sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Aonde estão os pensadores do cinema brasileiro?

Se boa parte do cinema brasileiro migra para o cinemão, é porque os cineastas estão afastados da realidade concreta do Brasil. Filmar implica em honestidade intelectual, pois nenhuma forma de olhar separa-se das convicções políticas de quem filma. Isto pode até soar óbvio demais, porém é o que falta para alguns cineastas brasileiros: fisgados pela formação neoliberal voltada para boa parte da pequena burguesia brasileira, estes cineastas  babam ovo pelo poder econômico de um cinema fundado na alienação. Não necessitamos assim de quilos de filmes convencionais, mas de um autêntico pensamento cinematográfico brasileiro.
 Volto a tocar na questão sobre a necessidade de uma fundamentação teórica marxista para o cinema brasileiro. É preciso que se leia críticos como Alex Viany: este sim um pensador revolucionário do cinema. Viany nos ensina sobre a urgência do cinema problematizar a representação da sociedade brasileira. A trilha de uma estética realista é o caminho correto para que o filme possa captar as contradições econômicas e as tensões políticas de um país atravessado por contrastes sociais. Que se leia Alex Viany! Filmemos o Brasil através de uma lente materialista, histórica e dialética!


                                                                                    Geraldo Vermelhão

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A importância do romance social:

Como venho insistindo por estas bandas, a narrativa literária verificada no gênero do romance, é um importante esforço para se estabelecer elos, ligações históricas entre o micro e o macro. Na sociedade da alienação, cuja a dinâmica cultural acarreta na inversão da consciência, o romance reata a imagem do humano estilhaçada pelo capital. O romance interessado, comprometido, engajado, etc, não deve ser encarado sob o ponto de vista político como um passatempo, mas sim enquanto um instrumento cultural a serviço da consciência política da classe trabalhadora. É preciso fazer com que estes romances não fiquem nas mãos da pequenas burguesia, mas que atinjam em cheio a sensibilidade dos trabalhadores brasileiros.
 Quando alguém decide escrever romances, isto pode envolver diferentes motivações: para muitos estas são essencialmente individualistas e narcisistas. Para outros trata-se de uma questão política, do caráter acentuadamente social, da vontade se comunicar através de representações sociais, que enquanto produto literário, reivindica o fim da sociedade de classes. No Brasil de hoje, quando os olhos plastificados da classe média se recusam a olhar(e sentir) os problemas econômicos e as carências sociais que tomam conta da vida dos trabalhadores(seja no sudeste ou no nordeste, ou em outras regiões do país), o romance social deve impor-se enquanto força cultural de oposição ao capitalismo. Contra uma opinião pública fundada nos interesses da propriedade privada e do lucro desenfreado, a literatura de esquerda torna-se indispensável justamente por evocar os problemas concretos do povo brasileiro.


                                                                                Lúcia Gravas

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Não existe imprensa cultural sem posição política:

Da mesma maneira que a arte e a literatura assumem uma posição política na sociedade de classes, a imprensa que toma a cultura como objeto de análise, não pode deixar de fazer o mesmo. Sob as atuais e elevadas polêmicas entre a grande mídia e o governo brasileiro, é preciso que os periódicos que se voltam(parcialmente ou integralmente) para o debate artístico, assumam uma posição. Esta última no entanto, não se realiza necessariamente em prol do governo ou nem mesmo de um partido político. A linha editorial que uma publicação cultural de esquerda pretende alcançar, conflui para uma posição que contempla os interesses políticos da classe trabalhadora, podendo abranger assim diferentes aderências político partidárias no seio de uma mesma redação(tal alinhamento deve estimular o debate político). 
 O papel de organização da cultura reservado aos artistas e aqueles que escrevem sobre assuntos artísticos, faz de um periódico expressão da luta de classes. O objetivo da imprensa cultural afinada ao socialismo, é contribuir para educar politicamente a sensibilidade dos trabalhadores, abrindo seus sentidos e aflorando uma leitura crítica da realidade. Estimulando a reflexão sobre a importância da cultura na consolidação do poder popular, a imprensa cultural de esquerda aciona qualidades intelectuais em contraste com os meios de comunicação financiados pelo poder do capital. Para darmos prosseguimento a estas iniciativas, se faz necessário inclusive pesquisar (e aprender) com a História dos próprios periódicos de esquerda voltados para assuntos literários e artísticos.
 É hora de aprofundarmos o trabalho cultural progressista.

                                                                        Conselho Editorial Lanterna

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Brecht ou Artaud?

De um lado o distanciamento crítico, a plenária e a profanação contra os parâmetros aristotélicos através de um teatro moderno e questionador da realidade política. Do outro o desregramento dos sentidos, a liberação do inconsciente e a desconstrução das bases culturais do mundo civilizado. Respectivamente, Bertolt Brecht e Antonin Artaud são considerados revolucionários de maneiras distintas. Se um grupo de atores está em busca de uma " linha teatral " ou ao menos de uma estética, é praticamente impossível que eles não se indaguem sobre as concepções teatrais de Artaud e Brecht.
 O debate entre as teses do teatro dialético e do teatro da crueldade foi intenso, sobretudo durante os anos sessenta, momento este em que a arte teatral foi parte essencial das transformações políticas e culturais. Ainda que hoje existam outros caminhos teatrais, inclusive segundo uma perspectiva contestadora, a escolha entre Brecht ou Artaud(ou até mesmo tentativas de se buscar uma síntese criadora entre ambos, o que é difícil em termos cênicos) ainda alimenta o debate teatral. Pode-se dizer que do ponto de vista revolucionário, ambos acionam dimensões que não podem ser esquecidas nas pesquisas teatrais. Ou seja, se em  Brecht a estética implica em uma ética, em uma apresentação dialética das situações presentes na sociedade de classes, Artaud expõe que a reflexão objetiva é insuficiente para resolver o problema da expressão e das inquietações do humano: mais do que travar o debate político localizado, caberia ao teatro chegar ao fundo do inconsciente. Mas acontece que na opção entre um ou outro é preciso fazer uma pergunta fundamental: de que público estamos falando? A escolha por um espetáculo brechtiano ou artaudiano não é mero capricho intelectual, mas uma tentativa de se responder aos impasses morais, mentais e políticos de homens concretos, que vivem em espaços sociais específicos.
 No Brasil dos anos 60/70, dos anos de chumbo, optar pela crueldade em detrimento do distanciamento crítico, era uma posição diante de um público pequeno burguês, que frequentava as salas de espetáculos e em muitos casos era cúmplice  da ditadura militar: este público era violentado pela brutalidade poética de Artaud, sendo ainda ameaçado em seus valores(a atmosfera contracultural dava impulsão a esta posição cênica/política). Artaud ainda gera mal estar na classe média, o que comprova sua atualidade. Porém, se estamos falando de um público proletário, o impacto seria o mesmo? O teatro da crueldade pode ser popular? O teatro revolucionário é necessariamente popular? Mas se Brecht responde através do marxismo os dramas deste mesmo público proletário, o que o teatrólogo alemão pode acrescentar a um público de classe média, universitário e logo familiarizado(e muitas vezes hostil) ao pensamento marxista? Longe de nós respondermos a estas questões, mas cumpre a todos que acreditam num teatro militante realiza-las.
 Nem Brecht e nem Artaud saíram da ordem do dia. No entanto, ao estabelecer a opção entre um ou outro, que se faça considerando o público sobre o qual desejamos atuar.


                                                                                  Os Independentes

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Arte popular contra o elitismo na cultura:

No Brasil de hoje, a luta de classes exprime-se economicamente, geograficamente, politicamente e... culturalmente. Esta última dimensão fornece elementos simbólicos que traduzem, no cotidiano, as posições políticas existentes na sociedade brasileira.  Nota-se em parte da região sudeste um universo estético conservador, um gosto pequeno burguês, que rejeita aspectos populares presentes nas mais diferentes realidades regionais. Uma ditadura plástica sustentada pelo capital é estabelecida a partir do cinema, de seriados norte americanos e de toda publicidade que acabam por expressar(e reforçar) os valores individualistas e narcisistas de uma classe média alta que tem aversão/medo do proletariado.
 Produtos eletrônicos, automóveis, perfume caro e uma série de comportamentos perversos, estabelecem uma espécie de ala vip ambulante. Do lado de fora está a maioria, ou seja trabalhadores que cultivam suas tradições populares(e também/infelizmente consomem ao mesmo tempo produtos alienantes ligados aos meios de comunicação de massa). Esteticamente falando, a verdade é que a pequena burguesia brasileira não suporta as manifestações artísticas populares e muito menos a arte que denuncia e trata dos problemas sociais. Moralista antes de considerar a realidade material aonde a cultura popular se faz, a burguesia brasileira(e seus referidos lacaios da classe média alta) desejam sepultar o espaço público e marginalizar a produção artística proletária.
 Seria um equívoco supor que as manifestações artísticas populares, representadas por exemplo em ritmos musicais regionais e na arte das periferias das grandes cidades(literatura periférica, hip hop, etc), sejam necessariamente revolucionárias. Mas já que elas apresentam um poder de antítese, se faz necessário que os movimentos sociais e as organizações de esquerda, trabalhem pelo engajamento político dos artistas populares. É preciso zelar pela educação política e estética do proletariado(os artistas populares necessitam conhecer, ter contato com diferentes referências artísticas, tais como as pintura de Di Cavalcanti). Aliás os anseios políticos da classe trabalhadora estão longe de se resumirem apenas no poder de compra: mais do que consumidores, os trabalhadores devem reconhecer-se politicamente enquanto classe. A hegemonia dos trabalhadores depende do desenvolvimento estético e ideológico de uma arte que dispute o espaço com a cultura elitista. 

                                                                                            José Ferroso 
 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Rock, cinema político e o pessoal da pesada:

Hoje em dia ficou muito fácil captar sons e imagens. Para o pessoal mais velho, que conheceu equipamentos anteriores ao digital, não era nada mole: o cineasta deparava-se com a fragilidade da película. Uma banda de rock gravava a fita demo e ia de porta em porta tentar a sorte nas gravadoras. Felizmente isto é passado: editar, filmes ou canções, virou uma coisa corriqueira. Tá, pode até parecer lugar comum este papo todo, mas saibam que não faço aqui um elogio deslumbrado aos meios digitais: o que estou querendo dizer, mais uma vez(chega a ser um " mantra materialista ") é que se um artista revolucionário de décadas atrás era refém daqueles que possuíam os meios de produção, hoje o cineasta e o músico que lutam contra o status quo, podem ir para a ação direta. O que precisamos portanto, é fazer agitação revolucionária para promover a educação política do artista que possui meios tecnológicos para criar.
 Um cineasta familiarizado com a dialética marxista e uma banda de rock disposta a questionar a cultura estabelecida, podem juntos contribuir com a construção de um grande legado artístico de contestação social. Este tipo de trabalho remete a vários exemplos históricos, a começar pela química muito bacana que rolou entre o cineasta francês Jean Luc Godard e a banda de rock inglesa Rolling Stones, no filme One Plus One. Se este filme captou toda agitação cultural e política do ano de 1968, hoje inúmeros filmes realizados com a tecnologia digital, podem realizar algo parecido: as lutas dos trabalhadores e da juventude de hoje, precisam ser registradas enquanto canção e imagem em movimento. Mas para que tais iniciativas se multipliquem, devemos insistir na necessidade da formação política do cineasta e dos músicos. Com a câmera ou a guitarra em punho, o artista deve aplicar as conquistas técnicas do mundo digital na elaboração da arte militante.


                                                                                           Tupinik    
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Necessitamos da voz do poeta:

A iniciativa de transformar um modo de vida, está diretamente ligado ao reconhecimento da poesia enquanto força motriz. Enquanto lutamos para que a direita não avance politicamente, devemos inserir no conflito ideológico os versos do poeta combatente. Este tipo de poeta é meio difícil de achar, já que neste país temos em excesso tanto os poetinhas afogados em seus próprios espelhos quanto a segurança apolítica daqueles que fazem do verso um passatempo congelado. Nós acreditamos em um outro tipo de poeta...
 Que durante todos os dias do ano os poetas revolucionários, lancem como bombas libertárias ou fogos de artifício do espírito, seus versos capazes de fazer os trabalhadores acordarem. Perante as inúmeras tarefas da militância política e cultural, a poesia é uma necessidade orgânica do movimento histórico que levará o proletariado rumo a um novo mundo. Comecemos desde já, seja com versos ou bandeiras, comícios ou saraus, a construir o poder dos trabalhadores.

                                                                                                 Lenito 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A luta de classes no teatro:

O palco teatral pode ser concebido de diferentes maneiras. Ele pode ser um guarda chuva para que o público pequeno burguês possa se proteger dos graves problemas sociais. Pode ser encarado também enquanto consultório médico para exteriorizar fantasmas pessoais ou ainda como um grande espelho, no qual a mesquinhez do texto rasteiro(geralmente ao gosto de padrões bestiais de humor) permite que a classe média veja a si mesma(e se sinta protegida). Mas o palco também pode ser uma tribuna, na qual os atos de uma peça teatral tornam-se um chamado para o debate político. Este é o teatro que pode realmente contribuir com a classe trabalhadora brasileira.
 O teatro é um meio de reflexão, uma extensão de gestos, pensamentos e sentimentos através dos quais as graves questões históricas ganham forma. Existem inúmeras estratégias cênicas para isso, e como já me referi em um artigo recente, teatrólogos como Brecht e Piscator, oferecem plataformas estéticas que ainda não foram superadas. " E por que não? ", indagaria um ator que é tomado pela forma e despreza o conteúdo. Porque enquanto a sociedade capitalista existir, e logo impor uma organização do trabalho, na qual alguns poucos são proprietários e outros tantos são instrumentos, o teatro não pode fugir da sua responsabilidade de problematizar a realidade concreta; e é exatamente a luta de classes o eixo político atual que permeia a obra destes dois nomes fundamentais do teatro político alemão. Caso a dinâmica histórica seja desprezada, é a própria arte teatral que corre o risco de ser mais um cabide para a cultura da alienação. 


                                                                                             José Ferroso

terça-feira, 21 de outubro de 2014

" O Vagabundo " é subversivo:

Carlitos, o maior vagabundo da História do cinema, está fazendo cem anos. A imagem deste personagem consiste num  ícone que apresenta de forma encantadora, circense e altamente sensível, as contradições da sociedade capitalista. Seu intérprete/criador, o ator e cineasta Charlie Chaplin, foi um dos artistas que melhor soube defender a humanidade quando o próprio humano é negado pelo sistema: Carlitos em sua miséria econômica é capaz de atitudes humanas , contradizendo e questionando a divisão social do trabalho.
 A cinematografia de Chaplin é fundamental para que atores e cineastas não percam de vista a crítica social. Ainda que Chaplin não tenha sido propriamente comunista, mas um humanista com inclinações socialistas, a perseguição pela qual ele passou nos EUA, só acentua o poder de fogo dos seus filmes. Ninguém pode imaginar o século XX sem as imagens encontradas em filmes como Luzes da Cidade e Tempos Modernos.  Um brinde ao " vagabundo " que denunciou as engrenagens do capitalismo.

                                                                                             Lúcia Gravas 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pagu: vida(de revolucionária)- obra(libertária)

Saudamos a reedição do fundamental " Pagu: Vida-Obra " , organizado por Augusto de Campos. Lançado na década de oitenta pela Brasiliense, o livro aparece agora pela Companhia das Letras em uma edição ampliada. A importância documental e a fecundidade teórica(e militante) em torno do trabalho da escritora Patrícia Galvão, são expostos num livro que nos ajuda a conjugar num mesmo plano libertário, a literatura e a revolução. Acreditamos que esta iniciativa editorial pode colaborar, de forma significativa, para que a figura de Pagu seja desvencilhada do sensacionalismo folclórico em torno do estereótipo da " musa antropofágica ". Afinal de contas, o itinerário de Patrícia Galvão não envolve um apêndice do modernismo, mas uma obra viva, conduzida pelo verbo pulsante, pela fusão original entre modernidade estética e militância anticapitalista. 
  A trajetória intelectual de Patrícia Galvão engloba, sob o ponto de vista histórico, lições práticas. Seria impensável imaginarmos a fase de radicalização do movimento antropofágico em 1929, sem a presença de Pagu escandalizando a classe dominante através da sua conduta rebelde, dos seus desenhos provocadores e de suas performances decididamente modernas. Tal posição vanguardista aplicou-se também na própria militância política de esquerda, como registram seus artigos e desenhos publicados no jornal O Homem do Povo, durante o início da década de trinta.  O mesmo pode ser dito em relação ao romance social do período, quando Parque Industrial(1933) revelou que a utilização das técnicas de vanguarda na composição de uma escrita que denuncia as condições de vida de operárias paulistanas,  não exclui o marxismo e o feminismo. 
 Do ponto de vista político, Pagu nos mostra que a militância partidária não rima com os crimes do stalinismo e todo seu lastro opressor. A escritora militante nos legou a convicção de que o comunismo requer liberdade. Mas será exatamente esta certeza que levaria Pagu a ser incompreendida pelos seus contemporâneos, sejam eles de esquerda(a canalha stalinista) ou de direita(os reacionários de sempre). Presa, torturada e marginalizada, Patrícia não abriu mão do projeto estético de vanguarda e da luta socialista: isto está registrado na segunda metade dos anos quarenta com o seu segundo romance A Famosa Revista(escrito junto com o seu companheiro, o jornalista Geraldo Ferraz); trata-se de uma crítica poética contra a máquina stalinista no Brasil. Outros exemplos que flagram o compromisso ético, estético e político de Pagu estão presentes em vários registros relacionados com a sua atuação junto ao movimento trotskista, na sua crítica aos componentes literários caretas da chamada Geração de 45 e na sua farta produção jornalística em diversos periódicos durante as décadas de quarenta e cinquenta.
  Esperamos sinceramente que a vida e a obra(seria possível separa-las?) de Pagu sejam estudas, pesquisadas e debatidas nas escolas, nas universidades e nos partidos políticos de esquerda.

                                                                              
                                                                             Afonso Machado  

domingo, 19 de outubro de 2014

O Surrealismo não é Avida Dollars:

Uma das maiores exposições já realizadas sobre o pintor espanhol Salvador Dali, chega ao Instituto Tomie Ohtake , em São Paulo. Este é sem dúvida um dos eventos artísticos mais importantes do ano, visto que Dali é um nome fundamental da arte moderna. Porém, a associação quase direta entre o pintor e o surrealismo, merece ser vista com reserva. Isto diz respeito evidentemente a um ponto de vista revolucionário, o qual foi encarnado de forma exemplar pelo movimento surrealista, mas jamais por Dali. 
 É claro que seria puro sectarismo não aceitar as contribuições plásticas de Salvador Dali para as sondagens do inconsciente, empreendidas pelo surrealismo. O método paranoico crírico, seria por exemplo, um avanço considerável que o artista espanhol apresentou para as pesquisas expressivas libertárias: uma contribuição pictórica que ajudou a dar prosseguimento ao automatismo psíquico reivindicado por André Breton no primeiro manifesto do surrealismo, de 1924. Porém, a operação realizada pelo surrealismo no plano da linguagem não se restringe ao plano da arte, pois o surrealismo não é um movimento artístico mas uma posição de revolta contra toda as estruturas(econômica, moral e política) da civilização burguesa. Não estamos falando de excentricidades, que tanto divertem a classe dominante. 
Os surrealistas desejam a destruição do modo de vida capitalista, sendo a arte e o comportamento, instrumentos transgressores que reivindicam " mais realidade ". Dali esteve altura destas exigências do movimento surrealista? Apesar de boa parte de suas pinturas exprimirem uma série de temas tabus(sobretudo naquilo que diz respeito ao sexo) , suas escolhas políticas fizeram dele um artista ambicioso, individualista e reacionário.No início dos anos trinta, quando os surrealistas aderem ao comunismo, Dali denominava-se um " anarco-monarquista ". Se isto poderia assemelhar-se apenas com mais uma " irreverência ", verificou-se de fato uma postura política conservadora nos anos seguintes: Salvador Dali saudou o general fascista Franco, quando este havia massacrado os revolucionários durante a guerra civil espanhola(Federico Lorca, que foi amigo de Dali, estava entre os mortos). Pouco tempo depois, Dali e sua companheira Gala, entregaram sua arte a um sistema publicitário que desvirtuou por completo o significado libertário da arte surrealista(Breton acabaria por apelidar Dali de Avida Dollars). Dali enriqueceu ao virar as costas para a posição combativa do surrealismo.
  É importante conhecermos e aprendermos com a obra de Salvador Dali. Mas, muito mais importante é conhecermos os propósitos filosóficos do surrealismo. Estes últimos não permitem que um surrealista ganhe dinheiro ou seja " aceito ", " bem sucedido ". Inimigo do sucesso e aliado do proletariado, o militante surrealista assume uma posição revolucionária diante da poesia, do amor e da liberdade.

                                                      
                                                                        Os Independentes
 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Arte e agressividade juvenil:

O caráter rebelde que define os principais movimentos culturais de juventude do nosso tempo, é da maior importância. Por que? As tendências conservadoras que proliferam na mídia capitalista, na educação tecnicista e nos discursos religiosos reacionários, procuram bloquear na juventude a saudável oposição ao sistema reinante. Adolescentes e jovens adultos não desafiam a moral burguesa por razões " hormonais ". A juventude simplesmente devolve através das suas atitudes e da arte, o que é negado: a felicidade e a liberdade numa sociedade sem classes. A violência, a frustração e as restrições são aspectos que levam a uma explosão criativa do corpo, como uma panela de pressão que não aguenta mais cozinhar uma cultura compatível com as injustiças sociais. É verdade que vários artistas carecem de uma formação política mais sólida. Mas mesmo assim, quando o volume de uma banda de punk rock por exemplo, é alto, não é porque o vocalista grita muito e o conjunto faz barulho pelo barulho: a agressividade musical apenas revela que as coisas não vão nada bem na civilização capitalista.
 O que está sendo ameaçado pelas instituições que professam a crença no capital, é a capacidade de oposição no plano na cultura. Felizmente, os jovens conseguem reinventar suas manifestações artísticas. Mesmo que não tenham recursos, uma parte da garotada apoia-se na criatividade para não perpetuar as convenções de uma sociedade que está corroendo o gênero humano. Lutemos para preservar este caráter rebelde nos movimentos culturais: é isto que permite trabalharmos por uma sensibilidade que exige a abolição do atual sistema.

                                                                                             Tupinik 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Breve balanço da militância audiovisual

:

A necessidade dos artistas militantes intervirem no processo politico brasileiro, faz da produção audiovisual uma trincheira de destaque no campo da cultura. A realização de filmes é uma prática que incorporamos à esta publicação desde o seu inicio. Não utilizamos expressão "vídeo" pois este diz respeito especificamente a um suporte definido pela sua tecnologia. Consideramos o cinema  um discurso audiovisual independentemente do suporte utilizado. O suporte pode ser fotoquímico, eletrônico ou digital. Sendo assim qualquer discurso audiovisual é um filme.
Acreditamos que nossos filmes são parte de um legado independente que intervem no cinema brasileiro atual. Trata-se de uma tática de guerrilha cultural, na qual o importante não é vencer, ocupar um espaço no mercado, mas resistir contra a mercantilização que faz da arte uma escrava do capital. Julgamos que grande parte do cinema brasileiro dos nossos dias ,que ocupa o mercado, destrói o autor cinematográfico. É em nome deste último que defendemos categoricamente a inserção do cinema na luta política da classe trabalhadora. A emancipação do autor no cinema depende da emancipação do próprio proletariado.

                                                     Afonso Machado / Orestes Toledo

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Pelo fortalecimento dos artistas de esquerda:

Se o trabalho do artista, inseparável de sua conduta e de sua posição política, é uma arma ideológica contra o sistema estabelecido, é necessário que o artista compreenda a sociedade em que ele se insere. Mais do que nunca neste país, necessitamos de artistas aliados da classe trabalhadora. Esta necessidade baseia-se no fato de algumas celebridades do mundo musical, teatral e cinematográfico assumirem uma posição política conservadora, elitista e portanto hostil ao avanço das organizações políticas de esquerda em geral.
 A obra de um artista não está acima da luta de classes. Sabemos que se o sistema é hostil ao trabalho daqueles que denunciam os privilégios da burguesia(e logo entram em choque com a moral desta classe), a marginalização torna-se quase que uma consequência " natural " deste processo. Porém, se o artista é um revolucionário, ele não se contenta com a mera (e nada ameaçadora) condição de marginal da cultura. Ele procura, ainda que da margem, direcionar uma série de esforços contra a sociedade estabelecida.
 Não deixemos que a figura do artista brasileiro se confunda com o horizonte tacanho da pequena burguesia. Contra o artista reacionário opomos o militante da cultura!


                                                                              Geraldo Vermelhão  

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A oposição artística dos nossos dias:

Para aqueles que não arredam o pé no combate contra a simbologia da classe dominante, são necessários alguns pressupostos para a ação cultural. Quando fala-se em oposição artística, deve-se levar em conta:




1- Autonomia total no processo de criação artística




2- A criação de espaços, nos partidos de esquerda, para a pesquisa e o debate estético




3- Reunir obras, periódicos culturais de esquerda e manifestações artísticas e encaminha-los  para as bases operária e estudantil: estabelecer um sistema independente de circulação(de textos, cartazes, vídeos, blogs, etc) voltado para sindicatos, escolas e centros culturais


4- Ocupar o espaço público através de iniciativas previamente discutidas entre artistas individuais e coletivos de artistas


                                                                                    Os Independentes

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Arte e consciência de classe:

O fortalecimento político da direita no Brasil, deve-se a uma série de razões históricas: crise na direção política do proletariado, fragmentação do espaço social do trabalho, hegemonia de doutrinas religiosas conservadoras e da mídia capitalista, privatizações, inflação, etc. Chegamos num momento em que o trabalho constante de construção da consciência política da classe trabalhadora, depende de um empenho cultural que não é " detalhe " ou " decoração " da luta política. Os fatores históricos que podem contribuir para a marcha do socialismo, não irão surgir com uma simples varinha de condão apoiada na crise econômica: dentro da luta de classes existem homens concretos e logo com uma percepção sensível particular da realidade. Portanto a experiência sensível e a dimensão psicológica dos indivíduos, colocam-se como partes essenciais do problema político.
  Precisamos investigar como a imagem, a palavra e o som desempenham, na realidade cotidiana dos trabalhadores,  uma função ideológica. Logicamente que o problema econômico permite avanços na consciência política, mas este torna-se insuficiente quando a própria educação política do proletariado é comprometida: os signos que historicamente representam o comunismo, precisam ser trabalhados junto aos companheiros que apresentam lacunas na sua formação política. Neste contexto, a arte que se desenvolve a partir do contexto cultural dos trabalhadores, pode atuar na consciência de classe. Longe de ser ladainha de um periódico cultural de esquerda, esta é uma certeza apoiada no fato de que uma classe social se reconhece não apenas em sua unidade política mas em sua identidade cultural.
 Os obstáculos ideológicos(religiosos e midiáticos, por exemplo) são muitos. Mas mesmo perante a crise política atual, a criação artística engrossa as formas de oposição ao capital.


                                                                                                Lenito  

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Cinema operário para operários:

As limitações do cinema político encontram-se em boa parte no seu público. Intelectuais de classe média não são em sua maioria, os espectadores adequados para filmes de contestação social. Se o intelectual não faz  a opção política pela classe operária, sua relação com o cinema torna-se apenas uma extensão cultural do seu universo político conservador. É preciso ampliar o público que receba filmes que estimulem não o debate pelo debate, mas o debate que se resolva na necessidade de abolir o capital.
 Sendo os intelectuais de esquerda minoritários, estes precisam se dirigir aqueles que não podem ser apenas objeto dos filmes: os trabalhadores. Um cinema ancorado na dialética marxista, só pode se desenvolver mediante as necessidades culturais de um público proletário. A construção deste público depende de oficinas e mostras de filmes nas periferias das cidades brasileiras. Além de estimular a produção entre autores cinematográficos de origem operária(o que se dá por exemplo em oficinas), a exibição de filmes possibilita a educação estética dos mesmos. Tendo como portas de entrada sobretudo as escolas públicas, tais iniciativas podem fazer germinar uma cinematografia que  arranque das telas o conservadorismo pequeno burguês.


                                                                               José Ferroso

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

As polêmicas ideológicas no romance social brasileiro:

Quando alguém decide escrever um romance engajado, não basta que a visão do escritor esteja comprometida com a denúncia dos problemas sociais. A ideologia do escritor não é garantia de uma escrita de qualidade. O escritor precisa dominar certas técnicas narrativas que permitem a reflexão sobre a realidade brasileira. Realismo não é desculpa para falar sobre a " verdade " mas uma opção estética em que a verdade dos fatos revela-se pela trama do texto.
A composição de um romance que se propõe a falar dos problemas da realidade, não deve fazer com que as passagens e a vida dos personagens sejam artificialmente conduzidas pelas opiniões políticas do autor. Esta se manifesta a partir das contradições interiores do personagem, dos conflitos que surgem não enquanto ilustração sociológica mas enquanto construção literária que contribui dentre outras coisas com a sociologia.
 A prosa é uma costura que trabalha através do fio da dialética e não de um pretexto que expõe sem elaboração estética a opinião política de quem escreve. A visão do autor não é falada artificialmente pela boca de todos os personagens. Cada personagem, em sua verdade interna, compõe o todo: é aí que o pensamento do autor revela-se; o que acaba por transparecer é a necessidade política de transformação política.  No plano do romance, a ideologia revolucionária se faz ouvir pelas estruturas literárias: estas devem ser problematizadas na hora de se fazer a denúncia social.


                                                                        Lúcia Gravas

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Considerações políticas para a música jovem:

A identidade política presente na música feita hoje no Brasil, merece ser pensada de acordo com o ambiente de classe. Quando desejamos compreender as atitudes do ouvinte, devemos saber exatamente como ele pensa, isto é, qual seria a sua posição política de classe. Longe de mim cair naquela onda mecanicista, como se a condição sócio econômica determinasse mecanicamente o gosto musical. É claro que isto seria um erro. Porém, a luta de classes exprime suas melodias... Por exemplo, existe um fator de classe quando muitos jovens de periferia definem o rock como sendo música de "playboy ".  Preso ao ambiente de classe média, os chamados " clássicos do rock " são itens de jovens bem abastados. Ao mesmo tempo ninguém consegue contestar o fato do rock ter contribuído muito para a contestação da ordem social estabelecida.
 A música pode exprimir o conflito de classe mas não define de antemão a consciência de classe. Samba, rap e punk rock podem denunciar e ser expressões musicais da juventude de esquerda. No entanto, o alcance desta compreensão que passa pelas sensações despertadas a um só tempo pelo som e pela letra da canção, limita-se a poucos militantes. Um sindicalista combativo e logo comprometido com a sua categoria, pode ser tremendamente conservador em seu gosto musical.
 Uma das tarefas mais importantes hoje para a esquerda, passa pela necessidade de uma educação musical. Esta é uma aliada no cotidiano do proletariado.


                                                                         
                                                                                    Tupinik









terça-feira, 7 de outubro de 2014

A oposição da arquitetura moderna brasileira:

O papel político transformador da arquitetura hoje no Brasil, envolve completar uma missão histórica. É lógico que a arquitetura não está isolada do processo político, mas ela é um aspecto do movimento cultural que reorienta o olhar no espaço. Atualmente as heranças da arquitetura moderna, ancorada em gente como Lina Bo Bardi, opõem-se ao que está sendo chamado de " arquitetura-show ": contrariando a moda que adequa a arte de construir aos preceitos da sociedade de consumo e do individualismo, as lições da moderna arquitetura brasileira são pensadas de acordo com a necessidade de uma transformação do espaço e de uma redefinição do espaço público.
  A prova de que o projeto libertário da arquitetura moderna do Brasil ainda é parte do debate cultural, está nas exposições sobre a arquiteta Lina Bo Bardi, em São Paulo. A Casa Brasileira, o Sesc Pompeia e a Casa de Vidro são instituições que tomam o trabalho da arquiteta enquanto tema. São oportunidades imperdíveis para jovens arquitetos que desejam contribuir com uma retomada estética e política mais substancial da nossa arquitetura. Entre a vanguarda e o popular,a moderna arquitetura brasileira ainda é uma exigência de transformação social.


                                                                                        Marta Dinamite 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O artista politizado não tem medo de bandeira:

Como é recorrente ouvirmos artistas, curadores e críticos se referirem ao caráter político da arte como algo vago, para não dizer despolitizado. Para muitos deles a obra de arte pode exprimir temas políticos e questões sociais, mas desde que o artista " não segure nenhuma bandeira ". De que se trata? Para estas pessoas, o olhar do artista está isento de ideologia política, sendo que a sua obra exprime tão somente " um olhar individual ". Portanto na obra de arte, a apreensão pessoal não revela nenhuma tomada de posição sobre o problema político. A obra de arte não representaria/comunicaria nenhuma perspectiva que se relacione com a transformação da sociedade. Perante este absurdo, se faz necessário dizer que o artista quando compenetrado no universo social,  inevitavelmente exprime uma ideologia: e esta não é pessoal, pois ela se relaciona com as formas de consciência política numa determinada realidade social.
 Em arte a perspectiva pessoal passa pelo estilo de composição, pela pesquisa plástica que diz respeito ao trabalho de um determinado artista(ou de um determinado grupo de artistas). Isto tudo, sem dúvida, não pode ser atropelado ou desconsiderado na criação artística. Mas todos estes pressupostos, não são em nada diminuídos em importância estética  quando o artista possui consciência política revolucionária e decide exprimi-la na sua obra. A arte que se propõe politizada não pode se contentar com o lugarzinho seguro daqueles que se protegem na sua "ilha pessoal ". O artista que não nasce e morre dentro de si, não tem medo de segurar bandeira.

                                                                                Geraldo Vermelhão   
   

sábado, 4 de outubro de 2014

Os laços entre poesia e política:

A poesia é um alimento fundamental para a política não se distanciar do desejo. Enquanto seres desejantes, nos projetamos na direção emancipadora do socialismo. Este objetivo político permitirá, como disse Trotski, que tanto o pão quanto a poesia sejam direitos de todos os seres humanos. Ou seja, a luta pela coletivização dos meios de produção é o que pode fazer emergir uma nova cultura: um sentido profundo de beleza irá conduzir a vida humana, cujos conflitos não serão mais de ordem econômica.  Existem indícios para esta conquista política no Brasil, e em outros países, hoje? Na véspera das eleições(esta não nos levará por si mesma ao socialismo, mas é inegável sua contribuição para construirmos uma ampla organização política popular) a esquerda diverge sobre as estratégias a serem usadas para chegarmos ao norte socialista. Mas paralelamente aos esforços da militância política, não podemos deixar de perder de vista algo não menos importante: a necessidade da poesia para a emancipação humana.
 Não é tanto o poema que fala de ideias políticas progressistas, mas a poesia enquanto portadora de uma nova consciência, de uma nova atitude que recusa os valores e as práticas da classe dominante. Exteriorizar os abismos do sonho e do amor por exemplo, contribuem indiretamente para construirmos uma cultura no sentido socialista: combater a linguagem da dominação através da poesia ajuda a despertar uma outra realidade. É esta mesma realidade do desejo que a poesia e a luta socialista esforçam-se por construir. Além da disputa eleitoral, útil  na denúncia contra as forças políticas conservadoras, a esquerda(de um modo geral) deveria ler mais sobre poesia. Deveriam conhecer, por exemplo, a perspectiva poética revolucionária de gente como André Breton.


                                                                                     Os Independentes 


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Mostra Luta!, 2014:

O combate contra a cultura dominante ganha fôlego com a sétima edição da Mostra Luta!, em Campinas. Como falam os próprios organizadores no folder do evento, " A Mostra Luta! já se consolidou como um importante espaço político cultural de debate e atua na promoção, discussão e difusão das lutas sociais, fazendo um contraponto ao conteúdo divulgado na mídia empresarial ". Com estas palavras, fica fácil compreender a importância desta verdadeira trincheira cultural.
  Em sua sétima edição, a Mostra Luta! apresenta importantes discussões envolvendo a Cultura Negra na cidade de Campinas e os 50 anos do Golpe de 64. Filmes, fotografias, desenhos, teatro, dança e mesas de debate prometem agitar a vida cultural campineira do dia 10 ao dia 19 de outubro. Promovendo debates, o evento amplia-se através da segunda Mostra Luta Itinerante em escolas públicas de Campinas, voltada para o pessoal do EJA(Educação de Jovens e Adultos). A mostra ainda irá percorrer vários espaços públicos da cidade como praças, comunidades e museus. Todo poder à Mostra Luta!

                                                                                  
                                                                                 Conselho Editorial Lanterna

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A necessidade de um teatro proletário:

Diante das eleições, o que pode um ator? Ele pode fazer propagandas para partidos políticos, sem dúvida. Mas nos pontos de ônibus, nos camelódromos, na beira das praças, em frente ao boteco, existem tantas possibilidades cênicas... São contextos não apenas para publicidade mas para arte politizada. Estes espaços pedem um teatro político que seja ágil, objetivo, funcional e popular. Se tudo o que existe pode ser teatralizado, então por que diabos os atores ficam segurando na barra da saia dos gregos, reproduzindo ilusões com tragédias e comédias nos quais muda-se apenas o texto? Um teatro proletário, que comunica a necessidade de transformação política, possui outros imperativos estéticos.
  Teatrólogos como Piscator e vários outros andam esquecidos. Na minha opinião existem fortes motivos ideológicos para isso: ao desmistificar a distância entre ator e público, entre arte e reportagem, entre teatrólogo e militante, o teatro proletário dos teóricos de esquerda do início do século passado, contribui para converter a ação teatral num exercício cotidiano de reflexão social e contestação política. 
  Estando poucos dias do primeiro turno das eleições, a cultura revolucionária pede enquanto ação informativa/viva, um teatro proletário. Alguns jovens militantes do teatro já colocam esta ideia em andamento.

                                                                                              José Ferroso  

Documentários precisam estar comprometidos com a memória dos militantes:

O gênero do documentário é imprescindível para que a luta cotidiana dos militantes de esquerda seja registrada. O documentário Libertem Angela Davis, de Shola Lynch é um grande exemplo disso: no filme vida da militante norte americana Angela Davis é  enfocada: professoras de filosofia, Angela esteve á frente de importantes lutas no início dos anos setenta.
Além de ter sido aluna do filósofo Marcuse, ela foi uma aguerrida comunista que esteve ligada aos Panteras Negras. Perseguida e presa, a trajetória de Angela Davis é definitivamente digna deste filme. Além dela, uma série de outros militantes, assim como organizações políticas de esquerda e movimentos sociais, esperam pelas câmeras de documentaristas corajosos: estes fazem do documentário um formidável instrumento de reflexão histórica(e este é um dos papeis do audiovisual).

                                                                                    Lúcia Gravas 

      

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Marx exige a valorização da Estética:

Entre preguiçosos e canalhas, entre liberais e pós-moderninhos, é comum ouvirmos: " Marx preocupou-se somente com Economia Política e não com arte ". Este comentário feito por pessoas que não se deram ao trabalho de ler o autor comunista, não sofrem apenas de miopia intelectual mas de um ranço teórico que fundamenta o individualismo de muitos artistas. Contrariando esta gente que infesta a imprensa, a universidade e as escolas, é preciso mostrar que Marx não apenas considerou as questões culturais a partir do materialismo,  mas legou um método que exige a valorização do campo estético.
 Já no clássico Manuscritos Econômicos Filosóficos, de 1844, Marx afirma que " A percepção sensível deve ser a base de toda ciência. Só quando a ciência começa pela percepção sensível na sua forma dupla da consciência sensível e da necessidade dos sentidos - quando a ciência começa pela natureza- ela é verdadeiramente ciência ". Sem querer adentrar aqui pelos problemas que Marx levanta para a atividade científica, fica evidente que se o conhecimento depende de uma percepção sensível sobre a realidade, a Estética é uma dimensão eleita para tratar da interpretação e da transformação da realidade. 
 O que difere Marx de outros pensadores dispostos apenas a interpretar o mundo, é que o pensador alemão era um homem voltado para a práxis; ou seja o cara era um militante revolucionário. Se antes da moral existe o estômago(como frisou Brecht) é  porque o conjunto da superestrutura nasce da realidade concreta; e nesta concepção filosófica, a arte está longe de ser uma entidade metafísica que paira sobre o indivíduo. A criação artística decorre da realidade material pré-existente, sendo os sentidos humanos que apreendem a arte, construidos historicamente, isto é, na realidade material. É lógico que isto não faz da obra de arte uma mera extensão temática do fato econômico. Mas se consideramos que a realidade econômica, política,social(e portanto sensível) do homem pode ser modificada, então o marxismo revela a função da arte do nosso tempo: lutar pelo fim da sociedade capitalista. Existem vários caminhos para comunicar esta necessidade de libertação do homem. Paralelamente, a crítica marxista que não é maleta, deve combater os mecanicistas que imobilizam  materialismo dialético: alguns marxistas caem na tentação burguesa de achar que a análise da arte depende de uma relação mecânica entre infraestrutura e superestrutura. Estes chatos de galocha adoram entiquetar de " idealistas " aqueles que não se enquadram no seu modelito economicista. Coitados, não sabem que são stalinistas...
    Embora Marx não tenha desenvolvido nenhuma Estética em particular, seu pensamento exige um tratamento aprofundado do assunto. Quem considera Marx economicista é porque além de desconhecer a dialética, não leu Marx.

                                                                                      Os Independentes

Artistas que lutam de olhos abertos:

Os monstruosos(e conhecidíssimos) apelos publicitários utilizados em campanhas políticas, fazem da Estética um território de dominação e não de conhecimento sobre a realidade.Além da crítica e da denúncia racionalizadas na ação política, devemos insistir no conhecimento sensível que a arte proporciona. Contra a manipulação dos sentidos pela máquina capitalista, que faz da classe operária mera espectadora do processo eleitoral, os artistas militantes devem reagir com intervenções em espaços populares. 
 O estranhamento, o choque e a reflexão são elementos que a arte combativa deve propor pelos próximos dias. Teatro de rua, cartazes, cantos enraivecidos, tudo é útil para que a criação artística seja entendida enquanto forma de oposição ao aparato midiático atrelado aos interesses capitalistas. O poder, a força dos trabalhadores é enriquecida pela arte insone que não deixa o trabalhador cochilar ou se distrair com mentiras. " A mentira real da arte " pode mais.

                                                                                            Lenito