quarta-feira, 30 de abril de 2014

Orientação Cinematográfica para o Primeiro de Maio:

Neste próximo Primeiro de Maio, a câmera deverá ser um instrumento político decisivo nas mãos dos trabalhadores. O ato de filmar é tão importante quanto a bandeira ao vento ou o cartaz levantado. É pelo testemunho audiovisual que todos nós podemos aguçar nossa percepção sobre as implicações históricas combativas do Primeiro de Maio. Com o fim da farra ilusória em torno da débil expressão " classe C ", a crise econômica e o inconformismo político são captados pela lente, mostrando que a terminologia proletário ainda corresponde aos fatos.
  Recomendamos que os militantes percorram as ruas de suas cidades, filmando sem o filtro ideológico da cultura dominante, o verdadeiro movimento da vida: praças, faixas, cartazes, espuma de cerveja, sorrisos, vaias, aplausos, cantoria , beijos, plantas e gatos nos telhados. Que o olho das câmeras possa decifrar as contradições , diferenciando em seus resultados previamente filmados, quem é pelego e quem é revolucionário. Quais bandeiras são realmente vermelhas e até onde as bandeiras negras podem ir. O que sabe o operário deste dia de luta. Como os trapos de um morador de rua coloca em cheque a marca de uma multinacional. Enfim, é o cinema verdade uma estratégia que deve testemunhar a luta operária. Devemos levar os frutos obtidos na montagem para os blogs, as redes sociais, as salas públicas de exibição, sedes de partidos e sindicatos, etc.  Camaradas: engatilhem suas câmeras!


                                                                               Os Independentes   

terça-feira, 29 de abril de 2014

No centenário de Lina Bo Bardi, refletimos sobre o espaço coletivo:

Em várias partes do mundo, críticos e arquitetos estão refletindo sobre o legado de Lina Bo Bardi. A transformação do espaço em sua  dimensão coletiva é uma ideia central que ainda não foi superada dentro da arquitetura contemporânea. Em meio á exposições no Brasil e no exterior que comemoram o centenário da artista, o que talvez seja vital no trabalho de Lina é o revolvimento dos espaços de convivência social, estabelecendo uma intervenção política na lógica individualista da cidade capitalista. 
 É o espaço livre voltado para a coletividade, a essência do projeto arquitetônico de Lina. Portanto no Brasil de hoje, quando o espaço público vem sendo destruído pela especulação capitalista, as concepções arquitetônicas de Lina Bo estão ligadas a um projeto de transformação política revolucionária. Observamos nas grandes cidades brasileiras de hoje um mar de individualismo e de tragédias coletivas: mendigos e viciados enquanto produtos históricos das relações de trabalho no capitalismo, ao mesmo tempo em que a projeção de edifícios e a organização do espaço são presas da alienação social. As contribuições de Lina(da valorização da cultura popular nordestina até o traço moderno) não podem sair da nossa pauta cultural.


                                                                                        Lúcia Gravas 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Gabriel García Márquez e a contribuição combativa do Realismo Mágico:

A morte recente do escritor colombiano Gabriel Gárcia Márquez, nos coloca na trilha de uma reflexão aonde atravessamos os labirintos políticos da literatura latino americana. No Brasil muitos leitores conhecem  mais da literatura francesa, inglesa e norte americana do que da obra de escritores latino americanos. Este comportamento mental, tipicamente colonizado, aponta no plano literário para a nossa fragilidade política enquanto continente explorado pelo imperialismo norte americano. Tá, no caso de Gabriel Márquez, mundialmente famoso, está claro o reconhecimento(mais do que merecido!) da sua obra; portanto não é de se estranhar que até a mosca mais besta de classe média já ouviu falar em romances como Cem Anos de Solidão(1967). Mas eu pergunto, está claro entre os leitores brasileiros a contribuição combativa de movimentos literários latino americanos, tais como o Realismo Mágico? 
  O movimento do Realismo Mágico, que deu sangue novo á literatura hispânica entre os anos sessenta e setenta(influenciando também escritores brasileiros, como Dias Gomes, por exemplo), ainda é um território interessantíssimo por onde brota nossa simbologia e nossos anseios ideológicos de libertação. Claro, nem tudo no Realismo Mágico foi revolucionário, mas ninguém pode negar que em Gabriel assim como no peruano Manuel Scorza e no argentino Julio Cortázar, este movimento corresponde a uma grande escola de enfrentamento ao autoritarismo dos regimes militares: os ditadores subiram pelas latrinas das burguesias apavoradas com o avanço político dos trabalhadores no continente. Este movimento desafia o pensamento colonizado ao optar por narrativas que negam o tempo linear, o racionalismo europeu. É uma experiência estética em que o fantástico nos faz refletir sobre os problemas sociais, sobre as contradições do mundo real. 
  É preciso que o ensino em literatura no Brasil articulado a uma crítica literária de esquerda, possa difundir e debater a obra de Gabriel Gárcia Márquez e outros autores da literatura hispânica.Gabriel Márquez, homem que fez da palavra escrita um gesto de sondagem cultural e política latino americana( ele estendeu a mão para Fidel Castro e saudou a Revolução cubana) nos oferece uma grande lição literária.


                                                                                       Lenito 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

No musical " Walmor Y Cacilda 64- Robogolpe ", Zé Celso pretende reafirmar o poder do teatro:

Zé Celso, o incansável guerrilheiro antropófago, reafirma mais uma vez o poder libertário do teatro no espetáculo Walmor Y Cacilda 64- Robogolpe, que estreia hoje no Teatro Oficina, em São Paulo. A capacidade de síntese entre períodos históricos e diferentes contextos estéticos ainda é o grande barato do diretor. O sistema capitalista em sua brutalidade está representado tanto no Dopes quanto no tanque de guerra humano denominado Robogolpe. A cósmica acidez política do musical promete; afinal, a opressão permeia entre 1964 e 2014 o mesmo palco brasileiro. 
 Em socorro á liberdade, Zé defende que o artista gera ao lado do povo formas de oposição á força bruta. É a crise de um poeta respondida pelo poder de subversão das forças da natureza:  a magia da arte, o elemento vital que assegura a nossa liberdade. É a luta do teatro contra a opressão, exposta quando os atores Walmor Chagas e Cacilda Becker(personagens da peça) são interrogados pelas autoridades. Que sacada histórica! Tudo indica que a companhia promete um espetáculo pra lá dos bons.
  Em cartaz aos sábados (21 h) e Domingos(19 h) esta temporada se estende até 1 de junho.  Saudamos o Teatro Oficina por mais este exemplo de criatividade e crença de que o ato teatral colabora(mais do que se possa supor) com a emancipação social. Merda!


                                                                                Geraldo Vermelhão
  

A literatura pode mobilizar tanto quanto uma campanha salarial:

Quando uma determinada categoria de trabalhadores está em greve ou participa de uma eleição sindical, as formas de comunicação pela palavra escrita podem ir muito mais longe do que um simples panfleto. Melhor dizendo, o panfleto(assim como o jornal) pode explorar suas possibilidades de linguagem e se converter em objeto literário. O poema ou a prosa(especialmente enquanto conto) não são manifestações metafísicas e tão pouco objetos de mero deleite. Se o trabalhador lê no ônibus, no metrô, no banco da praça ou em qualquer outro espaço, o texto(digital ou impresso) é uma experiência incompleta se não mobiliza a sensibilidade.Tão digno quanto se preocupar com a urna ou com uma reunião de Direção sindical, é varar a noite pesquisando formas literárias que ocupem o espaço cultural do proletariado.
  O que precisa ser entendido é que a consciência de classe não é um processo unicamente racional. Entre a frieza dos números e a manipulação publicitária existe a trilha feita de palavras que tocam e decifram o real. Os companheiros precisam ter em mente que as relações entre economia e literatura não se resumem na publicação e no preço de um livro. O texto literário não se furta ao problema socioeconômico quando ele é a expressão viva e sensível de algum determinado setor da luta de classes.
 Que a imprensa operária estimule e dê o devido crédito para a produção literária dos seus militantes!


                                                                                          Lúcia Gravas

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Teatro sem cinto de segurança(ou de castidade)

Quem pode levar a sério o teatrinho colonizado que infesta várias salas de espetáculo do país? Só mesmo a própria classe média colonizada, limpinha e fedendo a fast food. Mas quando examinamos de perto o teatro brasileiro que realmente colabora para a destruição dos valores burgueses, existe uma variedade de companhias que a trancos e barrancos faz do espetáculo uma experiência transformadora. Entretanto, alguns ainda insistem em conceber a natureza revolucionária do espetáculo unicamente no texto em detrimento da concepção teatral. Esta é uma tara até certo ponto perdoável, já que comunicar os objetivos do socialismo em cenas é um belo e necessário caminho. Mas existe um outro caminho(que não chega a excluir necessariamente o texto de conteúdo político revolucionário), que se não for politizado ou pelo menos entendido em seu valor político transgressor, continuará a ser uma presa fácil para o apetite neutralizador da academia. Falo especificamente daquele tipo de teatro aonde corpo, luz, cenário e canto coexistem num impulso libertário: este pode ajudar á descolonizar a sensibilidade e contribuir seriamente para balançar a superestrutura(ou pelo menos arranha-la, mancha-la com estilo).
  Hoje em dia muitos atores e encenadores que sofrem de preguiça ideológica, adoram batucar, saltar e rolar pelo palco mas sem romper com a lógica burguesa, com a própria convenção teatral. Não tem o menor sentido bancar o moderno agindo como clássico! Todas as batalhas estéticas do modernismo que trouxeram liberdade formal, não se separam do confronto contra as regras do mundo civilizado. Pensemos mais uma vez na montagem da peça Bailado do Deus Morto, pelo Teatro da Experiência em 1933. O bando destemido de Flávio de Carvalho, fez um mix maravilhoso entre expressionismo e tragédia clássica, levantando em cena um grande voo psicanalítico: a origem animal dos mitos, do sagrado, os tabus da civilização ocidental... Toda uma transa teatral que ameaça o conforto psíquico amparado pelo conservadorismo religioso. Não deu outra: a burguesia paulistana ficou possessa, a censura caiu de pau e os tiras fecharam o Teatro da Experiência.  Percebem? A subversão da forma, na qual o espetáculo vem de um texto mas não se submetendo a ele(rompendo assim com as tradições cênicas de boa parte do teatro ocidental), é inseparável de uma subversão maior, de um gesto político mais profundo contra a classe dominante. Uma grande força erótica que cruza historicamente o Teatro da Experiência com o Teatro Oficina e outros grupos brasileiros, ataca com encantamento e violência as raízes burguesas em nós.
 Tá ai um teatro revolucionário que precisamos estimular cada vez mais entre a juventude que pratica a principal arte de Dionísio.


                                                                                  Tupinik    

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A produção artística das comunidades é uma alternativa aos centros de poder cultural:

Fiquei de bode quando um jovem me disse que não sabia se levava a sério ou não o seu futuro(ah, as ladainhas sobre carreira) enquanto " artista ". Tudo porque ele não poderia  ingressar agora em alguma faculdade aonde " se ensina a ser um profissional do mundo da arte ". Esse sujeito é um ótimo escultor e um grande romancista em potencial, mas precisa trabalhar em alguma área que lhe forneça a grana para integrar o dinheiro da família de trabalhadores. Qual é o grilo? Trabalhe como operário para viver, trabalhe/milite como artista para gritar! É nojenta a mentalidade colonizada que defende o artista a partir do reconhecimento de alguma forma de autoridade, inclusive acadêmica.  Não tenho dúvidas de que fazer faculdade de letras, artes visuais, artes cênicas, cinema, etc e tal, pode ser de grande ajuda na formação artística de alguém(bons professores, estrutura para pesquisar, sim, é bom). Mas a pergunta é: será que isto é indispensável? É determinante? Será que a existência do artista se dá pelo aval de algum centro de poder cultural, como as universidades?; ou pior ainda: pelo mercado, a quem as universidades de hoje estão submetidas? Pessoalmente eu acredito que todos nós somos artistas em potencial e que é preciso nos apropriarmos das fontes, dos meios, para criarmos manifestações que assumam posições contrárias ao Estado capitalista.
  Aqui neste blog a gente sempre utiliza alguma referência histórica para dar botinadas na cultura dominante do nosso tempo. Neste meu textinho de hoje, faço questão de recordar o exemplo dos escritores e dramaturgos anarquistas do Brasil do início do século passado. Eles não estão nos grandes manuais de literatura e nem são discutidos pelas grandes companhias teatrais. Sorte deles! Os caras eram muito livres como artistas e também muito comprometidos com o movimento operário, para se tornarem celebrados! Estou falando de artistas operários, que enquanto militantes anarquistas, escreviam de acordo com a realidade do proletariado. Gente como José Oiticica, Pedro Cattalo, Astrojildo Pereira (futuro militante comunista),  Avelino Fóscolo, Guglieco Marroco, Gigi Damiani e muitos outros autores libertários ensinam a dizer não a qualquer forma de autoridade e ao mesmo tempo valorizar as capacidades criativas dos trabalhadores. Tendo isto tudo por referência, as comunidades precisam continuar a intensificar a sua produção cultural. Um próximo e valioso passo é a intersecção destas vivências culturais entre bairro, escola, conselhos populares e meios de comunicação próprios.
 Gostaria de dizer ao meu jovem amigo que ele pode estudar e trabalhar naquilo que quiser. Mas isto não o impedirá de ser um artista libertário. Um artista sem cabresto e que milita pela sua comunidade.


                                                                                       Marta Dinamite

terça-feira, 22 de abril de 2014

A Revolução Surrealista é parte da Revolução Proletária:

A simpatia e adesão de alguns dos nossos pelo Surrealismo, resultou mais uma vez em críticas superficiais, que apesar de suas intenções " pretensamente marxistas ", passam longe do materialismo dialético. Dizer que o interesse de um poeta ou de um pintor  pelo sexo e pelos assuntos ligados ao inconsciente, não condiz com a arte que se quer revolucionária, equivale a um juízo tipicamente burguês, que separa o desejo da luta política. A posição surrealista perante o mundo, o seu estado de revolta configurado em atitudes contestadoras e em expressões artísticas libertárias, não apenas condiz com os interesses históricos da classe operária como ao mesmo tempo zela pela elevação do debate cultural socialista.
  Não pretendemos opor as concepções artísticas do Surrealismo á outras  maneiras de se entender o papel emancipador da arte. Hoje em dia não existe o menor sentido em defender, em termos artísticos, uma única plataforma em detrimento de outras: crentes de que a arte deve expressar uma grande rebelião contra a civilização burguesa, acreditamos que diferentes doutrinas podem coexistir na mesma luta. Se a arte deve assumir uma posição perante o capital(existindo portanto artistas revolucionários assim como artistas reacionários), isto pode ser feito, dentro da perspectiva revolucionária, de diferentes maneiras. Quando alguns articulistas deste blog defendem o conceito de arte proletária, uma questão antiga que a exemplo do Surrealismo vem de lá dos cafundós temporais do início do século passado, obviamente que isto levanta polêmicas. Não somos adversários da arte proletária, desde que esta não se confunda com razão de Estado, com " doutrina estética oficial do comunismo " ou simplesmente com malabarismos de linguagem que fazem a fetichização da miséria social e levam ao esgotamento das possibilidades formais dentro da propaganda. 
 Sempre quando se tenta debater os propósitos revolucionários do Surrealismo em alguns ambientes de esquerda, ocorrem reações diversas. Felizmente entre a maioria dos trotskistas, o Surrealismo não é Bicho Papão, estabelecendo assim um certo interesse por parte da juventude. O mesmo podemos dizer em relação aos anarquistas. Mas em outros ambientes, geralmente marcados por uma visão nacionalista na cultura,  paira uma grande confusão na cabeça de militantes: é como se a arte que não exprime diretamente ideias políticas seja contrária aos interesses históricos do socialismo. Que pobreza espiritual! Que atraso perante aqueles que deveriam estar atentos ás formas culturais inimigas da burguesia!  No caso do Surrealismo em particular, práticas como a escrita automática e as collages, são gestos revolucionários porque possibilitam a queda de todo controle racionalista ao qual a classe dominante nos submete diariamente. A arte surrealista entendida de acordo com o pensamento de homens como André Breton, nos leva ao enfrentamento contra a realidade mesquinha do capital: no Surrealismo o amor e a liberdade são experimentados pela poesia selvagem e que portanto desconhece a domesticação do humano. Que os companheiros abram a cachola e se permitam ter contato com a experiência surrealista!


                                                                                     Os Independentes   

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O cinema brasileiro deve se levantar contra o imperialismo:

Nos meios cinematográficos está ocorrendo uma discussão em torno da questão da chamada Cota de filmes. Esta medida que visa garantir um espacinho nas salas de exibição para o cinema brasileiro, vem sendo discutida entre cineastas, produtores, distribuidores, críticos, etc(algumas pessoas chegam até mesmo a pedir a sua revogação). No nosso entender este mecanismo governamental garante um pãozinho cinematográfico, que está longe de matar a nossa fome cultural perante o cinema imperialista norte americano. Sem a Cota de filmes não temos sequer chance de competir com Hollywood, mas quem disse que o cinema brasileiro deve dançar conforme a música do mercado? Para muitos cineastas mergulhados no liberalismo, o cinema brasileiro deve ser um fenômeno de público(como alguns filmes já o são) e portanto estar integrado ao esquema econômico inseparável dos apelos convencionais de estéticas abobalhadas, cuja função é cumprir uma missão comercial. Estes caras desejam apenas blockbusters, o que em nossa opinião é a concessão do colonizado ao gosto, aos padrões culturais do colonizador.   
   Aproveitando a data deste 21 de abril, precisamos pensar um movimento cinematográfico separatista...  É claro que não precisamos sacrificar filmes como bodes expiatórios, mas defender a politização do nosso cinema. O filme deve ser encarado enquanto arma educativa que precisa descolonizar o olhar, revolucionar a sensibilidade dos trabalhadores brasileiros. Precisamos de uma produção audiovisual feita na marra, capaz de circular em salas públicas de exibição, bem como em escolas e sindicatos. Isto já é feito! Já é realidade cultural! O que precisamos é ampliar uma produção audiovisual que enfrente o imperialismo. Algum crítico ou cineasta " eclético " poderia dizer que o Brasil precisa tanto de filmes comerciais quanto de " filmes de arte ". Abaixo esta falsa dicotomia! Brecht já nos ensinou que é possível pensar e curtir ao mesmo tempo. Portanto, o que falta ao cinema brasileiro é um projeto político revolucionário capaz de divertir, fazer pensar e formar um público cujos interesses históricos passam pela libertação.


                                                                                        Lenito

sábado, 19 de abril de 2014

Os artistas sociais segundo Mário Pedrosa:

(...) No outro lado, colocam-se os artistas sociais, aqueles que se aproximam do proletariado e, numa antecipação intuitiva da sensibilidade, divisam a síntese futura entre a natureza e a sociedade, destituída afinal dos idealismos deformadores e das convulsões místicas das carcomidas mitologias(...). 


                                                                                 Mário Pedrosa

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Leonardo Padura e os rumos da literatura cubana:

 Aqui e acolá multiplicam-se no Brasil as discussões sobre a atual literatura cubana , como comprova o debate ocorrido no último dia 15 com o escritor Leonardo Padura, no Sesc Consolação em São Paulo. Entre o fim do ano passado e o presente momento, o autor cubano vem chamando a atenção da intelectualidade brasileira com o seu romance O Homem que Amava os Cachorros (o livro saiu pela editora Boitempo). Se em território brazuca  o livro recebeu críticas elogiosas(inclusive da própria presidente Dilma) e configura-se enquanto um " sucesso de vendas ", para nós militantes da cultura esta badalação toda praticamente não interessa. O que está em questão é como uma obra voltada para um assunto tabu em Cuba, sinaliza para mudanças quanto á política cultural daquele país.
  Leonardo Padura é inquestionavelmente um escritor ousado... Redigir um romance cuja trama central envolve Leon Trotski e o seu assassino Ramon Mercader, é para os padrões políticos de Cuba, no mínimo um fato inusitado. Ao importar o modelo político stalinista, o que atesta as características políticas de um Estado socialista deformado, o governo cubano sempre concebeu Trotski como nome maldito: a patrulha ideológica de Fidel reprimiu as concepções trotskistas na Ilha. Longe de nós desmerecer as conquistas históricas da Revolução de 1959: los barbudos enfrentaram e expulsaram o imperialismo norte americano e criaram um regime que modificou consideravelmente as condições de vida dos trabalhadores cubanos. Entretanto, a vida cultural(bem como a política) vem sendo dos anos sessenta até hoje atravessada por inúmeras contradições: enquanto artistas e escritores sofreram por não se submeterem ao ritmo da flauta dos modelos estéticos e morais importados da Ex-União Soviética(sendo que muitos deles foram encarcerados e mortos por suas opções ideológicas e até mesmo sexuais), ao mesmo tempo dá pra desconfiar até que ponto a doutrina do realismo socialista vingou em Cuba. Em 1964 por exemplo, o filme Soy Cuba, uma co-produção com a Ex- União Soviética, não agradou cineastas e críticos cubanos com sua estética viciada pelo zhdanovismo(na época eles estavam mais interessados no Cinema Novo de Glauber Rocha do que em realismo socialista). 
 Se a política cultural de Cuba cometia crimes ao proibir instrumentos musicais como o saxofone, por possuírem uma possível conotação " imperialista ", este odioso nacionalismo tipicamente stalinista desagradou durante décadas artistas e escritores, que mesmo apoiando a Revolução, nunca se submeteram a estas manifestações de imbecilidade política. Leonardo Padura é um exemplo disso: hoje os seus romances, em geral ligados ao gênero policial, ganham espaço na vida cultural cubana(o seu mencionado romance foi premiado). Estaria a vida cultural cubana se modificando?
  As pressões imperialistas ameaçam Cuba, é verdade. Mas a inserção de ideias revolucionárias via literatura, podem não enfraquecer mas alargar os horizontes estéticos e políticos dos trabalhadores cubanos. O internacionalismo trotskista(ainda pouco conhecido em Cuba), que possibilita o entendimento da literatura enquanto expressão revolucionária e não doutrina partidária, poderá ser útil para a atual cultura cubana. Mais importante em saber se Padura é ou não revolucionário(ele faz críticas mas também defende o governo revolucionário), é compreender os sintomas políticos que a sua literatura carrega.



                                                                                     Os Independentes 

Das notas de Brecht sobre o Teatro Dialético:

(...) Esforça-se por ensinar ao espectador um comportamento prático, o do homem que luta para transformar o mundo(...) O palco não reflete a desordem " natural " das coisas; o que procura é o oposto, é a ordem natural. Para descobri-la é necessário partir da História da sociedade. 


                                                                                             Bertolt Brecht 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Quem canta pra valer, arrisca a própria cabeça:

Cantarolar pode parecer inofensivo, mas não é. Jogar pelo canto palavras que exigem um outro ritmo da realidade social é uma ação política como qualquer outra. Mais importante do que cantar são as possibilidades sociais do canto: do protesto até a gratuidade das coisas do cotidiano, que mesmo sem portar palavras de conteúdo político podem pelo canto(e pelo corpo de quem canta) fazer troça das convenções burguesas.
 O que seria propriamente cantar no Brasil dos nossos dias? Se todos dizem que somos livres, então a música precisa submeter esta noção superficial de liberdade a um teste vocal: quem canta diretamente das margens, exprimindo a miséria física, moral e sobretudo econômica dos dias atuais, incomoda a festa burguesa. Mas confundindo-se com pedrada, o canto revolucionário atravessa a janela e revela porque o Brasil é colonizado e não é emergente. 
 Em momentos de autoritarismo político, como durante a ditadura militar, a música era uma arma social: dos inúmeros exemplos que chegam na minha mente, estão os Secos e Molhados, que literalmente desafiaram a censura oferecendo na capa do seu primeiro álbum de 1973, as cabeças dos membros da banda. Será que hoje as cabeças dos músicos estão seguras? Se os criadores de musiquinhas ridiculas estão sempre salvos, aqueles que não aceitam as regras do capital cantam para acordar o país. Penso que eles devem promover um canto verdadeiramente livre. Olhando a Copa do Mundo de 1970 e de 2014, francamente: não podemos cantar " Pra Frente Brasil ". A realidade exige um canto revolucionário!


                                                                                        Tupinik 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Arte Proletária não é coisa de classe média radical :

O nosso blog, mesmo na saudável divergência entre correntes estéticas, vem cumprindo um importante papel ao tentar comunicar dentro da esquerda a importância da arte na luta anticapitalista. Porém, fico preocupado quando observo em várias organizações de esquerda, militantes que não são operários e não entendem a relação cultural libertadora que os trabalhadores devem ter com a arte.É extremamente irritante quando a pequena burguesia, saída dos feudos acadêmicos, decide sustentar uma postura de esquerda. Sim, até que eles são minoritários frente á intelligentsia pós moderna que não consegue mais disfarçar sua clara missão reacionária. Mas no caso dos pseudo marxistas bem perfumados, a alegria própria ás farras intelectualoides, gera muitas tristezas(inclusive no plano da arte). Estas garotas e garotos não deixam muitas vezes de transparecer o seu temperamento elitista, mesmo quando enchem indevidamente a boca para falar em classe operária. O universo mental desta classe média, amamentada pelas besteirinhas da cultura de massa,   é fraco e cheio se aspirações acadêmicas. E olha que eles tentam: dançam samba e maracatu para sentirem " as raízes populares ", frequentam peças teatrais, exposições de arte e mostras de filmes, não raramente soltando palmas como se estivessem em algum tipo de talk show. Eles também vivem obcecados pelo sexo, pelo inconsciente(ah, estes meus amigos surrealistas do Lanterna...). Ainda que eles atuem em algum partido de esquerda e apresentem conhecimentos literários/artísticos de " esquerda ", não conseguem sair de suas igrejinhas, de suas panelinhas de amiguinhos que reproduzem o comportamento da elite acadêmica(esta é uma das grandes inimigas do povo). É exatamente diante disto que venho sustentando aqui a constatação histórica de que a literatura e a arte devem ser, sob o ponto de vista revolucionário, ocupações do proletariado. E neste caso o intelectual originário de classe média, que trai a sua classe e adere aos trabalhadores, pode e deve atuar na divulgação e na agitação da arte revolucionária; esta é a diferença básica entre quem vem da classe média e rompe com o seu universo e quem finge ser comunista.
  Defendo que o Lanterna deve ter como alvo a vida cultural da classe trabalhadora brasileira. Além da divulgação do blog, que já vem sendo feita em escolas e bairros populares, precisamos chegar até ás fábricas e até os sindicatos. Precisamos ajudar na consolidação de hábitos de leitura nos quais o romance, o conto e o poema sejam encarados enquanto instrumentos práticos nas mãos certas. A pintura nas ruas e os vídeos também. É chegada a hora da arte proletária: quem não encarar este fato que volte para suas almofadas.


                                                                                  José Ferroso  
 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Graciliano Ramos, Lampião e o bandidismo literário:

As recentes pesquisas realizadas em torno do legado literário do escritor Graciliano Ramos, apresentam dados significativos para compreendermos mais desta obra que nunca sai do nosso horizonte estético-revolucionário. Graças á dupla de pesquisadores Lebensztayn e  Thiago Mio Salla, foi encontrada uma entrevista fictícia que a extinta revista Novidade  realizou em 1931 com o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva. Este documento, que já sustenta sua importância histórica ao ter como personagem o lendário Lampião, amplia seu significado cultural por ter sido escrito por ninguém menos que Graciliano Ramos(o escritor alagoano colaborava neste periódico). Tal amplitude revela-se numa escrita por onde brota a literatura engajada: apreendida enquanto forma literária, a entrevista( ironicamente apresentada enquanto acontecimento telepático) é uma crítica virulenta á uma sociedade injusta, na qual o bandidismo do cangaço é uma reação primitiva, transgressora. No texto o herói cangaceiro fala, dentro daquela tensa conjuntura de trinta, de questões polêmicas como os direitos de propriedade, a justiça, o sertão, os coronéis , etc. Nesta divertida entrevista em que Lampião chama o entrevistador de fuxiqueiro, notamos a expressão " o lampionismo em literatura ". É neste ponto que ameaça o bom mocismo nas letras ontem e hoje, que gostaríamos de nos deter agora: o bandidismo em literatura é um importante aliado político da esquerda.
   Enquanto a literatura por assim dizer " oficial " e " de bom gosto " da atualidade procura se proteger " dos bandidos ", da face brutal que a miséria econômica assume, alguns poucos escritores falam do cotidiano violento de suas comunidades(estamos falando mais uma vez do escritor trabalhador). É este escritor o herdeiro de Graciliano, pois é nele que as preocupações sociais em literatura estão vivas.Num Brasil que procura hoje produzir modelos midiáticos que perpetuam o maniqueísmo entre mocinhos e bandidos, a entrevista literária de Graciliano a Lampião poderia soar folclórica, sendo quase que um deleite estético. Nada poderia ser mais avesso aos propósitos estéticos e políticos de Graciliano Ramos, que fez da sua escrita árida uma constante crítica á sociedade de classes.
 Para quem deseja trilhar o caminho engajado de Graciliano, é preciso estar isento de idealismo literário: ao escrever sobre " o bandido ", seja o cangaceiro ontem, seja o criminoso urbano de hoje, seria totalmente reacionário inverter os papeis entre o bandido e o mocinho(afinal o cangaceiro tinha lá as suas relações com o coronelismo, do mesmo modo que o crime hoje é cúmplice do capital). O que a literatura de Graciliano nos ensina é que o bandido, assim como o sertanejo faminto, são contradições vivas da sociedade brasileira. Expor o bandido e os problemas sociais dentro do " bandidismo literário ", significa aqui atacar o Estado capitalista. Para fazer isso, o escritor tem que ter coragem: Graciliano, por exemplo, foi em cana em 1936, durante a perseguição de Vargas aos comunas. Bandidismo literário não é romantismo mas uma atitude realista que ameaça as leis " do bom gosto ".


                                                                                     Geraldo Vermelhão
   

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Através do inconsciente a arte cura:

A contribuição da psiquiatra Nise da Silveira é clínica e ao mesmo tempo artística. Ela questionou a brutalidade do choque elétrico no tratamento de pacientes e apresentou a pintura enquanto meio de exteriorização e liberação dos problemas de origem inconsciente. Esta visão moderna, libertária, está presente no filme Posfácio: imagens do inconsciente, dirigido por Leon Hirszman em 1986 e até muito recentemente esquecido na Cinemateca do Rio de Janeiro. Graças a Eduardo Escorcel, este filme será exibido no Festival É Tudo Verdade. A entrevista realizada por Leon, um dos mais importantes cineastas brasileiros, com Nise da Silveira, é de grande significado cultural: a reabilitação de pessoas através da arte é uma questão fundamental no combate a uma sociedade brutal, em que os choques que foram utilizados contra internos, não deixam de exprimir.
  A arte enquanto cura e sondagem do universo do inconsciente foi a principal pauta do trabalho de Nise. Ao lado do crítico de arte Mário Pedrosa, ela esteve á frente da criação do Museu das Imagens do Inconsciente, em 1952. O acervo desta instituição mostra a vitória da arte contra a estupidez e a " normalidade " opressora da sociedade burguesa(esta sim um grande perigo para a nossa saúde).

                                                                              Marta Dinamite  

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O cineasta militante que nunca irá desaparecer:

Se o filme configura-se essencialmente em memória,  então como o cinema latino americano poderia deixar de compor registros da luta revolucionária? Neste continente saqueado pelo imperialismo norte americano e massacrado por ditaduras recentes, cineastas de coragem não filmam entretenimento barato: para o latino americano a câmera só pode ser uma arma na guerra contra a burguesia. Raymundo Gleyzer permanece entre nós enquanto companheiro que assumiu todos os ricos nesta luta. Mesmo que a ditadura argentina tenha em 1976 sequestrado  e sumido com este artista que tanto admiramos, nós nunca iremos deixar de olhar a sua cinematografia enquanto fonte inesgotável de criatividade e denúncia social.
 Raymundo nos ajuda na construção do cinema político latino americano. Muito especialmente o gênero do documentário, em toda sua força política, recebeu grande atenção por parte de Raymundo. Seus filmes militantes exibidos aonde a classe operária estava, isto é fábricas, sindicatos e escolas, só nos pode fazer concluir que este é o cinema que os trabalhadores necessitam. É este tipo de fato cultural revolucionário que demonstra o quanto é inútil o cinema comercial em sua obsessão pequeno burguesa por sucesso, prêmios e badalação. A luta de Raymundo, o cineasta argentino que não podemos deixar de cultivar em nossa memória, foi encarnada no grupo cinematográfico Cine de La Base. Esta rapaziada desenvolveu um cinema comprometido com o povo, fazendo do audiovisual  uma verdadeira aula sobre a realidade política. 
  Raymundo Gleyzer foi a um só tempo militante no cinema e nas lutas sociais, quando a sociedade argentina adentrava pela barra pesada dos anos setenta. Este foi um momento em que o marxismo embasou a prática cinematográfica, configurando uma estética de oposição, como está claro em filmes como Traidores, de 1973.
  Companheiro Raymundo, esperamos ser dignos do seu legado revolucionário.


                                                                                  Lenito

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quando o teatro eficaz não se parece com teatro:

A presença física do teatro, sempre reservou a esta arte um valor de subversão política como em nenhuma outra forma de expressão . Se alguém quiser entender quando o teatro realmente torna-se uma poderosa manifestação capaz de interferir na vida dos trabalhadores, é preciso sair um pouco do receituário estético e ir pra rua afim de experimentar possibilidades cênicas. Sim, pra rua! Não existe nenhuma novidade nisso, mas é um lance a ser explorado sistematicamente. Vejam só um exemplo: noite de sábado, um boteco com umas oito ou nove pessoas. Televisão ligada, risadas, assovios, peixe frito, pinga rolando solta e espuma de cerveja que não acaba mais. De repente, um cara entra no boteco, pede uma cerveja e começa a reclamar em voz alta, com o pessoal que bebe no balcão, que seu pai está há duas semanas na fila do hospital e não consegue ser atendido. Ele chora, desfere murros no balcão e diz que(apontando para a tv) no Brasil a única prioridade é o futebol. Um homem que estava sentado numa mesa se levanta, diz que aquilo não passa de drama, porque o governo é popular, morre quem não tem cacife econômico para um bom plano de saúde e o futebol é a glória nacional. Os dois começam a discutir, o tempo fecha, até que os clientes e o dono do bar começam a discutir o assunto durante horas.
Quando as portas de fecham os dois protagonistas da ação estão reunidos em uma praça avaliando o resultado da sua ação. Isto é teatro! Representação viva e capaz de estabelecer uma reflexão sobre a realidade! Os dois atores militam na esquerda e não estão afim de receber o titulo de " artistas profissionais". Poderíamos chamar isso de happening? Sim, mas é bem maior que mera importação do Living, até porque no Brasil, gente do CPC  fazia isso também, mas sem se preocupar com rótulo. Entendem? O teatro é bem maior do que uma casa de espetáculos.


                                                                                Lúcia Gravas

terça-feira, 8 de abril de 2014

A madrinha do romance social:

O avanço estético e político que Rachel de Queiroz trouxe para a literatura brasileira, é uma questão que merece ser constantemente relembrada pelos militantes de esquerda. É claro que não precisamos(e não podemos) concordar com as posições políticas que a autora assumiu a partir do pós-guerra, pois elas não apagaram a incalculável contribuição que Rachel trouxe para o romance brasileiro. Fundamental aqui é a coragem intelectual da escritora durante a década de trinta, quando ela nos legou páginas que ajudam a desvendar as contradições sociais num país de miseráveis. 
 Rachel de Queiroz chega na vida literária brasileira quando, após a ressaca da festa libertária do modernismo dos anos vinte, exigia-se tomadas de posição sobre a realidade. Na busca pela crítica social, verdadeiro papel a ser desempenhado pelo moderno romance, Rachel mancha com violência realista o elitismo literário. O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras e As Três Marias, ainda são golpes secos e criativos sobre o atual romance brasileiro: enquanto tendências literárias pequeno burguesas da atualidade preocupam-se em narrar o nada vezes nada de suas tristes existências individuais(por exemplo em tramas policiais americanizadas) o tipo de romance regionalista escrito por Rachel (e outros autores como Graciliano Ramos) dentro do fenômeno da chamada Literatura de 30, permanece como sendo o que tem de mais quente nas letras nacionais: a miséria social ( a ser denunciada com brutalidade na narrativa e com violência estilística), ainda é um fato que contradiz a morna vidinha literária brasileira, dividida entre idas á livrarias de shopping e debates enfadonhos nas universidades. A questão é a prioridade estabelecida pelo escritor, o que ele pode comunicar com o romance. Tomando como exemplo O Quinze, apesar dos problemas da terra e os dramas nordestinos estarem em uma outra conjuntura histórica(a questão da mecanização do campo, por exemplo), é perfeitamente possível olharmos hoje para os vários Chicos Bentos e suas famílias de retirantes, famintos, exaustos e perdendo filhos pelo caminho. 
 O romance social estruturado nos anos trinta por Rachel de Queiroz, não abaixa a cabeça para a mediocridade , não se submetendo assim ás fórmulas prontas que a esquerda stalinista tentou impor para a literatura brasileira. O espírito independente de Rachel a levou(por pouco tempo) na direção do trotskismo( este fato deve-se especialmente á censura que o Partido Comunista colocou sobre o seu livro João Miguel, no início de trinta). Como não poderia deixar de ser, o caráter crítico da sua literatura trouxe também consequências repressivas por parte da direita: durante a era Vargas, Rachel passou por maus bocados. Além de  fichada pela polícia política de Pernambuco como comuna, Rachel teve exemplares dos seus livros queimados junto ás obras de outros autores que irritaram a ditadura varguista do Estado Novo em 1937.  
  Independentemente do itinerário ideológico da escritora no pós-guerra, agradecemos a ela pela força realista e ao mesmo tempo moderna dos seus primeiros romances: é um presta atenção nos literatos dos nossos dias.


                                                                                Os Independentes      

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O que interessa é o David jacobino:

Não basta insistir no " sacrilégio " das relações revolucionárias entre arte e política. É preciso derrubar as visões consagradas em torno da obra de pintores que revelaram, na unidade de suas obras,  a luta de classes.  Se vários historiadores da arte e estetas em geral , enchem suas bocas enfadonhas para reprovar artistas e obras ligadas aos períodos históricos de ruptura política,  precisamos denunciar o liberal assustado e o democrata trêmulo que se escondem atrás das telas de muitos museus. 
 Pensemos por exemplo no pintor francês Jaques Louis David. É comum observarmos em artigos e documentários de TV,  críticos que difamam as ligações políticas de David com o jacobinismo. A crítica oficial não deixa de perpetuar concepções girondinas... É como se David tivesse " recuperado o juízo " quando se afastou das posições jacobinas e tornou-se o pintor oficial do Império napoleônico(!?). Uma paranoia termidoriana parece condicionar análises que valorizam apenas as consequências reacionárias da pintura de David: difama-se o jacobino e exalta-se o mestre retratista, reprime-se a energia plástica revolucionária e valoriza-se o rígido pintor acadêmico chato de galocha.
  Como negar que foi exatamente durante o período jacobino, que David trouxe uma contribuição original para a História da pintura? Ele inseriu  o traço e as cores dentro do processo revolucionário francês: se com a implementação da República durante a Convenção de 1792, a monarquia chegava ao fim, então a pintura só poderia profanar o gosto aristocrático com os assuntos da Revolução. Mas este David, pintor da Queda da Bastilha, não interessa para os críticos medrosos: David também foi um retratista entediante, que pelas limitações técnicas da estética neoclássica(cuja rigidez que reprime a imaginação não tardaria em saltar dos olhos para o colo da academia) fez pinturas inúteis, ora vangloriando a antiguidade romana ora retratando(com maestria, é verdade) personalidades da época. É este David que vive empoeirando corredores de museus e que ainda atende á indústria do turismo e serve ao gosto burguês. 
 Para nós interessa o David que compõe as cenas explosivas da Revolução,o David que fora amigo de Robespierre e Marat(este último imortalizado na tela A Morte de Marat, de1793).  Não que para a pintura ser revolucionária ela tenha que automaticamente tratar de acontecimentos políticos revolucionários. Mas entre Napoleão subindo os Alpes(David publicitário do Império...)e  cenas da antiguidade(David rígido e sem criatividade na sua tara idealista por Roma), ficamos com o David que pintou as imagens vibrantes da Revolução de 1789. É este David que assustou os girondinos e faz o historiador burguês de hoje, torcer o nariz.


                                                                          Geraldo Vermelhão    

domingo, 6 de abril de 2014

Quem tem medo de funk?

Uma amiga, professora de literatura na rede estadual de Campinas, me disse que para a maioria dos seus alunos o funk é o único gênero musical que presta. Funk " é da hora " e o resto não passaria de " coisa de rockerinho playboy ". Bem, este " resto " não se restringe propriamente ás derivações musicais do rock, mas abrange também uma série de outros gêneros da música popular. Esta situação revela um fato inquestionável: o funk é a expressão musical da juventude trabalhadora(pelo menos em boa parte da região sudeste), nesta década. Sim, muitos curtem rock, outros se ligam em rap, pagode e sertanejo, mas o funk parece revelar no canto, no rebolado, nas roupas e nas atitudes o cotidiano de comunidades hostis á cultura que vem " de fora ".  Que desafio para os militantes de esquerda originários da classe média! Que angú musical já que os ouvidos de muitos companheiros, educados pelo " bom gosto revolucionário ", não tem nada a ver com a realidade cultural da classe operária. Nada de The Clash, nada de Chico Buarque. Para a garotada " o que presta é funk ".
  Se todo militante deve partir da realidade do proletariado, então o funk deve ser discutido não enquanto particularidade antropológica mas enquanto força musical dentro da luta de classes. O funk carioca, que chocou a pequena burguesia com o seu pancadão derivado do Miami Bass, possui componentes sociais que revelam o protesto através da música: falando dos dramas das comunidades exploradas pelo capital, a politização da música torna-se um processo praticamente " natural ". Claro, o funk tem lá as suas contradições: na questão da sexualidade, fundamental para o questionamento da moral burguesa, o funk não deixa de tratar o corpo da mulher como " coisa ", como mero objeto de entretenimento sexual(o que tem um lado alienante). Mas apesar de tudo, não podemos negar que o funk carioca desafia, em parte, o controle da cultura dominante sobre o corpo.
 Já o funk paulista também conhecido como funk ostentação, possui maiores obstáculos sob o ponto de vista ideológico. Não discuto aqui o valor musical do funk ostentação, mas a dificuldade em debater com músicos e ouvintes do gênero a necessidade de valores socialistas e libertários, distantes dos alienantes sonhos de consumo. Mas de qualquer maneira, creio que com a crise econômica ameaçando " a nova classe média ", revelando que ela é(e nunca deixou de ser) classe trabalhadora, o funk ostentação deverá passar por transformações ideológicas.
  Será que estes jovens devem apenas ouvir e se expressar através do funk? Não, mas da mesma maneira que eles precisam, por direito, obter uma ampla bagagem musical( de Mozart aos Ramones), e isto só poderá ser feito via Educação, esta juventude não pode ser subestimada em suas expressões artísticas. É a partir do funk também, que os companheiros procederão no caminho para a música libertária.


                                                                            Marta Dinamite 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Os rumos estéticos após o transe:

Neste próximo sábado exibiremos, dentro do ciclo Revisão Crítica do Cinema Novo, um filme extremamente oportuno: Terra em Transe(1967), de Glauber Rocha. Este longa que é um divisor de águas da nossa cinematografia, ainda proporciona efeitos perturbadores na realidade política e na práxis da arte. Sem sombra de dúvida uma obra cujo impacto estético exprime a crise da era Jango, o golpe militar e a necessidade de buscar pela arte novas formas de comunicação, assumindo posições radicais sobre a sociedade brasileira. Perante os 50 anos do golpe de 64, a esquerda relembra as feridas, a extrema direita celebra a barbárie, mas uma grande maioria de trabalhadores e estudantes não fazem a menor ideia das implicações repressivas da ditadura militar(1964-1985). Se por estes dias que correm a memória do golpe é evocada, exibir Terra em Transe não é hoje apenas um gesto circunstancial, pois sua violência poética ainda nos leva á encruzilhada das estratégias contra a burguesia brasileira.
  Tanto em 1967 quanto em 2014, o filme parece suscitar dentro da esquerda a necessidade de repensar orientações políticas e as potencialidades simbólicas da criação artística. O caráter febril do personagem Paulo(numa tensão entre Lautréamont e Che Guevara), a demagogia de Vieira e a loucura fascista de Diaz estão estruturados num quadro de desilusão e desespero político diante da frágil base operária legada pelas alianças entre a classe trabalhadora e a classe dominante. Se foi assim nos anos sessenta com o colapso do pacto populista, hoje estas alianças permanecem e mal se sustentam num momento em que a inflação corrói a economia e o governo aliado aos capitalistas, procura deixar a população em transe com a Copa do mundo. Já o transe que Glauber nos mostra, é uma experiência de choque contra as estratégias estéticas demagógicas da arte revolucionária janguista. Dentro de uma proposta Épica, Terra em Transe carnavaliza a estética brechtiana extraindo signos fundadores da identidade brasileira, estabelecendo a síntese histórica entre o absolutismo palaciano dos tempos coloniais com a modernidade das telecomunicações dos anos sessenta, o samba, o jazz, as metralhadoras e a miséria do proletariado. 
 Enquanto setores da esquerda gastavam o seu latim stalinista acusando o filme de " divisionista " e " extremista "(a nítida menção á luta armada, ás guerrilhas do terceiro mundo...), e a direita acusava o filme de subversivo, toda uma nova explosão artística que negava o didatismo e a prudência das manifestações artísticas do populismo, pedia passagem: no mesmo ano do filme ocorre também a montagem da peça O Rei da Vela(escrita por Oswald de Andrade nos anos trinta e montada pelo Teatro Oficina), o crescente escândalo em torno da anárquica (anti)arte ambiental  de Hélio Oiticica e  a eletricidade da moderna música popular nas composições de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Como já vem sendo amplamente debatido pela historiografia das últimas décadas, toda esta arte violenta , provocadora e alegórica deu origem ao movimento tropicalista. De fato esta produção afinada com a modernidade artística(que nega uma certa  " arte de escoteiro "), cumpriu uma missão libertária, mas teria ela se comunicado com o proletariado? Se esta comunicação foi impossível devido á intensificação repressiva da ditadura com o AI-5, a partir da Abertura  política o assunto não recebeu a atenção necessária(pelo menos por boa parte da esquerda). Hoje em dia, como podemos pensar/praticar uma arte revolucionária pós-tropicalista? Feitas as revoluções estéticas, tudo indica que na cooptação mercadológica das heranças contestadoras, setores " intelectualizados " da atual classe média estão imersos no fetichismo pós-moderno que consome, inclusive, " clássicos do tropicalismo ".   
Terra em Transe inaugura a crise das formas convencionais da arte de contestação política. Mas Glauber, mesmo em suas contradições, nunca abriu mão da necessidade de uma transformação política radical. Hoje, quando a História revela mais uma vez os erros das alianças entre classes, toda a herança das revoluções estéticas do final dos anos sessenta precisa ser incorporada á nova arte das periferias brasileiras. É nossa missão apresentar e debater filmes como Terra em Transe junto á classe trabalhadora; só assim poderemos politizar e ampliar as novas estéticas surgidas em torno da juventude proletária. Seria esta uma atitude de tipo paternalista, que avizinha-se da cultura do pré-golpe? Nada disso: queremos arrancar obras como Terra em Transe dos limites da classe média. Afinal, a efervescência artística da conjuntura de 68 não pode ficar dentro de um público reduzido. Oferecer munição simbólica não é caridade mas um ato comprometido com a ruptura cultural/política.  É preciso urgentemente repensar os rumos estéticos para um projeto político revolucionário.


                                                                          Afonso Machado 

FILME: Terra em Transe

DIREÇÃO: Glauber Rocha

ANO: 1967

LOCAL DE EXIBIÇÃO: Museu da Imagem e do Som de Campinas

DIA: 5/04

HORÁRIO: 19:30

Lukács ataca a literatura moderna:

(...) A literatura " moderna " não está em condições de provocar estes momentos dramáticos, nos quais a quantidade se transforma em qualidade. Ela não constrói suas composições na dinâmica dos contrastes da realidade objetiva, já que no mundo cotidiano os contrastes jamais se explicam até o fim, de modo que situações falsas, ou mesmo " insustentáveis ", podem nele se manter por um tempo extraordinariamente longo. Este método compositivo não é contraditado, mas antes reforçado, pela predileção em descrever violentas catástrofes e explosões. E isto porque tais catástrofes e explosões tem sempre um caráter irracional; tão logo cessam, a vida retoma o seu curso habitual(...).


                                                                                  Gyorgy Lukács

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Comentário de Meyerhold:

(...) O público vai ao teatro assistir a arte humana. E que bela é a arte de andar pelo palco consigo mesmo! O público espera a invenção, o jogo, o ofício. E recebe a vida ou, pior, apenas uma imitação servil dela. 


                                                                    Vsévolod Meyerhold

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Um Teatro de Agitação para a evidência de um Cinema Operário:

As imposições do capital tornam viciadas as discussões em torno da produção teatral e cinematográfica brasileiras. Dispensável dizer que, na maioria dos casos, a consequência mais imediata disso é abandono da pesquisa estética e o mergulho nas fórmulas comerciais que vivem zumbizando a cultura do nosso tempo(e o gozado é que os críticos nunca atacam estes produtos, pois para eles " velha " é a arte que possui intenções políticas). Uma das principais dificuldades em organizar uma produção teatral e cinematográfica empenhadas em debater as relações sociais de exploração do capitalismo,  é a formação reacionária que boa parte dos atores, dramaturgos, roteiristas, diretores e outros profissionais destas áreas recebem. Uma frieza esnobe, condicionada por tiques egocêntricos(e outras pragas acadêmicas), parece infestar várias instituições artísticas e casas de espetáculos.
   Dentre as iniciativas que combatem este cenário deprimente, estão as pequenas companhias teatrais que ao retomarem as tradições populares do teatro de rua, devolvem á arte cênica seu aspecto sadio de agitação e contestação social. São nestas iniciativas teatrais realizadas por militantes de esquerda que atuam no teatro(e por militantes do teatro que colaboram com organizações de esquerda), que encontramos os atores necessários para uma produção audiovisual de combate á sociedade estabelecida. Para o cineasta que faz da sua câmera um instrumento de combate, é necessário um elenco que não apenas " execute " ou " interprete " o que está no roteiro cinematográfico. Os filmes engajados de hoje, feitos na raça e com compromisso político de classe, necessitam de atores que pela sua formação cênica revolucionária façam o espectador sentir, por todo o seu sistema nervoso, a necessidade de uma outra sociedade. 


                                                                                   José Ferroso

terça-feira, 1 de abril de 2014

Restaurar Portinari é restaurar as imagens do povo:

Boas novas: a obra Jangadas do Nordeste, realizada em 1939 pelo pintor Portinari, está sendo restaurada. O quadro que ficou com um buraco de 20 cm devido á queda de uma escada no terceiro andar do Palácio Itamaraty, será restaurado por iniciativa do Ministério das Relações Exteriores. A importância disto não está apenas em zelar por mais um patrimônio da cultura brasileira, mas em preservar uma concepção de pintura que exprime os tipos populares do Brasil.
 Portinari que em fins dos anos trinta optava pelo painel, por uma forma de comunicação que atinge pela pintura um grande público, é um artista que precisa ser devidamente apresentado á classe trabalhadora do Brasil(objeto maior da obra do pintor brasileiro). Embora o debate estético tenha passado por mil e uma reviravoltas de Portinari aos nossos dias(envolvendo inclusive os apressados " assassinos da pintura "), é fundamental que o trabalhador se reconheça neste tipo de esforço pictórico. Para além das grandes repartições, dos edifícios vinculados ao poder político, a pintura de Portinari deve atingir com intensidade os olhos do operário.

                                                                                      Lenito 

             

A literatura nos bairros populares:

A opressão econômica e os seus efeitos na cultura, geralmente levaram a juventude das periferias a pegar o busão e ir até o " centro ", até ás grandes bibliotecas ou ir então até ás livrarias dos shoppings em busca de informações sobre literatura. Entretanto, tudo indica que este itinerário está sendo invertido pela própria produção e agitação literária das periferias. 
 Para que a literatura produzida por jovens trabalhadores minem de fato o elitismo intelectual, é preciso que exista um esforço na consolidação de bibliotecas e saraus nos bairros das cidades brasileiras. Sem ficar dependendo do poder público, militantes podem ajudar neste processo através da construção de um acervo capaz de abranger o melhor da História literária brasileira e internacional. Hoje em cidades como São Paulo e Campinas, existe uma pequena mas formidável agitação em torno de movimentos que procuram ocupar as praças dos bairros e promover leituras de poesia e prosa. É hora da imprensa digital de esquerda articulada com as redes sociais, ajudar na promoção destes encontros que fazem da literatura um instrumento valioso de expressão popular. 
Que os acadêmicos  fiquem em seus gabinetes, segurando livros em frente ao espelho. A verdadeira literatura está aonde o povo está! 


                                                                                         Lúcia Gravas