domingo, 28 de julho de 2013

Questões atuais para os artistas revolucionários

O impulso destrutivo que caracteriza vários protestos realizados nos últimos tempos, não passa despercebido entre aqueles que se dedicam a criação artística. Não se trata de apoiar aquilo que muitos insistem em denominar de " vandalismo "(expressão exaustivamente utilizada pela mídia burguesa, com seus cacoetes que lembram muito o Império romano em seus momentos de agonia...). Na verdade, nós concebemos aqui a violência exclusivamente no plano estético(no que se refere ao uso da violência no contexto político, existem diferentes maneiras de se posicionar perante o problema, não cabendo aqui apontar uma resolução). De qualquer maneira, o ódio contra os símbolos do capital assumem dimensões plásticas, resoluções formais: vídeos e cartazes andam captando isto de modo preciso.
  Acreditamos que os companheiros reunidos em suas respectivas organizações políticas, devem estar fazendo questionamentos na esfera da criação artística. Sendo assim, existem algumas questões que achamos oportunas realizar no momento:

1-  De que maneira a linguagem dos vídeos revolucionários se diferencia da linguagem audiovisual da mídia burguesa?

2- Como fazer com que a arte gráfica esteja cada vez mais inserida no cotidiano da juventude operária?

3- Como preservar dentro das canções revolucionárias a autenticidade das estruturas musicais cooptadas por grupos religiosos conservadores?

4- Qual estratégia a poesia deve ter dentro da luta política? A forma do romance é uma estratégia literária que corresponde a este momento de agitação política, pautada pela cultura audiovisual?

5- Por quais caminhos o artista revolucionário pode inovar as formas de ação dentro da esquerda?

6- O teatro deve estar no palco ou nas ruas?

7- Como subverter os signos urbanos?

quarta-feira, 24 de julho de 2013

TROPICÁLIA: debate na FAU em 1968

As revoltas de 2013, impulsionam a tomada de consciência sobre uma série de problemas políticos e culturais. A grande rebelião da juventude revolucionária em marcha, requer o debate permanente sobre inúmeras questões. Acreditamos que o debate estético é uma necessidade para todos aqueles que ambicionam a transformação social: modificar a percepção e as experiências cotidianas envolvem o dever de todo e qualquer militante.
 Perante a necessidade do estudo dos problemas artísticos do nosso tempo, publicamos aqui  o clássico debate sobre o movimento tropicalista, realizado na FAU(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), em 1968. O debate contou com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Chico de Assis. Embora exista uma grande distância em relação ao contexto histórico da década de sessenta, este debate levanta questões até hoje muito pertinentes sobre as relações entre música, comércio e contestação social. A seguir, transcrevemos o debate publicado originalmente no jornal Folha da Tarde, em 7 de junho de 1968.

                                    CONSELHO EDITORIAL LANTERNA

 
O DEBATE TROPICALISTA PROMOVIDO ONTEM NA FAU, COM A PRESENÇA DE CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, DÉCIO PIGNATARI, AUGUSTO DE CAMPOS, CHICO DE ASSIS E VÁRIOS JORNALISTAS, QUASE TERMINOU EMBANANADO. A CONFUSÃO, PORÉM, FICOU SÓ NAS OPINIÕES SOBRE O MOVIMENTO TROPICALISTA, QUE FORAM OUVIDAS POR UM GRANDE NÚMERO DE ESTUDANTES DAQUELA FACULDADE. FOI ASSIM O DEBATE SOBRE O MOVIMENTO QUE TEM COMO INSPIRAÇÃO E SÍMBOLO A BANANA:

AUGUSTO:- Após a bossa nova a música popular brasileira passou por uma evolução diversificada.
A " revolução " de 64 provocou uma reformulação em parte semântica - surgiram as músicas de protesto , e o caminho de inovação aberto pela bossa nova foi parcialmente abandonado. Em seguida, os Beatles, influindo na Jovem Guarda, romperam os limites tradicionais da música popular. Utilizaram a música erudita, o folclore e outros elementos que vieram enriquecer as composições. A música popular brasileira foi ficando aprisionada, havendo grande receio da influência estrangeira que repercutiu sobretudo no Iê Iê Iê. Surgiram, porém, as primeiras incursões de Caetano e Gil - o tropicalismo, uma verdadeira " revolução contra o medo". As novas composições como ALEGRIA , ALEGRIA e DOMINGO NO PARQUE incorporavam ao nosso patrimônio aquilo que se passava em outros países, e as ricas contribuições de nosso passado.

GIL:- Em geral o público acha que eu e veloso de repente mudados o estilo apenas por " loucura ", para sermos originais. É a imagem mais comum em relação ao nosso trabalho. Entretanto, estamos realizando um sério trabalho de pesquisa como demonstrei em PROCISSÃO, uma música sem medo, que radicaliza. 

CAETANO:- Nosso impulso nasceu da percepção da realidade musical brasileira. Antes de ALEGRIA , ALEGRIA, já com uma visão modificada. Fomos levados a remexer a cultura vigente consumida pelo povo brasileiro. Queremos atingir a vivência real do brasileiro através da música. 

DÉCIO:- Nossa única forma é a criação. Precisa-se de uma nova tecnologia ideológica á base de golpes de audácia em matéria de criação. Daí a importância de Caetano e Gil, capazes de fazerem uma composição falada, de acordo com os meios atuais de comunicação(tv) enquanto Chico Buarque faz composição descritiva. O nosso Tropicalismo é recuperar forças. O de Gilberto Freire é o trópico visto da Casa Grande  Nós olhamos da senzala. Pois, como dizia Oswald de Andrade, não estamos na idade da pedra, estamos na era da pedrada. Interessa é saber comer e deglutir - que são atos críticos como fazem Veloso e Gil.

CHICO DE ASSIS:- A única solução no momento é o Tropicalismo?

DÉCIO:- Não é a única, mas tem que haver uma posição radical como faixa de referência. 

GIL:- O rótulo Tropicalismo não nos interessa, como não interessou a João Gilberto a denominação de bossa nova. A palavra Tropicalismo é boa e não nos ofende. Mas ninguém pelo rótulo sente o gosto de cachaça. 

CHICO DE ASSIS:- Mas a compra da cachaça.

GIL:- E nós estamos aqui para vender. Não fomos nós que fizemos de nossa música mercadoria. Mas ela só penetra quando é vendida. Quem apronta essa onda toda em torno do nome Tropicalismo é a imprensa.

CHICO DE ASSIS:- Vocês querem falar dos meios sem discutir a posse desses meios. Acham que a Revolução Cultural se fará á revelia dos donos dos meios de comunicação. O BANDIDO DA LUZ VERMELHA também deve ser Tropicalista. Se vocês são pagos por essa estrutura, por que falam contra ela?

GIL:- Falamos enquanto compositores e artistas. Dentro dos limites de nosso trabalho.

CHICO DE ASSIS:- Vocês querem decorar as paredes para terem a impressão de que vivem em outro lugar. Interessa é derrubar as paredes. Não adianta trocar a redundância brasileira por redundância importada. 

DÉCIO:- A guerrilha foi criada com audácia. A música também se cria com audácia. 

AUGUSTO:- Em tese seria possível incluir na música popular um fermento ligado á visão política. Porém, a experiência mostrou que quando isso aconteceu a nossa música caiu. O canto de protesto do grupo Opinião , do Rio, levou a nossa música a um retrocesso.O "que tudo mais vá para o inferno ", tinha muito mais eficácia.

CAETANO:- Não nos sentimos isentos do processo. E nossa música nasce dessa tensão em que vivemos.

TROPICÁLIA É UMA PIADA, DIZ GIL
" Essa gente aparece aqui na faculdade de arquitetura para dizer bobagem usando Oswald de Andrade como escudo. Isso é um bom motivo para não deixar ninguém mais falar. É preciso que se exija respeito ". O respeito foi realmente exigido - inicialmente pelo estudante que quis desagravar Oswald - e, entre vaias e espocar de bombinhas, o debate que Gilberto Gil e Caetano Veloso tentaram fazer ontem na FAU acabou melancolicamente: os dois artistas não conseguiram convencer ninguém, a certo ponto passaram a cair em contradições e acabaram renegando o nome " tropicalista " que, segundo eles, foi impingindo pela imprensa a " um movimento indefinível que não tem nome ". 

O COMÉRCIO:
" Nossa relação com a arte é comercial ". Quando Gilberto Gil disse isso ontem na FAU- respondendo a uma pergunta sobre o objetivo do movimento - as vaias se tornaram mais fortes e , a partir daí, não houve meio de se retomar o debate sobre o " Tropicalismo "  em termos de diálogo. Os participantes do debate - adeptos do que " a imprensa chama de Tropicalismo "   evitaram por todos os meios usar o termo Tropicalismo. Um dos universitários disse que essa preocupação tinha por objetivo dar uma nova coloração ao movimento que já se apresentava com fortes tons comerciais e ameaçava levar por água abaixo os planos de " renovação musical " propostos pela dupla Caetano e Gil.
 Na reunião de ontem, os dois artistas foram assessorados por Augusto de Campos, que fez um retrospecto da evolução da música popular mostrando que, atualmente, o que se procura, quando se fala em inovar, é uma violação do código preestabelecido para a música brasileira. O primeiro salto para a frente - que representou a violação inicial do " código "- foi a bossa nova, que marcou o momento em que foram incorporados novos processos á música popular brasileira. Mas a bossa nova- segundo Augusto de Campos- inovou apenas nos primeiros momentos, porque caiu na redundância novamente, após ter sido " institucionalizada ". Mais tarde foi a vez dos Beatles: romperam os limites que se supunha existir para a música popular e incorporarem elementos do folclore britânico, da música de vanguarda e da erudita para lançarem uma nova forma de composição. 

O IMPULSO
Aí chegaram Gil e Veloso. Veloso conta como querem inovar: " o sentido do nosso movimento é o da percepção da realidade musical brasileira. Remexendo-se a cultura real do Brasil e que é consumida pelo novo brasileiro achamos novas formas. Cada faixa do meu LP é uma tentativa de gritar um " alerta " em diversos pontos ". " O Tropicalismo -a palavra ainda está com Veloso- é uma tentativa de retomada da cultura brasileira. Não posso definir " Tropicalismo ". Mas o problema não é de definições. Eu tenho coisas para contar e não colocações para definir ".    


sábado, 20 de julho de 2013

Trecho do texto " ARTE REVOLUCIONÁRIA E ARTE SOCIALISTA " , de Trotski

Quando se fala de arte revolucionária, pensa-se em dois tipos de fenômenos artísticos: as obras cujos temas refletem a Revolução e as que, não se ligando á Revolução pelo tema, estão profundamente tomadas e coloridas pela nova consciência que dela surgiu. Estes são fenômenos, é claro, que pertencem ou poderiam pertencer a planos inteiramente distintos. Aleksis Tolstói, no seu romance O CAMINHO DOS TORMENTOS, descreveu o período da guerra e da Revolução. Ele integra a velha escola de Iasnaia-Poliana, com menor envergadura, um ponto de vista mais estreito. Quando se refere aos grandes acontecimentos, isso serve apenas para lembrar com crueldade o que Iasnaia-Poliana foi e não é mais.
Mas, quando o jovem poeta Tikhonov descreve um armazém(parece que ele tem medo de falar de Revolução) percebe e reproduz a inércia e a imobilidade, com tal leveza e apaixonada veemência que só um poeta da nova época pode fazer.
 A arte revolucionária e as obras sobre a Revolução não constituem, assim , uma única e mesma coisa. Tem pontos de contato. Os artistas criados pela Revolução, não podem senão escrever sobre a Revolução. A arte, que terá, realmente, alguma coisa a dizer sobre a Revolução, deverá, por outro lado, rejeitar, sem piedade, o ponto de vista do velho Tolstói, o seu espírito de grande senhor e a sua amizade pelo Mujique.
 Não existe ainda arte revolucionária. Existem elementos dessa arte, sinais, tentativas de realizá-la e , antes de tudo, o homem revolucionário, que forma a nova geração á sua imagem e que necessita cada vez mais dessa arte. Quanto tempo transcorrerá para que essa arte, claramente, se manifeste? É difícil adivinhá-lo. Trata-se de um processo imponderável que não se pode calcular. Mesmo quando pretendemos determinar a duração dos processos sociais, limitamo-nos a meras suposições. Por que essa arte, ao menos a sua primeira grande onda, não viria logo, como a arte da geração que nasceu da Revolução e que é conduzida por ela?
 A arte da Revolução que reflete abertamente todas as contradições do período de transição, não deve confundir-se com a arte socialista, para a qual as bases ainda não existem. Não se deve esquecer, entretanto, que a arte socialista surgirá do que se fizer nesse período.
 Não é por amor aos esquemas pedantes que insistimos nessa distinção. Engels não caracterizou, gratuitamente, a Revolução socialista como o salto do reino da necessidade para o reino da liberdade. Ela, ao contrário, desenvolve ao mais alto grau os traços da necessidade. O socialismo abolirá os antagonismos de classe ao mesmo tempo que as classes, mas a Revolução leva ao seu auge aqueles antagonismos. A literatura que fortalece os operários na sua luta contra os exploradores, durante a Revolução, é necessária e progressiva. A literatura revolucionária deve estar impregnada de ódio social, que, na ditadura do proletariado, constitui um fator criador nas mãos da História. A solidariedade constituirá a base da sociedade. Toda a literatura e toda a arte precisam afinar-se a outro ritmo. Todas as emoções, que nós revolucionários de hoje, hesitamos em chamar pelos seus nomes, tanto os hipócritas e vulgares os aviltaram, a exemplo da amizade desinteressada, o amor ao próximo e a simpatia, ressoarão como poderosos acordes da poesia socialista.
 Um excesso de solidariedade não ameaçaria degenerar o homem num animal sentimental, passivo, como os nietzschianos temem? De nenhum modo. A poderosa força da emulação, que, na sociedade burguesa, se reveste das características da concorrência de mercado, não desaparecerá na sociedade socialista. Para usar a linguagem da psicanálise, ela se sublimará, isto é, assumirá forma mais elevada e mais fecunda, convertendo-se em luta pela própria opinião, pelo próprio projeto e pelo próprio gosto. Na medida em que cessem as lutas políticas (numa sociedade aonde não haja classes, não haverá tais lutas) as paixões liberadas voltar-se-ão para a técnica, para a construção, inclusive a arte, que naturalmente, se tornará mais geral, madura, forte, forma ideal de edificação da vida em todos os terrenos. A arte não será, simplesmente, aquele belo acessório sem relação com qualquer coisa.
 Todas as esferas da vida, como a cultura do solo, plano de habitações, a construção de teatros, os métodos de educação, a solução dos problemas científicos, a criação de novos estilos, tudo isso interessará a cada um e a todos. Os homens dividir-se-ão em partidos diante de um novo canal gigante ou da distribuição de oásis no Saara(esta questão também existirá), da regularização do clima, do novo teatro, de hipóteses químicas, das tendências da música, do melhor sistema de esportes. Semelhantes agrupamentos não serão envenenados com nenhum egoísmo de classe ou de casta. Todos se interessarão , igualmente, pelas realizações da coletividade. A luta assumirá um caráter puramente intelectual. Nada terá com a corrida aos lucros, a vulgaridade, a traição e a corrupção, tudo o que constitui a essência da competição na sociedade dividida em classes. A luta não será menos excitante, menos dramática e menos apaixonada por isso. E como os problemas da vida(que outrora se resolviam espontânea e automaticamente, tanto quanto os da arte, submetidos á tutela das classes sacerdotais) tornar-se-ão o patrimônio de todo o povo na sociedade socialista, pode-se dizer, com certeza, que os interesses coletivos, as paixões e a concorrência individual encontrarão campo mais vasto e oportunidades ilimitadas para se exercitarem. A arte não sentirá falta dessas descargas de energia nervosa e desses impulsos psíquicos da coletividade, que geram novas tendências artísticas e mutações de estilo. As escolas estéticas agrupar-se-ão em torno de seus partidos, isto é, associações formadas pelos temperamentos, preferências e tendências intelectuais. Numa luta tão desinteressada e tão intensa, sobre bases culturais, o que constantemente aumentarão, a personalidade humana, com suas inestimáveis qualidades de não contentar-se com o que até agora conseguiu, aperfeiçoar-se-á em todos os sentidos. Não temos, na verdade, nenhuma razão para temer que, na sociedade socialista, a personalidade se entorpeça ou conheça a prostração.
 (...) Apresenta-se, em seguida, a questão da forma, que, dentro de certos limites, se desenvolve de acordo com as suas próprias leis, como qualquer outra técnica. Cada nova escola literária(quando se trata realmente de uma escola e não de um enxerto arbitrário)  resulta de todo o desenvolvimento anterior, da técnica das palavras e das cores já existentes, e se afasta das praias para novas viagens e novas conquistas.
 Nesse caso, igualmente, a evolução é dialética: a nova tendência artística nega a anterior. Por que? Certos sentimentos e certos pensamentos, evidentemente, se sentem apertados dentro dos limites dos velhos métodos. Mas, ao mesmo tempo, encontram na antiga arte fossilizada, alguns elementos que, pelo desenvolvimento ulterior, podem propiciar-lhes a expressão necessária. A bandeira da revolta levanta-se contra o velho , no seu conjunto, em nome de elementos que podem desenvolver-se. Cada escola literária está, potencialmente, contida no passado e, através de uma ruptura hostil com ele, se desenvolve. Determina-se a relação reciproca entre a forma e o conteúdo(entendendo-se por conteúdo não só o tema, mas o complexo vivo de sentimentos e ideias que reclamam uma expressão artística) pela nova forma, descoberta, proclamada e desenvolvida sob a pressão de uma necessidade interior, de uma exigência psicológica coletiva que, como toda psicologia humana, tem raízes na sociedade(...)


                                         Leon Trotski, 1923.     

quarta-feira, 10 de julho de 2013

NOVA BOFETADA NO GOSTO PÚBLICO(PARTE 3)

Diante dos acontecimentos de junho de 2013, o trem da ordem e do progresso descarrilhou. BOMBAS! Sim, mas aqui São João está por fora: ele ficou jogando milho aos pombos enquanto o balão da festa junina incendiou as ruas do país.
Afonso:- Thyago! Veja este mar de bandeiras vermelhas e negras. É exatamente o que André Breton disse.
Thyago:- Uma pintura realizada por comunistas e anarquistas. Afonso, o público do alto de suas janelas contempla as bandeirinhas de um Volpi vermelho.

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Afonso:- Cuidado, uma mosca careca!.
Thyago:- Ela possui suspensórios, coturnos e uma suástica?.
Afonso:- Sim! É uma mosca bombada que carrega um Soco Inglês nas asas.

TUM, TÁ, TUM, TÁ: OS PÉS MARCHAVAM NA DIREÇÃO DA PREFEITURA

Afonso:- Querem fazer um embelezamento repressivo através do gás lacrimogênio.
Thyago:- Afonso, e as armas que disparam tinta? É uma apropriação pela direita de Pollock.
Afonso:- Você acha que foi criada uma Estética do Vinagre em meio a esta salada ideológica?.
Thyago:- O vinagre e a arte moderna são hoje assuntos de Estado.

UM PEQUENO-BURGUÊS SOLTOU UM CATARRO COM A MÃO NO CORAÇÃO

Thyago e Afonso:- O catarro é verde?

OS COMPANHEIROS RESPONDERAM EM CORO:

Companheiros:- Não, é amarelo!

O PRÉDIO DO COMÉRCIO ACENDEU SUA LUZ. NAQUELE MÊS DE JUNHO O PAU DE SEBO FOI SUBSTITUÍDO PELO PAU DE ARARA

Thyago:- Você joga futebol?
Afonso:- Não. Pratico poesia e tiro ao alvo.
Thyago:- Está vendo aquela galinha verde?

FOGO!          

EXPRESSIONISMO E LUTA POLÍTICA

Desde o início, um impulso de Revolução cultural forçou a criação de grupos expressionistas, um protesto pré-político, o qual subjazia ao engajamento, criou a necessidade de se organizar e de se afirmar como uma força política independente dos partidos e das organizações políticas existentes. Para muitos da " grande esquerda alemã " a distância para com os partidos políticos era intransponível. A tentativa política mais coerente de se perfilhar de algum modo como força política, foram os " conselhos políticos de trabalhadores do espírito ".


                                       Kurt Hiller, 1919.

domingo, 7 de julho de 2013

Trecho do poema " EM JERUSALÉM "




...Em Jerusalém, um policial da Etiópia fecha uma rua no mercado
uma metralhadora de um colono adolescente ,
um chapéu cumprimentando o Muro das Lamentações
turistas europeus loiros que não veem absolutamente nada em Jerusalém
mas você
os vê tirando fotos uns dos outros ao lado de uma mulher que vende nabo
nas praças
todo dia
Em Jerusalém, há cercas de manjericão
Em Jerusalém, há barricadas de cimento
Em Jerusalém, soldados marcham com suas botas sobre nuvens;
Em Jerusalém, rezamos sobre o asfalto
Em Jerusalém, qualquer um está em Jerusalém, exceto você


                       Tamim Al-Barghouti



ARTE E GREVE GERAL

ARTE E GREVE GERAL:

Sabemos que a greve geral possibilita a Educação política da classe operária. Do ponto de vista da percepção, interessa refletir aqui sobre as inúmeras possibilidades da ação artística no contexto grevista. Afinal, de que vale a conscientização das diferentes categorias dos trabalhadores, sem o correlato estético que se integra a própria luta política? Em outras palavras: de que adianta o trabalhador lutar contra a exploração econômica  se a sua percepção está condicionada pelas formas da ideologia dominante?( publicidade, novelas, cinema comercial, imagens do futebol, manipulação religiosa, etc).  Companheiros, somos incansáveis em dizer que a arte pelas suas próprias determinações, interfere no processo de construção da consciência revolucionária.
 NOS DIAS DE GREVE: Gravuras e instalações são barricadas simbólicas nas praças públicas. Poemas(e não apenas panfletos),  envolvem um grande fermento inflamável. Peças teatrais e happenings nos pátios das fábricas, abrem as vias para uma realidade a ser inventada. Filmes nos sindicatos são armas em defesa dos trabalhadores. Canções e câmeras em punho demarcam uma convivência participativa.
 Diante destas possibilidades, que os artistas revolucionários contribuam para que a mobilização política também seja efetivada no plano da sensibilidade.



                      CONSELHO EDITORIAL LANTERNA 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Umbigo dos Limbos.


Lá onde os outros propõem suas obras, eu não pretendo fazer outra coisa senão mostrar meu espírito.
A vida é de queimar questões
Eu não concebo nenhuma obra separada da vida
Eu não gosto da criação separada. Eu não concebo tampouco o espírito como separado de si próprio. Cada uma de minhas obras, cada um dos planos de mim mesmo, cada uma das florações glaciais de minha alma interior baba sobre mim.
Eu me reencontro tanto em uma carta escrita para explicar a contratação intima de meu ser e a castração insensata de minha vida, quando em um ensaio que é exterior a mim mesmo, e que se me aparece como uma gravidez indiferente do meu espírito.
Eu sofro porque o espírito não está na vida e porque a vida não seja o espírito, eu sofro por causa do espírito-orgão, do espíritto-tradução, ou do espírito intimidação das coisas para faze-las entrar no espírito.
 Este livro eu o ponho em suspensão na vida, eu quero que ele seja mordido pelas coisas exteriores, e em primeiro lugar, por todos os sobressaltos em cisalhas, todas as cintilações de meu eu porvir. Todas estas páginas se espalham como pedras de gelo no espírito. Que me desculpem minha liberdade absoluta. Eu me recuso a fazer diferenças entre qualquer dos minutos de mim mesmo. Eu não reconheço plano em meu espírito.
É preciso acabar com o espírito assim como a literatura. Eu digo que o espírito e a vida comunicam em todos os graus. Eu gostaria de fazer um livro que perturbasse os homens, que fosse como uma porta aberta e que os levasse lá onde jamais consentiriam em ir, uma porta simplesmente aberta para a realidade.
 E isto não é mais prefácio a um livro do que os poemas, por exemplo, que o balizam ou a enumeração de todas as raivas do mal estar.
Isto não é mais que uma pedra de gelo, também mal engolida.



                                     Antonin Artaud