quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Maiakóvski contra Mickey Mouse

É novamente hora de cantar e protestar:

Woody Guthrie considerava o seu violão uma " arma de matar fascistas ". Ele estava certo: nada pode ser mais eficiente no combate ao pensamento reacionário do que o violão. Tocar e cantar pode ajudar os trabalhadores na sua luta diária contra a barbárie capitalista. Eis uma dimensão fundamental da música popular que não pode ser esquecida. A música de Woody, por exemplo, tornou-se um símbolo de resistência da esquerda dos anos trinta, exatamente num dos lugares mais difíceis do mundo para alguém ser de esquerda, ou seja, os EUA. Mas falando do Brasil de 2014, acho que a mesma pegada musical do protesto ainda precisa ser discutida e levada em conta pelos militantes de esquerda. A música de protesto hoje, liberta de qualquer forma de dirigismo ideológico ou sectarismo estético, deverá pulsar cada vez mais pelos labirintos da cultura.
  Um discreto interesse pela folk song entre jovens músicos brasileiros, já delineia a necessidade artística de conceber a música popular enquanto instrumento político de agitação. Nada mais prático do que o folk, pois ele não requer aparelhagem, não dá muito trabalho. Basta um violão para arranhar, uma gaita para gritar e letras inteligentes que denunciem os problemas sociais do mundo contemporâneo. É claro que não estou pregando uma defesa sectária da música de protesto. Estou apenas dizendo que o folk, sendo cada vez mais conhecido entre jovens, pode ajudar a entender a música não somente no plano da curtição. É necessário também ouvir a canção, pensar o canto e prolifera-lo aos quatro ventos. É dever dos músicos de hoje protestar contra uma sociedade que em meio a tantos ruídos quer silenciar o inconformismo político.


                                                                                              Tupinik

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Bogdanov e o Proletkult:

A prioridade de boa parte do mercado editorial á obras e autores reacionários prejudica a pesquisa de artistas e militantes no Brasil. Não existe, por exemplo, praticamente nada sobre Bogdanov; aliás não é de se espantar que muitos comunistas brasileiros desconheçam as suas ideias.  Bogdanov, o grande teórico russo do movimento de cultura proletária, é figura indispensável para todos que se ocupam do debate estético marxista. Sendo este autor o cabeça do Proletkult, ele chegou a rivalizar com o próprio Lenin nas determinações do bolchevismo.Mesmo assim é notório o silêncio dos comunistas brasileiros sobre o autor que praticamente lançou a palavra de ordem arte proletária.
  É em parte a Bogdanov que devemos os ensinamentos para uma arte de agitação e propaganda. É ao Proletkult que devemos a lucidez histórica de varrer o lixo burguês do mundo das artes e apresentar o trabalhador enquanto artista e o artista enquanto trabalhador. Tachado por vanguardistas desmiolados e formalistas de plantão como " teórico de uma cultura obreira" , Bogdanov propagou pelos quatro ventos da Rússia revolucionária a arte proletária . Esta expressão, hoje praticamente ausente no meio artístico de uma classe média cool e pós-moderna, ainda representa a saída política revolucionária da arte. 
 Uma arte proletária empenhada em exprimir as vivências e a ideologia da classe operária, deve competir imediatamente com as aberrações visuais do mundo pop e o vazio performático que nunca dizem nada aos trabalhadores. Com a cultura das periferias fervendo em fogo alto, as ideias do Proletkult tem muito a oferecer aos grafiteiros e rappers que protestam contra a classe dominante. Um novo movimento de cultura proletária instalado no cotidiano operário poderá ajudar e muito no alinhamento ideológico marxista.


                                                                              José Ferroso

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Do texto " Construir e Expressar ", de Décio Pignatari:

Tudo isso não indica outra coisa senão que: a vontade de construir superou a vontade de expressar, ou de se expressar. O poema, impessoal, passa a ter deliberada função coletiva, pois que o canto é que faz cantar, como diz Fernando Pessoa, e não apenas a vontade catártica de cantar ou de se expressar através do canto, o que já é interpretação. Um operário que trabalha uma peça ao torno não escreve nela o seu nome ou a sua revolta. A lucidez racional da máquina lhe ensina a perceber a irracionalidade básica das relações de produção capitalistas: constrói edifícios com vidro rayban e sabe que nunca irá morar neles; constrói super luxuosos aviões e sabe que nunca poderá voar neles. E sabe também que só poderá acabar com as injustiças sociais através de ideias e ações claras e conjugadas. 


                                                                        Décio Pignatari, 1959.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A ditadura tinha medo do Zé do Caixão:

Alguém mais desavisado poderia achar que o nome do personagem cinematográfico Zé do Caixão, não teria muito a ver com a proposta do nosso periódico. Mas acontece que este personagem, mais maravilhosamente perigoso do que Drácula, Frankenstein, o lobisomem e a múmia ao mesmo tempo, é um sujeito extremamente subversivo: ainda que o cineasta e ator José Mojica Marins não realizasse nos anos sessenta um cinema propriamente político, isto é, engajado como aquele produzido na mesma época pelo pessoal do movimento do cinema novo, o fato é que o regime militar partiu pra cima dele. Sendo assim é inevitável que o público de cinema trash, mesmo entre aqueles que não se interessam por assuntos políticos em arte, não deixe de perceber os elementos transgressores do gênero do horror.
   O personagem de Zé do Caixão é definitivamente um cara sobrenatural: capaz de transitar entre o mundo do pop e do underground, ele ainda está na ativa, recebendo o devido reconhecimento. Mas nos anos  sessenta, quando os militares instalaram todos os pecados na política e todos os tabus na cultura, Zé do Caixão era dotado de uma grande capacidade para assombrar a burguesia brasileira. Estando pau a pau com os filmes de horror ingleses da extina Hammer, o cinema de Mojica perturbava no plano dos costumes, da moral. Se a ditadura era portadora de mitos maniqueístas, das noções de bem e de mal, Zé do Caixão era um niilista que rejeitando o céu e o inferno buscava uma mulher " avançada " para ter um filho. O agente funerário carregava na sua capa a irracionalidade que desafia as autoridades, enquanto que suas unhas rasgavam as convenções sociais, o bom gosto, a atmosfera clean necessária para o apaziguamento da consciência na perpetuação da moral burguesa.
  Os filmes de Mojica são clássicos do horror porque revelam o lado repugnante e sombrio: estas também são qualidades para se pensar uma arte combativa(o filme Esta noite encarnarei no teu cadáver, de 1966, seria o exemplo preciso disso). Um outro filme curioso seria O despertar da besta(O Ritual dos sádicos, de 1969) aonde a discussão sobre drogas e perversão sexual levou a um verdadeiro marco do cinema underground. O filme captou as formas da contracultura, da onda psicodélica, possuindo cenas tão oníricas que chamou a atenção da rapaziada do chamado cinema marginal: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, por exemplo, se amarraram no longa.
  Se o cinema de horror anda em parte banalizado e sem assustar ninguém é porque falta provocação; e isto tem de sobra no ótimo cinema de Mojica.


                                                                         Marta Dinamite 
 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O poema é um panfleto e o cartaz uma obra de arte:

As pesquisas estéticas, do ano passado e do início deste ano, realizadas por militantes, nos mostram cada vez mais a insuficiência dos formatos tradicionais da linguagem artística. Além da performance e do canto de rua facilitarem em praticidade( e em termos econômicos) as intervenções teatrais e musicais, as artes visuais orientadas pela arte gráfica encontram no cartaz a encarnação do protesto político. O mesmo também podemos dizer da poesia que das páginas dos livros salta como palavras inflamáveis para a forma de panfletos.O verso se justifica por uma vontade de comunicação sobre um país atravessado de ponta á ponta pela miséria e entregue aos interesses das grandes corporações capitalistas.
  Não podemos negar que os protestos contra a Copa estão assumindo resoluções artísticas que estimulam a produção cultural da juventude. Esta não é a primeira e nem será a última vez que chamamos a atenção dos nossos leitores para este novo fato histórico: as formas artísticas da atualidade são cada vez mais formuladas sob o calor do inconformismo político. Elas são totalmente híbridas em suas influências estéticas que passam pelo pop, pelo mangá, pela beat generation, pelo grafite, pelo construtivismo russo, etc. Estejam atentos: as novidades artísticas não estão nos espaços culturais convencionais. As novidades estão vindo das ruas!


                                                        Conselho Editorial Lanterna 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O espetáculo teatral para Artaud:

(...) Veem agora ao que nós queremos chegar? Queremos chegar a isto: que em cada espetáculo montado desempenhemos uma parte grave, que todo interesse de nosso esforço resida neste caráter de gravidade. Não é ao espírito ou aos sentidos dos espectadores que nos dirigimos, mas a toda sua existência. Á deles e á nossa. Jogamos nossa vida no espetáculo que se desenrola sobre o palco. Se não tivéssemos o sentimento muito nítido e muito profundo de que uma parcela de nossa vida profunda está engajada aí dentro, não julgaríamos necessário levar mais longe a experiência. O espectador que vem ver-nos sabe que vem oferecer-se a uma operação verdadeira, onde não somente seu espírito mas também seus sentidos e sua carne estão em jogo. Ele irá doravante ao teatro como vai ao cirurgião ou ao dentista. No mesmo estado de espírito, pensando, evidentemente, que não morrerá, mas que é grave e não sairá de lá de dentro intacto. Se não estivéssemos persuadidos de poder atingi-lo o mais gravemente possível, nós nos julgaríamos inferiores á nossa tarefa mais absoluta. Ele deve estar bem persuadido de que somos capazes de faze-lo gritar.


                                                                              Antonin Artaud, 1926.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Artista Coletivo:

O desenvolvimento das forças artísticas não se separa dos imperativos econômicos e políticos. Este pressuposto básico do materialismo dialético, para a análise histórica do fenômeno artístico, não é tão óbvio assim para muitos artistas que estariam situados no campo da esquerda: noções como genialidade e talento habitam os egos de quem deveria combater a concepção burguesa da arte. A verdade é que bem pagos ou não, artistas convencionais e vários artistas " transgressores " não passam de produtos históricos tardios da cultura burguesa. Em contrapartida as periferias mundiais produzem uma arte violenta, que mesmo sem possuir a necessária consciência de classe,  contrasta com os limites estéticos e políticos do ambiente pequeno burguês. É esta situação que obriga os militantes de esquerda a definirem primeiro não o que é arte revolucionária mas quem é o artista revolucionário.
  Com toda certeza este é um artista aberto ás inovações, sempre disposto a ouvir dentro de si as inquietações formais que confluem livremente para o conteúdo político revolucionário. Mas, este artista é um profissional metafísico ou um trabalhador? Sendo o seu desacordo com a ordem estabelecida parte não apenas de um esforço formal, ele precisa enxergar na classe operária situações culturais capazes de redefinir quem é o artista revolucionário: chamemos este de ARTISTA COLETIVO. Sua existência já é encontrada dentro do movimento operário brasileiro do início do século passado, quando os anarquistas defendiam que todos são artistas em potencial, cabendo aos trabalhadores fazerem uso da literatura e do teatro, por exemplo, para desenvolverem coletivamente suas potencialidades expressivas. Para eles a vaidade era desnecessária perante a necessidade da eficácia política da obra. O mesmo sucede-se na União Soviética dos anos vinte, quando os construtivistas estimulavam a criação fotográfica e cinematográfica entre o proletariado russo. Outros exemplos não faltam, cabendo destacar ainda o caso dos surrealistas que mesmo não enfocando a luta de classes em suas obras, buscavam sem resquícios de vaidade o mito coletivo do poeta selvagem: é a fórmula de Lautréamont na qual " a poesia é feita por todos ". 
   Não suprimindo as necessidades individuais e nem submetendo a obra de arte nos limites do ego(tão frágil tratando-se da classe média...) o artista coletivo dispensa os aplausos e aponta para o socialismo. 


                                                       Orestes Toledo/Afonso Machado
 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O underground brasileiro dos anos oitenta:

A noite sempre foi um celeiro pulsante para os artistas mais inquietos. Prova da diversidade cultural libertária encontra-se nas mais variadas cenas artísticas do Brasil dos anos oitenta. Com o regime militar e o seu cala boca indo para o espaço de vez, houve uma verdadeira explosão de liberdade: os setores mais antenados da noite paulistana, por exemplo, erguiam um grito selvagem para aqueles que viam na performance, na poesia, na música uma louca carta-carnal assinada pela rebeldia, pela legitima vontade de ser livre.
   O underground brasileiro dos anos oitenta unia os artistas libertários que sofreram com a repressão policialesca dos anos sessenta e setenta, com uma juventude vigorosa movida pelo punk e pela new wave. Rock, música eletrônica, poesia, teatro, tudo misturado nos espaços noturnos aonde o fundamental não era a diversão que prepara para a rotina do trabalho explorado do dia seguinte. Não, em picos badalados como a casa Madame Satã , o que interessava nos anos oitenta eram experiências culturais que fugiam de todo e qualquer cabresto. Foi nesta casa noturna por exemplo que a performer Cláudia Wonder e sua banda de rock Jardins das Delícias, desferiram ataques poéticos á caretice burguesa. 
 Pessoal, para que as paranoias direitistas não ferrem de vez com a cultura, devemos olhar com tesão para todos estes papais e vovôs punks, performers, poetas ou simplesmente bichos livres. A década de oitenta não foi uma década perdida: lições anárquicas eram encontradas na noite que liberta o desejo reprimido pelo dia.


                                                                       Marta Dinamite  

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um pouco da arte japonesa de contestação social:

A influência das estéticas japonesas na vida cultural da juventude brasileira, é um fato confirmado inúmeras vezes durante as últimas décadas; afinal é mais do que comprovada a grande contribuição da cultura japonesa para a cultura brasileira . Ainda assim sabe-se muito pouco sobre as tendências artísticas mais contestadoras da cultura contemporânea japonesa. Pra quem acha que a cultura japonesa é cem por cento tradicionalista e moderna apenas no sentido tecnológico, sinto dizer que sofre de miopia ideológica. De fato todo este lado reacionário existe enquanto expressão da cultura dominante do Japão. Há no entanto uma História rebelde na política e na cultura japonesa; por exemplo: todos sabem da ultrajante influência do fascismo durante o entre guerras, mas quase não se fala da morte de mais de 14.000 japoneses comunistas pelas mãos do fascismo neste mesmo período.
 A cultura japonesa expõe seu lado contestador a partir do pós-guerra. Enquanto os EUA ocidentalizava os hábitos japoneses(ao mesmo tempo que censurava filmes com conteúdo político de esquerda), uma nova geração irá entre os anos cinquenta e sessenta provocar uma série de rupturas na arte e no comportamento.Naqueles anos em que observamos a Associação Japonesa de Movimentos Artísticos e Teatrais, um temperamento vanguardista atravessa o Japão. Sob a influência das vanguardas europeias, artistas como Tatsumi  Hijikata começam a revolucionar a dança japonesa com o Butô: mesclando o Nô e o Bugaku com a modernidade estética ocidental, o Butô rompia com as tradições estéticas e sociais ao promover a livre expressão da alma nos movimentos do corpo. Se a dança era revolvida o mesmo se dava em outras artes, como principalmente o cinema: a partir dos anos cinquenta surgem companhias independentes que darão espaço aos jovens cineastas mais inquietos do país.    
  Novos grupos cinematográficos se formavam(como o Cinema 57). A influência do neo-realismo e do cinema soviético inspirava uma geração na busca por uma abordagem realista que questionava os rumos econômicos e políticos do país. Dentro do moderno cinema japonês, personificado no movimento Noberu Bagu, filmes de baixo orçamento desafiavam as tradições através da violência e de temas tabus, sobretudo sexuais. Nos anos sessenta por exemplo, o chamado cinema Yakuza, que tinha por tema o submundo e o cotidiano da famosa máfia japonesa, atraia o movimento estudantil em suas tendências políticas que questionavam os valores familiares e as regras da cultura oficial. Logicamente que nem tudo na cultura japonesa do pós guerra é contestador: o grupo de extrema direita Tatenokai, que contou com a influência intelectual e política do escritor Mishima, manteve vivo na cultura japonesa um lado reacionário. 
  Para nós o que interessa é observar o lado transgressor e politicamente avançado da arte japonesa do pós-guerra. Que sejam vistos e estudados no Brasil filmes como aqueles realizados pelo cineasta Koji Wakamatsu, o qual colocou em foco a guerrilha e a luta de classes no Japão. Existe uma arte de contestação japonesa que em suas particularidades culturais enriquece(e muito) a nossa sensibilidade.


                                                                              Lúcia Gravas

sábado, 15 de fevereiro de 2014

David Bowie assustou o burguês:

Inglaterra, idos dos anos setenta... Um jovem operário dá duro em sua jornada. A fábrica está em preto e branco. A moral dominante determina uma suposta fronteira entre os sexos. Gente melancólica volta pra casa em silêncio para recomeçar o trabalho explorado no dia seguinte. Pois bem, imaginem o efeito colorido, sexualizado e selvagem que o rock de David Bowie não causava na cabeça deste garoto proletário! Bowie e sua estética musical camaleônica transcendeu as fronteiras britânicas e mostrou que os padrões da cultura ocidental estavam ruindo. Hoje, no século XXI, ouvindo o rock de Bowie(feito provavelmente para o século XXIII), ainda somos tomados por um artista que assustou e questionou o gosto burguês.
  A exposição dedicada ao cantor inglês no MIS de São Paulo, pode ser um bom começo para que a garotada em busca de formas transgressoras encontre amparo na música de Bowie. A atualidade deste cara envolve um grande desafio sobre os limites impostos pela cultura moderna: o underground e o mainstream, o homem e a mulher... Bowie respondeu a estas e outras dualidades com sua personalidade irreverente e performática, como comprova o louquíssimo personagem de Ziggy Stardust em sua cabeleira de fogo, sua maquiagem andrógena e seu requebrado da pesada. Aliás o quente da sua música está exatamente nos anos setenta, como comprovam alguns discos da época: The Man Who Sold The World(1970), Diamont Dogs(1974) e Low(1977). Ouvindo este tipo de rock, como a clássica canção Heroes,  dá pra sentir ainda um efeito explosivamente plebeu sobre a sociedade burguesa. 


                                                                                  Tupinik 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Libertando a expressão artística do proletariado:

O esforço estético não deve ser entendido enquanto algo especializado, feito por meia dúzia de artistas " profissionais ". Um processo de emancipação política obedece ao mesmo tempo a um processo de libertação da linguagem dominada pelo capital. Portanto uma das contribuições mais decisivas da arte para a classe operária é a de fornecer modos de expressão que lhe permita erguer valores culturais anticapitalistas. 
  Tinta, papel, câmeras, instrumentos musicais devem ser coletivizados dentro de ações programáticas. É preciso que os camaradas armem os trabalhadores com pincéis! Uma arte livre e empenhada na demolição dos costumes burgueses deve ser cada vez mais praticada pela juventude. Cursos e debates podem fornecer uma boa munição teórica para as lutas culturais de 2014.


                                                                                             Lenito 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Bilhete antropofágico 02: porque o proletariado deveria ter comparecido na Semana de Arte Moderna de 1922

Há 92 anos rolou um dos maiores maremotos culturais da História brasileira: a Semana de Arte Moderna de 1922 foi o correspondente estético de um ano que consistiu num verdadeiro forrobodó; foi um vendaval que quase azedou a política do café com leite e toda corja de barões. É verdade, muitos mitificam a Semana esquecendo-se de que os rebeldes modernistas tinham telhado de vidro, pois eles próprios viviam no seio da classe dominante. Entretanto, isto não tira em nada o valor transgressor de uma patota de escritores e artistas que acertaram os ponteiros com a grande rebelião das vanguardas. A influência, apesar de tardia, do futurismo na literatura, do expressionismo e do cubismo nas artes plásticas, não fez feio numa São Paulo ultra provinciana e cheia de frescuras solenes.  Mas, ainda assim, estamos falando de uma revolução de salão, isolada das lutas do movimento operário.
  Em 1922 os anarquistas mandavam ver, inclusive no âmbito artístico(lembremo-nos que havia um teatro operário no Brás...).  No entanto, vislumbramos uma situação tremendamente esquizofrênica: a arte dos anarquistas era atrasada/tradicional e a arte revolucionária do modernismo feita por gente bem abastada(que paradoxo histórico mais desgraçado!) Foi em 22 ainda que os ventos revolucionários trazidos pela Rússia de 1917, colocaram em nosso meio as ideias marxistas, levando quase que por consequência á fundação do Partido Comunista Brasileiro. E ainda assim os modernistas não saiam dos salões, demorando quase uma década para que a luta de classes estivesse no horizonte de Oswald de Andrade, por exemplo. É sempre muito divertido escandalizar a classe média, mas se a nossa vanguarda artística estivesse ligada aos trabalhadores, que visão seria o Teatro Municipal de São Paulo cheio de bandeiras negras e vermelhas durante a Semana! Portanto, sem desmerecer seu valor de inovação e rebeldia , os modernistas da Semana erraram feio ao permanecerem na aba dos barões e distantes do proletariado. Já imaginaram se o nosso modernismo entrasse na mesma piração dos futuristas russos e aderisse ao movimento operário revolucionário? Seria tirado boa parte do pó de café caso eles decidissem vestir a blusa amarela de Maiakóvski.   


                                                                 Turma Terceira Dentição

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A cidade para o artista soviético:

As ruas são nossos pincéis
As praças nossas paletas
Ás ruas, futuristas,
tamborileiros e poetas!

(...) Artistas e escultores são convocados a apanhar, sem demora, latas de tinta e a iluminar, a pintar com os pincéis da própria maestria as ancas, a testa e o peito das cidades, das estações e das manadas de vagões ferroviários eternamente em fuga. 



                                                (Documentos das vanguardas soviéticas )

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Mário Pedrosa comenta o Surrealismo:

(...) O surrealismo quis sempre ser a poesia e a revolta em estado permanente. A arte era para ele apenas um meio, como outro, de modificar o homem por dentro, enquanto a revolução o modificava por fora, nas instituições. O revolucionário, como qualquer outro, sonha. A ética surrealista quer que este revolucionário " tome conhecimento do seu próprio comportamento e no esforço em pôr-se de acordo, sob todos os pontos, consigo mesmo ", o surrealismo pensa não ter empreendido outra coisa senão engrandece-lo(...).



                                                                Mário Pedrosa, 1967.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Revolução Cultural Permanente:

O conceito de Revolução permanente enquanto aspecto central do trotskismo, está muito longe de restringir-se aos âmbitos político e militar. Tais dimensões não se separam de uma radical transformação do modo de vida, em especial das formas de percepção da classe operária. A questão estética surge na Revolução permanente não enquanto filha bastarda ou ferramenta submetida aos interesses políticos imediatos de uma burocracia. Na visão trotskista a arte é, pelas suas próprias leis, um fator decisivo na consolidação das mudanças culturais que expressam mundialmente a luta de classes. Este diagnóstico para uma arte revolucionária internacionalista é hoje evidenciado, por exemplo, pela atuação e pelo trabalho do artista e teórico trotskista  brasileiro Thyago Villela. Graças aos diálogos que tenho a oportunidade de travar com este precioso amigo, é que posso observar a inclinação(ainda que subterrânea) de uma crítica cultural de tipo internacionalista. Esta mesma crítica terá um papel fundamental no desmoronamento dos mitos nacionalistas defendidos por governos populares latino americanos, que por sua vez estão atrelados ás burguesias pautadas pelo neoliberalismo.
  Sob o aspecto econômico mais elementar, o século XXI comprova a insuficiência de uma Revolução dentro dos quadros do nacionalismo. A interdependência de recursos materiais entre os países vem, mais uma vez, legitimar o proletariado enquanto único sujeito histórico capaz de destruir a escravidão promovida pelo capital. A correspondência entre os acontecimentos políticos que exprimem os conflitos sociais no mundo de hoje, revela que o combate da classe operária ao imperialismo situa-se numa perspectiva internacional e não nacional. A luta política(que inicia-se nacionalmente, projeta-se internacionalmente e finalmente em escala mundial) requer que o proletariado fortaleça sua ideologia a partir de uma orientação cultural compatível com o internacionalismo revolucionário.Hoje precisamos nos livrar definitivamente do esquerdismo nacionalista que deturpa os objetivos históricos do socialismo. A velha arte nacionalista incrementada por um escudo folclórico, verdadeiro refúgio das idealizadas(e sentimentaloides) visões sobre as tradições artísticas populares, foi um grave erro da esquerda nos países capitalistas pobres.Evidentemente que as manifestações artísticas populares possuem um papel inestimável na criação das formas de arte revolucionária. O problema no entanto consiste em uma apropriação ideológica na qual a esquerda nacionalista procura fazer uso da cultura popular para justificar o isolamento político. Trata-se por exemplo do que os stalinistas fizeram no Brasil com o samba e com as literaturas regionais. Felizmente estes obstáculos para uma verdadeira arte revolucionária encontram-se decadentes, praticamente fora de combate.
  Se arte é trabalho então o artista militante é um trabalhador empenhado numa visão cosmopolita: sua obra adquire impacto e relevância social nos mais distintos contextos culturais. O artista revolucionário expressa a liberdade total numa realidade de não liberdade, de opressão econômica e controle ideológico. Este artista, tematizando ou  não os problemas sociais em sua obra, é definido por um estado permanente de revolta contra a ordem estabelecida. Seja exprimindo o ódio de classe, seja experimentando possibilidades expressivas que transgridem os códigos da cultura dominante, o artista revolucionário atua na dimensão cultural da Revolução permanente: ignorando as fronteiras nacionais este artista é tomado por um estado de espírito que, como refere-se Trotski, impede o equilíbrio social, a estabilidade dos costumes e dos comportamentos. É o negativismo, verificado por exemplo entre os surrealistas, que fere/interfere sobre a cultura estabelecida.
   Não creio que esta dimensão cultural da Revolução permanente diga respeito tão somente aos trotskistas. Anarquistas dedicados aos problemas da arte e comunistas críticos ao nacionalismo artístico, podem encontrar nesta visão política um suporte teórico para suas práticas culturais. Com a luta de classes ameaçando colocar em cheque os surtos nacionalistas num ano de Copa e Eleições, a arte revolucionária internacionalista fundamentada na Revolução permanente poderá dar uma contribuição ímpar durante este 2014.


                                                                           Afonso Machado     
  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Walter Benjamin é um precioso estrategista no combate cultural:

Walter Benjamin não cabe na boca dos pós-modernos(ainda que eles tentem). O filósofo e historiador alemão possui uma contribuição para uma teoria estética cuja finalidade é a práxis. Muitos questionam se ele era ou não marxista; na realidade isto é irrelevante, pois boa parte da sua obra fragmentada serve aos mais claros objetivos revolucionários. Para o artista trabalhador e o militante da cultura em especial, os textos de Benjamin contribuem para uma estratégia correta dentro do combate político: situando a arte dentro de uma perspectiva materialista, este pensador contextualiza as transformações técnicas da arte na sua proximidade com o proletariado. Ele entende o cinema enquanto instrumento emancipador. A literatura dentro das relações de produção. A memória revolucionária enquanto desafio político ao presente. 
  Benjamin, pensador livre e intelectual comprometido, percebeu as modificações essenciais que capturam a arte no seu inevitável conflito com a classe dominante. Independente e plural, ele observou, por exemplo, as virtudes libertárias do Surrealismo e o potencial político do teatro de Brecht. 
 Seria um ganho inestimável, para a formação intelectual da juventude revolucionária do Brasil, os textos de Benjamin. 


                                                                             Geraldo Vermelhão  

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Conspiração estética:

Observem com atenção as imagens que rondam o cotidiano. Leiam, como espiões do verbo, os significados das palavras do comércio(que nunca dizem nada). Todo este autoritarismo descartável de imagens e palavras embaladas pode ter a sua estrutura alterada por uma tempestade de novos significados. Utilizando o material do inimigo obtemos munição simbólica. Trata-se de produzir um efeito contrário, sequestrando significados banais para profanar os templos capitalistas. O artista e o poeta não podem fugir deste campo, pois se tentarem escapar sua arte terá o espírito degolado, sobrando apenas mais um objeto condenado ao cifrão.
    Estou me baseando exatamente em que? Se puxarmos na História vocês podem apontar o Pop, os situacionistas e muito antes disso Dadás e surrealistas. Mas não se trata mais de ficar circunscrito em uma corrente. Os capitalistas jogam(e jogam pesado) através das repetições eternas do mesmo...Enquanto existir o último capitulo da novela, o gol na decisão de algum campeonato e o super herói do quadrinho esfolando a soberania cultural dos países capitalistas pobres, então não resta outra saída senão usarmos a estética do inimigo para reorganiza-la numa imagem subvertida. Enquanto a temperatura política aumenta, vamos persistir numa pesquisa estética na qual a arte refuta os símbolos do capital.


                                                                                           Marta Dinamite

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A cultura proletária enquanto processo histórico:

Sem a compreensão clara de que só um conhecimento preciso da cultura criada por todo o desenvolvimento da humanidade, só com a sua reelaboração, se pode construir a cultura proletária, sem esta compreensão não realizaremos esta tarefa. A cultura proletária não surge do nada, não é uma invenção das pessoas que se chamam especialistas em cultura proletária. Isso é pura idiotice. A cultura proletária deve ser o desenvolvimento lógico da soma de conhecimentos que a humanidade elaborou sob o jugo da sociedade capitalista, da sociedade latifundiária, da sociedade burocrática.


                                                                             Lenin, 1920.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A exigência de Sartre para uma Literatura Engajada:




Folheando romances brasileiros atuais, não posso deixar de ficar espantada com a pouca ou quase nenhuma atenção dada aos grandes problemas que afligem a sociedade contemporânea. Longe de mim desqualificar a atual literatura feita no Brasil,  afinal vários são os autores(geralmente de origem proletária) que fazem da prosa um meio para denúncias e questionamentos. Meu descontentamento vai para gente que se serve das palavras para não dizer nada(e infelizmente estes possuem um grande acento na literatura atual). Creio que falta a este tipo de escritor, geralmente preso aos seus complexos de classe media, um horizonte teórico que possa orientar sua prática. É por estas e outras que considero Jean Paul Sartre merecedor da atenção dos literatos brasileiros. Além da sua magnifica produção como escritor, o que abrange o romance, a novela e a dramaturgia, Sartre definiu teoricamente quem é o escritor engajado.
   Recomendo aos leitores e escritores brasileiros interessados em compreender qual é o sentido da literatura, que leiam o clássico O Que é Literatura?(1947), de Sartre. Esta obra tornou o existencialismo uma corrente filosófica capaz de responder ás exigências do compromisso político do escritor. Sartre nos mostra que o escritor lida com significados, sendo a prosa utilitária: servindo-se das palavras o autor que concebe o leitor enquanto homem livre, precisa dirigir-se á liberdade do leitor, enfrentando no mundo as situações que negam a própria liberdade. Portanto a literatura não interessa mais enquanto descrição que leva ao gozo psicológico, mas sim enquanto exposição para as diferentes possibilidades dos seres humanos em situações concretas; Sartre orienta o escritor de modo a conceber o autor enquanto vítima e cúmplice das formas de opressão, sendo necessário o uso da palavra escrita para auxiliar na emancipação social.
  A função social do escritor faz com que ele não possa negar o mundo, sendo o ato da escrita um ato político: ou se escreve sobre algodão doce ou se escreve sobre a miséria, por exemplo. Parece-me que num país como o Brasil a defesa da literatura engajada segundo Sartre, é um dever intelectual.


                                                                                     Lúcia Gravas

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O movimento antropofágico Terceira Dentição ganha força com a reedição do Boletim Cadáver Semanal: Canibal

Boas novas:
O boletim literário mais barulhento da cidade de Campinas, voltará a ser editado regularmente a partir da próxima quinta feira. CADÁVER SEMANAL: CANIBAL , é uma criação coletiva entre poetas marginais que compreendem a poesia não enquanto bordado de versos mas enquanto uma prática subversiva de combate é cultura burguesa.  Entre 2007 e 2013 a publicação circulou todas ás quintas feiras pelas ruas campineiras, sustentando uma interpretação particularmente internacionalista do pensamento antropofágico de Oswald de Andrade. O movimento antropofágico da Terceira Dentição foi nutrido no ventre do Cadáver: experiências poéticas ancoradas no automatismo psíquico do Surrealismo e no improviso da Beat Generation, forneceram as bases para um possível desdobramento histórico da Segunda Dentição, isto é, o momento de radicalização do movimento antropofágico, que entre 1929-31 viu na rebeldia de Oswald, Pagu e do surrealista francês Benjamin Péret, uma grande sabotagem cultural. Levando em conta  as posteriores heranças da contracultura, a Terceira Dentição, que atua no Lanterna desde a sua fundação, redescobriu o tacape e a denduça arreganhada .
  Quem quiser acompanhar o movimento antropofágico da Terceira Dentição hoje, pode acessar a edição online do Cadáver ( http://cadaversemanal.blogspot.com.br/)  , o blog Prato do Dia(http://www.boletim-lanterna.blogspot.com.br/ ), além das eventuais colaborações do grupo no Lanterna, geralmente sob o titulo sugestivo de BILHETE ANTROPOFÁGICO. Além disso tudo, os antropófagos já anunciaram a criação de uma editora denominada ENCRUZILHADA, que deverá centralizar as publicações do grupo(o Lanterna orgulhosamente aderiu a este empreendimento que de capitalista não tem nada).
A violência estética da Terceira Dentição inscreve-se hoje num grito de revolta aonde o local e o universal se interpenetram, gerando uma arte livre e de caráter anticapitalista.



                                                           Conselho Editorial Lanterna 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A rebelião da pintura moderna:

Faz mais de um século que a pintura moderna consolidou a sua Revolução espiritual. Porém, o que vem sendo negligenciado por muitos artistas e historiadores, é que a ruptura formal das estéticas modernas, é  parte de uma reivindicação política de ruptura social. A arte em suas leis específicas rejeitou as técnicas tradicionais de composição por almejar um estado de libertação expressiva. Mas tal libertação não se detém apenas na mudança radical dos materiais e procedimentos de criação plástica, mas na num desejo mais profundo de libertação total. Portanto, quando as cores foram percebidas em sua pureza, em sua luz e  intensidade projetada em manchas, é porque ocorre uma transformação no mundo visível: implodir a perspectiva significava implodir a percepção burguesa da realidade. 
 Todo o trabalho destrutivo executado pela pintura organizada em torno dos movimentos de vanguarda da Belle Époque, não deve ser tomado enquanto gestos formalistas desconectados dos sentimentos do artista sobre o social. Mesmo quando estamos falando de artistas que não possuíam uma posição política anticapitalista, sua obra só pode ser situada num momento de ruptura com uma cultura ordenada pelas determinações econômicas e políticas do capital. Os pintores do pós-impressionismo e do fauvismo, por exemplo, constituem um esforço social de rebelião que não se restringe a oposição ao naturalismo. Tão pouco estas revoltas estéticas das obras de arte se restringem ao território europeu. As pinceladas do pintor moderno sugerem um internacionalismo primitivista, que descobre referências visuais fora das determinações culturais que formaram o homem burguês.
  Hoje, quando as rupturas estéticas não tornam-se mais territórios a serem explorados, o artista que é herdeiro das rebeliões de vanguarda e as articula com as novas dinâmicas estéticas(como a arte de rua, por exemplo), deve possuir a consciência histórica de que a representação artística revela um universo formal que não se separa da vida em sociedade.



                                                                                     Os Independentes  

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Cineasta que é latino americano não faz honras á Hollywood:



É compreensível quando atores e diretores brasileiros chegam aos degraus de Hollywood, que a burguesia brasileira sinta-se orgulhosa. Sem querer colocar em questão aqui as concepções estéticas e ideológicas de muitos nomes do cinema brasileiro que mergulharam no mercado norte americano, parece-me legítimo em contrapartida, defender a necessidade do cinema brasileiro não exportar apenas entretenimento mas expressões artísticas politicamente combativas e portanto conscientes da opressão imperialista. De acordo com as lições de Glauber Rocha e o seu cinema tricontinental, se faz necessário que os países capitalistas pobres criem um sistema de produção e distribuição independentes das grandes empresas cinematográficas. Tratando-se particularmente do cineasta latino americano, este é um trabalhador da sétima arte que fundamentado numa prática política revolucionária faz do cinema não um degrau para o sucesso internacional mas uma ponte para o combate cultural internacionalista.
 Se muitas escolas de cinema estão interessadas apenas em aulas sobre comércio e propaganda, talvez os cineastas que historicamente podem compor a oposição cultural que me refiro acima, sejam aqueles provenientes da classe trabalhadora. Este cineasta deve ser formado desde já, fazendo das organizações de esquerda espaços culturais aonde diretores de cinema não sejam educados para servir o capital mas, a partir de uma formação crítica, que contempla literatura, filosofia, ciências humanas, pintura, teatro, etc, sirva ao povo explorado. Sobre o mapa mundial a câmera do cineasta militante não se volta para os países imperialistas, mas para os países que devem se libertar do domínio político.


                                                                                 Lenito 
   

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A dramaturgia de Oswald de Andrade, nas palavras de Zé Celso:

(...) O Rei da Vela rompe com a dramaturgia tradicional no sentido de chutar a ideia de uma " pré-ideia " do que seja uma peça. Uma peça de teatro, nos livros de dramaturgia, é " ataque "- clímax- resolução-" conflito "- ou seja mais ou menos isso, quer a peça seja mais ou menos aristotélica. Teatro é assim ou assado. Oswald esquece e ignora tudo. Parte para um teatro não linear. Um teatro na base da colagem. Passa a devorar todas as formas de dramaturgia possíveis e imagináveis. Acreditando que a forma teatral é sempre expressão de um conteúdo, cita tudo o que pode citar. Usa todas as formas teatrais e não teatrais. Circenses, literárias, subliterárias, para expressar tudo o que pretende. Não parte do pressuposto de ter uma ideia e se utilizar de uma peça para expor linearmente esta ideia, toma, ou seja lá o que for, como desenvolvimento de uma ação(...). Em relação á dramaturgia brasileira, então, sua grande lição é a coragem de criação, a falta do medo do corte ou do errado, do mau e do bom gosto, que faz com que ele invente valores, na sua própria obra. Esta não tem preocupações de fidelidade a uma visão engajada conforme a cartilha de algum partido, não tem ortodoxia alguma. Não tem problemas de forma. Entra com a literatura, com a música,a conferência, o discurso,a chanchada, a obscenidade, etc. Tudo é instrumento de expressão(...)


                                              José Celso Martinez Corrêa ,1968.