pereira dos Santos e Leon Hirszman, por exemplo,  conseguiram adaptar de modo magistral o universo estético de Graciliano porque ambos os cineastas revelam uma posição política revolucionária. No Brasil o casamento entre cinema e literatura depende de uma motivação política transformadora.


                                                                                                            José Ferroso

domingo, 22 de março de 2015

Bob Dylan: 50 anos de Bringing It All Back Home

Há exatos 50 anos ocorreu uma redefinição radical da música de protesto. O álbum Bringing It All Back Home, de Bob Dylan, mostrou que o conteúdo de crítica social expresso na folk song era perfeitamente compatível com a eletricidade do rock. As 11 faixas do disco demonstram que crítica e inteligência são fatores que dão brilho e intensidade ao rock e a toda e qualquer forma de música popular. A poesia de Dylan estrutura-se agora em imagens inovadoras que além da gaita e do violão não dispensa a guitarra, o baixo e a bateria. Por maior que tenha sido a hostilidade que o compositor recebeu por parte de puristas, é inegável que Dylan traçava um caminho contendo os componentes essenciais da revolução estética que tomaria a música durante a segunda metade dos anos sessenta.
 É preciso evidentemente considerar que a mudança estética em Bob Dylan envolve uma estratégia que evita guetos musicais. Em seus diálogos com os Beatles, o cantor percebeu o potencial comunicativo do rock. Portando letras complexas, que tratam tanto de problemas sociais quanto de oníricas reflexões pessoais, Dylan demonstra naquele momento de sua carreira um amadurecimento que vai de encontro com o rock. Curiosamente, o contrário também se deu: se Dylan decide pegar em guitarras, paralelamente rockeiros percebem que era preciso dizer algo a mais. Os Beatles com o álbum  Rubber Soul(1965) e os Rolling Stones com o álbum Aftermath(1966) revelam que o amadurecimento das letras de rock foi uma influência direta de Bob Dylan.    Bringing It All Back Home não envelheceu em nada. Canções como Mr. Tambourine Man e Subterranean Homesick Blues são pérolas musicais que não perderam a sua força expressiva.


                                                                                                      Tupinik

sexta-feira, 20 de março de 2015

Artaud no Teatro Oficina :

Imperdível: a galera do Teatro Oficina estreia amanhã(23/03) uma encenação do texto " Pra Dar um Fim No Juízo de deus ", do poeta  e teatrólogo Antonin Artaud. É hora de recuperar os poderes do corpo na criação de uma expressão que nos liberte dos julgamentos burgueses. Teatro da crueldade!


                                                                              Marta Dinamite

quinta-feira, 19 de março de 2015

70 anos de Elis Regina:

Impossível pensar a moderna música popular brasileira sem o canto de Elis Regina. A cantora brasileira, que completaria 70 anos, é inquestionavelmente uma das presenças mais fortes e controvertidas da nossa MPB. Elis foi uma interprete que tecnicamente arrastava quarteirões com sua voz: o samba teve uma reviravolta visceral com Elis Regina.
 A imagem de Eis Regina não se separa dos explosivos festivais da canção durante os anos sessenta. Desde que impressionou o público com a música " Arrastão " em 1965, Elis despontou como uma presença artística em que canto e interpretação arrebatavam o público no rádio e principalmente na televisão. Ao lado de Nara Leão, Maria Bethânia e Gal Costa, Elis está entre as cantoras mais importantes da nossa música.Sua voz deverá ecoar por todo este século XXI.


                                                                                                  Lúcia Gravas

quarta-feira, 18 de março de 2015

Teatro de brigada:

Chega desta lenga lenga  de achar que teatro é luxo. O teatro é o instrumento mais violento para se chegar a um questionamento profundo das bases da civilização burguesa. Acabemos de uma vez por todas com esta falsa ideia de entretenimento! Ir ao teatro deve ser uma experiência que una em um único plano a tribuna e o ritual. É jogar os bichos pra fora, libertar o corpo e questionar a organização do Estado capitalista.
  Ir ao teatro deve ser uma experiência transformadora do ser. Suprimindo palco e vida os indivíduos vislumbram possibilidades para uma libertação total do ser.


                                                                                                  Marta Dinamite 

terça-feira, 17 de março de 2015

Em breve: " CineMarx "(série)

Sob o intuído de estimular o debate estético entre militantes de esquerda, nosso blog irá promover uma série de vídeos que destacam as relações progressistas entre o cinema e o pensamento marxista. Para se compreender a maneira como a linguagem cinematográfica participa da luta política e ao mesmo tempo apresenta uma visão de mundo embasada no materialismo dialético, serão enfatizadas discussões que tem por eixo o próprio papel que as preocupações estéticas desempenham no interior do marxismo. 
 Um amplo panorama de autores e artistas diretamente ou indiretamente ligados ao marxismo, serão comentados e debatidos: das menções de Marx e Engels sobre arte e literatura, chega-se a autores como Eisenstein, Bogdanov, Trotski, Brecht, Lukács, Bloch, Benjamin, Breton, Marcuse, Gramsci e vários outros. O cinema será a linguagem privilegiada para que se observe a fecundidade estética que nasce das ideias de Marx. Aguardem.



                                                                                   Conselho Editorial Lanterna 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Coltrane ou o " spiritual jazz ":

John Coltrane é dono de uma obra que elevou ao máximo a liberdade contida no jazz. O saxofonista norte americano  extraia as mais diferenciadas possibilidades sonoras do instrumento: experimentando, experimentando e experimentando, Coltrane nos deixa um legado estético que coloca o jazz num patamar de liberdade espiritual. Nos 50 anos de  " A Love Supreme ", inquestionavelmente um dos álbuns mais emblemáticos da História do jazz, é preciso aprender com um estilo musical cujo fraseado comunica-se intensamente até mesmo com o ouvinte não familiarizado com o jazz.
  A música de John Coltrane é uma necessidade de reeducação da sensibilidade musical. Quando os ruídos mais desprovidos de emoção, de humanidade, grudam feito chiclete mascado nos nossos ouvidos massacrados pelos jingles do capital, o som do jazz pode fazer com que os sentidos humanos percebam a beleza do espírito livre que sopra num saxofone. Lembrando que a burguesia é uma classe hostil à liberdade do espírito(ainda que ela apregoe o contrário), o jazz pode ser uma alavanca para o surgimento de uma personalidade criadora e não passiva. Ao lado de gente como Charlie Parker e Miles Davis, Coltrane é um pilar da música moderna.


                                                                                                               Tupinik   
 

sexta-feira, 13 de março de 2015

Arte, literatura e a realidade concreta:

Não são poucos os artistas e teóricos que procuram reprimir as implicações políticas da criação artística. Em tempos de conservadorismo político, cabe insistir na denúncia de teorias que  dissociam a estética da revolução social. É comum encontrarmos intelectuais que fazem uso da arte para destruir as lições filosóficas do materialismo dialético. Geralmente o corpo é tomado enquanto ponto de partida individualista para fragmentar a consciência: não haveria uma realidade material pré existente, mas tão somente um exercício relativista, no qual a percepção seria um elemento flutuante. Sendo assim, o olhar político por meio da criação artística seria um ato que nasce da percepção dissociada das determinações econômicas e políticas. 
 Bem, que diabos significa dizer que o escritor e o artista possuem tão somente uma percepção particular da realidade concreta? Significa dizer que não existe realidade mas apenas discursos, apreensões sensíveis, que nunca poderão chegar a um parecer objetivo sobre a História. Contra esta visão asquerosa que serve aos propósitos políticos da classe dominante, devemos defender uma conduta artística e literária na qual a dimensão estética reage contra as determinações do modo de produção capitalista. Se o corpo é naturalmente o ponto de partida da realização estética, não se pode negligenciar que o trabalho e toda a História da humanidade nada mais são do que extensões do próprio corpo. A arte nasce do corpo e este não está fora de um determinado modo de produção.  Quem quiser aventurar-se pelas letras e pelas artes sem tornar-se uma borboleta que flutua inutilmente sobre as consciências, precisa conhecer as lições revolucionárias do marxismo. A criação literária tem muito a ganhar com as análises de Engels sobre o papel que a literatura ocupa na História. 


                                                                                                        Lenito

quinta-feira, 12 de março de 2015

Rock e as novas gerações

O rock deixou de ser um simples fenômeno fonográfico(como fora no século passado), para tornar-se uma espécie de experiência musical entre diferentes gerações. Enquanto que clássicos do rock são embalados em luxuosas mercadorias, nota-se uma proliferação de bandas dos mais variados estilos e tendências(algumas excelentes, outras repetitivas e uma parte fabricada) e um esvaziamento do caráter político contestador. Diante da ameaça nefasta do chamado rock neoconservador, nunca é demais insistir (como tenho feito aqui), nas qualidades transgressoras que os rockeiros fixaram na História.
 É muito bom ,sob o ponto de vista musical, observar garotas e garotos que reconhecem o valor artístico e a importância histórica de bandas como os Beatles. Entretanto, a consagração de uma banda de rock não pode jamais apagar o significado histórico que ela possui no contexto em que ela surgiu: canções podem ser reproduzidas a rodo nos mais variados suportes digitais, mas será que o ouvinte tem o alcance da dimensão transgressora que estas exerceram em sua época? Se o rock atravessa gerações, não podemos perder de vista que o seu significado é inseparável de um questionamento profundo sobre a cultura estabelecida. A identificação com a postura rebelde do rock é expressão de um sentimento de libertação: chocar-se com a sociedade burguesa é um dado inerente a este processo político e artístico.



                                                                                                     Tupinik    

quarta-feira, 11 de março de 2015

Clássicos da literatura proletária:

A formação literária neste país colônia é tão chinfrim, que títulos fundamentais da literatura brasileira andam esgotados e muito dificilmente conseguimos descolar algum exemplar em bibliotecas. Por outro lado, como são abundantes aquelas obras em que o autor não tem absolutamente nada a dizer sobre o mundo em que vivemos. Não me venham com essa de que romances sociais afinados ao compromisso político transformador, não atendem hoje às leis da oferta e da procura. Contra este argumento de tipo liberal, temos que levar em conta que o sistema não pode dar espaço suficiente para romances que condenam a sociedade burguesa. Entretanto, se formarmos leitores críticos, a literatura revolucionária torna-se uma exigência cultural.
 O atual escritor faminto por técnicas literárias, que lhe permitam traçar retratos críticos da realidade brasileira, precisa pesquisar romances que não são nada óbvios. Os Corumbas(1933) de Amando Fontes e Navios Iluminados (1937) de Ranulfo Prata, estão entre os inúmeros exemplos de obras fundamentais que nos ajudam no estudo da literatura proletária feita no Brasil. É preciso que a juventude devore com vontade os romances que denunciam as engrenagens do capital. 


                                                                                                Lúcia Gravas 

terça-feira, 10 de março de 2015

Exposição de Pablo Picasso:

Uma das mais importantes exposições de 2015 traz, na cidade de São Paulo, a trajetória do artista espanhol Pablo Picasso. " Picasso e a Modernidade Espanhola " revela o processo de modernização da arte na Espanha. A mostra que abre no próximo dia 25 de março no CCBB(Centro Cultural Banco do Brasil) enfatiza o papel de Picasso na profunda transformação estética instaurada pela arte de vanguarda. Da violação das regras de representação do real (verificada no cubismo) e chegando ao processo de liberação do inconsciente (evidenciado pelo surrealismo), Picasso é inquestionavelmente um dos nomes que estabelece com atrevimento e pioneirismo as rupturas históricas da arte moderna.
 Sob o ponto de vista da História da arte, esta exposição ajuda o visitante a compreender as transformações radicais pelas quais a arte passou durante a primeira metade do século XX. A pintura de Picasso ajudou a moldar a sensibilidade do homem moderno. Tomando o cubismo como exemplo, observa-se a redefinição do mundo através de figuras geométricas; isto não é pouco: os referenciais clássicos perderam completamente o fôlego diante das técnicas artísticas de vanguarda. Enterrando as tradições burguesas da arte, Picasso foi uma das principais cabeças das revoluções estéticas inauguradas pela arte moderna.


                                                                                              Geraldo Vermelhão 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Atualidade de Benjamin Péret:

Não é a primeira vez(e pelo jeito não será a última) que destacamos a importância revolucionária do poeta francês Benjamin Péret. Em outras ocasiões,  neste mesmo periódico, já enfatizamos que Péret é um dos colaboradores essenciais para a ruína da civilização burguesa. Só no Brasil, por exemplo, o poeta foi uma figura seminal na introdução das ideias surrealistas e na organização da Oposição Internacional de Esquerda.  Mas ainda assim, apesar dos apelos de vários militantes, o nome deste poeta permanece desconhecido mesmo entre militantes de esquerda. 
 Que o leitor pequeno burguês( fã de prêmios, bajulações e títulos acadêmicos) desconheça Péret, ainda vá lá: o intelectual que opta pela classe dominante tende a diminuir o alcance transgressor do surrealismo e suas relações progressistas com o comunismo. Este tipo de leitor acaba por temer e repudiar o fervor libertário de autores como Benjamin Péret. Mas que um militante (inclusive trotskista!) não faça a menor ideia de quem seja o autor que fez pouco caso da forma literária do poema para vivenciar seus aspectos mais subversivos, é algo difícil de desculpar. Continuaremos a utilizar este espaço para divulgar Péret e todos os riscos libertadores da poesia.


                                                                                             Os Independentes  

sexta-feira, 6 de março de 2015

Cinema e marxismo em Leon Hirszman:

Deveria-se escrever mais sobre o cineasta brasileiro Leon Hirszman. Digo mais: é preciso assistir e conhecer a fundo os filmes deste que é o autor mais politicamente contundente do movimento do Cinema Novo. Além de ter sido um dos fundadores do CPC(Centro Popular de Cultura), Leon foi um cara que soube aplicar criticamente os ensinamentos do materialismo dialético no plano da linguagem cinematográfica.
 " Filiando-se " desde muito jovem ao método eisensteineano, Leon Hirszman ajudou a modernizar e politizar o cinema brasileiro. Sua contribuição é fecunda e abrange filmes emblemáticos como Pedreira de São Diogo, A Falecida, O ABC Da Greve e Eles Não Usam Black Tie. A principal razão para insistir na importância cinematográfica de Leon, é que seus filmes podem fazer com que muitos jovens cineastas tomem vergonha na cara na hora de filmar: é a realidade do proletariado, sujeito histórico que pode levar o capitalismo para o chão, que Leon decidiu filmar; é disto que o cinema brasileiro atual necessita, e não do lixo comercial que faz a classe média lamber os dedos e os olhares.


                                                                                                          José Ferroso

A situação do teatro russo:

Impossível passar pelas esquinas do teatro moderno sem dar uma parada pelo território russo. O país que assistiu a vitoriosa Revolução de 1917, lamentavelmente corrompida pela burocracia, ainda dá as cartas quando o assunto é teatro. A presença do diretor Yuri Butusov na Mostra Internacional de Teatro em São Paulo com a peça A Gaivota, de Tchékhov, revela a força e a beleza do teatro russo atual. Butusov vem apresentando em seus trabalhos o clima politicamente asfixiante que o teatro russo vive: é um momento político delicado envolvendo os conflitos entre Rússia e Ucrânia, além do autoritarismo em solo russo.
 O teatro russo apresenta  heranças extraordinárias e também trágicas. De nossa parte, torcemos para que diretores e atores russos saibam combater tanto o autoritarismo do governo atual  quanto o próprio imperialismo norte americano.  Num país que brindou o teatro moderno com gente como Meyerhold e Maiakóvski, é indispensável que a arte teatral encarne não apenas um valor crítico mas uma posição política revolucionária.


                                                                                                  Lenito 

quinta-feira, 5 de março de 2015

A poesia contra a barbárie:

É função da poesia não aceitar as formas de barbárie. Num mundo em que a beleza está impedida de existir, o poeta realiza a operação mágica que reivindica outra realidade: a revolução é o destino político natural da poesia. De acordo com esta premissa, é sempre oportuno lembrarmo-nos de poetas corajosos que mesmo quando o ambiente político torna-se hostil, fazem questão de impor a armadura dos seus versos na defesa da libertação do homem.
 A imagem de Lorca sendo morto pelos fascistas durante a Guerra Civil Espanhola(1936-1939) é um exemplo de que a morte física não pode matar um poeta. Isto não é consolo forrado de senso comum: os versos impressos ou jogados no ar são fatos sensíveis que nenhum regime que sustenta os privilégios da burguesia, pode reprimir. A velocidade da poesia ultrapassa qualquer medida política autoritária, por uma razão muito simples: o desejo de emancipação humana, que a poesia encarna, é incontrolável.


                                                                          Lúcia Gravas/Geraldo Vermelhão 

quarta-feira, 4 de março de 2015

O lado oculto do rock:

A vinda dos veteranos da banda The Sonics ao Brasil, levanta mais uma vez a necessidade de revermos a História do rock. Com uma única apresentação prevista em São Paulo, The Sonics é um mito do garage rock. O fato do som dos caras influenciar bandas recentes como The Hives, leva-nos a uma constatação histórica: cara, como existem bandas e mais bandas que são excelentes e que apenas muito recentemente começaram a fazer parte de uma espécie de memória " oficial " do rock. A verdade é que um ponto de vista progressista em música nunca pode tomar as noções capitalistas de " sucesso " e " fracasso " para julgar a importância de uma banda. O potencial transgressor impresso num som autentico é o que conta em matéria de rock.
 Os Sonics estão juntos a outros inúmeros exemplos de gente que mesmo sem ter vingado totalmente em sua época, hoje ocupa um papel influente entre rockeiros.  Pesquisando os sons que vão do Velvet Underground aos Stooges e chegam aos Sonics, os rockeiros do século XXI não procuram o óbvio na hora de buscar suas influências musicais.


                                                                                                   Tupinik 

terça-feira, 3 de março de 2015

Brecht, Lukács e o debate estético:

Por que Brecht levou a melhor sobre Lukács no célebre Debate sobre o Expressionismo? Nesta importante controversa, que marcou os debates estéticos da esquerda europeia dos anos trinta, Brecht compreendeu que o realismo não é uma linguagem embalsamada. Logicamente que não foram apenas estes dois gigantes  do pensamento estético marxista que tomaram parte no debate: Ernst Bloch por exemplo, foi fundamental na defesa do expressionismo contra os ataques impróprios de Lukács. Mas foi o teatrólogo alemão quem deu um passo e tanto no debate artístico da esquerda.
  Brecht não nega a necessidade do realismo. Mas diferentemente de Lukács, ele  hitoriciza a arte realista, ou seja, o autor compreende que o realismo não é um processo estático: o realismo não poderia ficar indiferente diante das  transformações técnicas e expressivas trazidas pela arte moderna. Neste sentido, a contribuição do expressionismo alemão é enorme para se pensar " a arte de esquerda "


                                                                                           Lúcia Gravas 

segunda-feira, 2 de março de 2015

O pensamento estético revolucionário de Glauber Rocha:

Glauber Rocha não foi apenas o principal cabeça do cinema brasileiro. Hoje é amplamente conhecida a colaboração deste inventivo esteta no plano da teoria revolucionária da arte. Em Glauber manifestos, artigos e experimentos literários compõem junto ao seu legado cinematográfico, uma inquietante busca pelo povo brasileiro e sua missão histórica revolucionária. Porém, é incrível o fato deste cara ter sido tão esculhambado e incompreendido pela esquerda brasileira.
 A imagem que resume as polêmicas de Glauber Rocha nos âmbitos da  porraloquice ou do culturalismo, só podem servir aos interesses políticos mais reacionários. Hoje em dia por exemplo, existem acadêmicos que guiados pelas mãos furadas da análise culturalista, pretendem fazer uma leitura de Glauber que esvazia sua verve revolucionária e o coloca como um pensador formalista da cultura brasileira. Mas é fácil rebater esta gente a partir dos próprios escritos de Glauber Rocha: da Estética da Fome(1965) até os labirintos oníricos da Estética do Sonho(1971), Glauber nunca deixou de defender e proclamar em alto e bom tom a arte revolucionaria. Portanto, o grilo todo mora nas limitações estéticas da esquerda stalinista e não na postura política de Glauber, que sempre foi revolucionária. 
 Glauber confunde a esquerda e a direita não estando acima mas dentro da luta de classes. Seu pensamento artístico livre, serve aos mais claros propósitos revolucionários. É neste sentido que um romance louquíssimo como Riverão Sussuarana (1978) é uma baita lição surrealista que serve para abrir a cabeça de todo e qualquer escritor e  cineasta brasileiro. Glauber tem mais a ver com marxismo do que com o conservadorismo culturalista.


                                                                                             Os Independentes  

Arte proletária e vanguardismo:

No Brasil, as grandes novidades artísticas da modernidade foram essencialmente coisas de classe média. Poucos são os exemplos de artistas de vanguarda que atuaram no movimento operário. Sendo assim, tirando algumas exceções como o romance de Pagu , a dramaturgia de Oswald de Andrade e o cinema de Glauber Rocha,  o que encontramos é o descompasso entre a pesquisa formal de vanguarda com o conteúdo político revolucionário.
  Mesmo sendo discutível hoje o sentido da palavra vanguarda, a verdade é que as rebeliões formais ainda estão nas mãos de pessoas que não avançam sob o ponto de vista político: reformistas, reacionários e gente altamente despolitizada conhecem bem as práticas artísticas que não são nem um pouco convencionais para o gosto burguês. O que fazer? A saída para este embate histórico só pode ser uma: os jovens artistas proletários precisam dominar as estéticas dos movimentos de vanguarda. Tão urgente quanto uma formação política marxista, é expor como o próprio marxismo auxilia na criação de uma arte proletária que assimilou as formas de vanguarda.


                                                                                             Geraldo Vermelhão