terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O TEATRO SEGUNDO MEYERHOLD



Retorna á arte do teatro a arte que havia sido por ele perdida - a
arte da forma.
A tarefa cenográfica deve ser fundida com a tarefa da ação
dramática, movida pelo jogo do ator; além disso, deve haver uma
correspondência escancarada entre a ideia fundamental e a música
interna da obra, entre as sutilezas da psicologia e o estilo, o decoro
da encenação.
Na mise en scéne e no jogo dos atores são produzidos novos recursos
de imagens intencionalmente convencionados. Ás formas da arte teatral
se comunicam linhas de condensação premeditada - em cena nada deve ser
casual.
Em alguns casos os atores são postos o mais perto possível do
espectador. Tal recurso faz com que os atores se libertem dos detalhes
cotidianos casuais do estabanado aparelho cênico, dando á sua própria
mímica a liberdade de uma expressividade mais refinada e ajudando a
voz do ator a criar matizes mais sutis, o que causa um aumento da
receptividade dos espectadores, e destrói, de certa maneira, a
barreira entre eles e os atores.


Vsévold Meyerhold, 1912.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

REQUEBRA MENINA, REQUEBRA:



Dança que não quebra as couraças é movimento sem tesão. Reich teria
se esbaldado se tivesse a oportunidade de dançar numa roda de samba,
num baile de forró, num chanchado da pesada. O psicanalista
revolucionário seria até capaz de dizer que a libertação sexual passa
pelos estilos de danças brasileiras, que carregam o molejo libertário.
Durante séculos as elites abestalhadas deste país procuraram engessar
o quadril, cortar as pernas para ninguém se lembrar de que os
movimentos da dança recuperam a dignidade e tornam-se mais expressivos
que o pensamento racional. O povo vem resistindo: após o trabalho na
fábrica, na firma, na construção civil, os trabalhadores espantam com
ritmo a exploração. Não que isto seja o suficiente, pois todos sabemos
que a luta é política(é lógico que o Estado capitalista precisa ser
derrubado...), mas de que política estamos falando? Apenas dos
mesmos instrumentos institucionais? Na minha opinião os sindicatos
também deveriam ensinar os trabalhadores a dançar: a consciência
política não pode deixar de também ser corpórea. A diversidade de
ritmos regionais desenha um outro mapa do Brasil, diferente da
geografia clássica com a Europa e os EUA lá no alto, olhando os
latinos lá embaixo. A geografia do corpo brasileiro é dançante!
Rebolar é rebelar-se e não fazer apelação para ganhar grana.
Enquanto o capitalismo adestra os movimentos da dança, o pessoal
da esquerda fica sentado nas cadeiras do baile, sem serem puxados pra
dança, incapazes de seduzir o operário. Quem souber da importância da
dança na luta pela liberdade precisa ter claro que a emancipação do
corpo é inimiga tanto da política púdica de esquerda quanto do
comércio que vende a carne. A situação da dança dentro das
manifestações da cultura popular é diversificada, mas é necessário que
a dança não seja expressão de sexismo, racismo, machismo disfarçado de
liberdade sexual. Música e dança em sua fusão orgânica(tô falando de
batuque do bão!) não tem nada a ver com o rock cheirosinho de hoje,
com frevo em função de turismo, samba pasteurizado na avenida ou
ainda com o luxo e o consumismo perigoso do chamado funk
ostentação(este último fenômeno musical presente em São Paulo traz em
algumas manifestações elementos opressores mais danosos do que a
associação da mulher com cachorra, como já foi feito no contexto
carioca).
Dançar é lutar, é resistir nos diferentes espaços em que a
alegria de viver enfrenta a violência da labuta e as imposições do
Estado. Dancem companheiros! Dancem!


Marta Dinamite

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A REFLEXÃO ESTÉTICA ATRAVÉS DO CINEMA DE GODARD




Camaradas e amigos:

 1- A História da arte dos últimos cem anos é o caminho que leva ao
conceito da arte como sua própria ciência.

 2- Nós não somos quem usa uma linguagem obscura. Ao contrário, é a
nossa sociedade que é hermética e fechada na mais pobre das linguagens
possíveis.

 3- Maiakóvski na poesia. Sergei Eisenstein no cinema. Eles que
lutaram por uma definição de arte socialista foram apunhalados pelas
costas por Trotski e pelos outros. Foram eles que, dois meses após
tomarem o Palácio de Inverno, para assinar o tratado de paz de Brest
Litovsk, aceitaram a linguagem imperialista.


   A arte não reproduz o visivel. Ela inventa o visivel.

  Questionamento: " Mas o efeito estético é imaginário ".

  Sim, mas o imaginário não reflete a realidade. Ele é a realidade do
reflexo. Ás vezes, você ouve afirmações como: use apenas três cores.
As três cores primárias: azul, amarelo e vermelho. Perfeitamente puras
e em perfeita harmonia, sob o pretexto de que " todas as outras cores
estão lá ". Para tudo o que vemos devemos considerar três coisas: a
posição do olho que vê, o objeto visto e a fonte de luz. Talvez a
realidade ainda não tenha se mostrado a ninguém.
   Quanto a nós exigimos a unidade da política e da arte, a unidade do
conteúdo e da forma, a unidade de um conteúdo político revolucionário
e de uma forma artística mais perfeita possível. As obras sem valor
artístico, não importa o quão políticamente avançadas, são ineficazes.
Na literatura e na arte devemos lutar em duas frentes.


                                Jean Luc Godard, 1967.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LIGAÇÕES ENTRE O ANARQUISMO E A PINTURA

"Fazemos juntos", [Courbet e Proudhon], "...uma obra importante que
liga a minha arte a sua filosofia e sua obra á minha.


                                      Courbet, 1885(?).

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



DEBATE SOBRE O EXPRESSIONISMO:

Durante a década de trinta do século passado, as discussões sobre
arte e política envolviam polêmicas estéticas nos meios intelectuais
da emigração antifascista na Europa. Será neste contexto de discussões
polarizadas entre autores marxistas, que ocorreu aquele que talvez
seja o debate estético de maior vulto do século XX: O Debate sobre o
Expressionismo. Ocorrido entre 1934 e 1938 este debate procurou
analisar a experiência do movimento expressionista que naquele momento
encontrava-se soterrado pela ascenção da barbárie nazista na Alemanha.
De extrema importância para a Resistência cultural antifascista este
debate contou com nomes como Georg Lukács, Ernst Bloch e Bertolt
Brecht. Consideramos este episódio da maior importância para que a
crítica revolucionária atual de arte faça uma reeleitura do
Expressionismo. A seguir transcrevemos alguns trechos do debate.
Atenciosamente


CONSELHO EDITORIAL LANTERNA


O Expressionismo é uma das muitas correntes burguesas do tipo
ideológico que desembocam mais tarde no fascismo(...). A arte
literária do Expressionismo é uma adulteração da realidade, um
retrocesso, não pode ser desligada da concepção de mundo do
parasitismo imperialista(...). O Expressionismo é uma forma de
expressão literária do imperialismo desenvolvido.


Gerog Lukács.


Os expressionistas sobressaíram, durante a guerra, como homens de
paz, partidários do fim da tirânia; pelo que não haveria razão alguma
em classificar sua luta como uma simples luta aparente, representa-la,
inclusive, como uma modalidade da aparente oposição imperialista. As
acusações de imperialistas ou parafascistas são errôneas tanto
política quanto literáriamente(...) Talvez a realidade de Lukács, que
é uma totalidade de conexões, imediata ou indefinida, não o seja assim
objetivamente; talvez ainda o seu conceito de realidade contenha
traços clássicos e de sistema; talvez a realidade autêntica seja
também interrupção(...)O Expressionismo não é apenas a forma mas o
conteúdo especificamente humano. O Expressionismo é fosforescência no
desconhecido, contém objetivamente sombras arcaicas e, misturadas a
elas, luzes revolucionárias(...). Hoje não há nenhum talento sem
raízes expressionistas.


Ernst Bloch


O Debate sobre o Expressionismo, patrocinado pela revista Das Wort,
tornou-se rapidamente uma batalha com as soluções: " Viva o
Expressionismo " e " Viva o Realismo ! ". Por exemplo, no grupo " Viva
o Expressionismo !" encontrar-se-iam uma série de realistas , e no
grupo " Viva o Realismo !" um bando de envergonhados que só desejam
expressar-se(...). Ninguém parece estar convencido de outra coisa
senão de sua própria convicção(...). O Expresionismo é uma arte de
pressão na qual o valor pedagógico se anula diante de um vago
conteúdo envolto em imagens belas e palavras aromáticas(...). Nenhum
realista deve conformar-se com a repetição do que já se sabe: isto não
demonstra uma relação viva com a realidade(...). Não molestem os
jovens com nomes veneráveis! Não limitem o desenvolvimento da técnica
a 1900 e, dai em diante, nada mais!(...). O Expressionismo não é um
assunto penoso, um deslize(...). Gerog Grosz não se permitiu menos
liberdades formais que Franz Marc, mas Herr Hitler esbravejou contra o
fato de que os cavalos de Franz Marc não fossem iguais aos da
realidade, embora não afirmasse com tanta veemência que os burgueses
de Grosz não se aproximassem dela(...). O Expressionismo contém
ensinamentos muito úteis ao Realismo.


Bertolt Brecht