segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Trecho do livro-vivo " NADJA ", de André Breton:

(...)Se fosse tratada numa clínica particular, com todos os cuidados que são dispensados aos ricos, sem se submeter a qualquer promiscuidade que pudesse prejudica-la, mas, pelo contrário, confortada nos momentos oportunos pela presença de amigos, satisfeita além do possível em seus gostos, reconduzida gradativamente a um sentido aceitável de realidade, o que exigiria não trata-la de modo brusco, dando-lhe trabalho de faze-la regredir por conta própria á origem de sua perturbação, talvez me precipite acreditar que ela sairia desse mau passo. Mas Nadja era pobre, o que, no tempo em que vivemos, é suficiente para condena-la, a menos que perceba que não estava inteiramente em harmonia com o código imbecil do bom senso e dos bons costumes. Além disso, era só(...) Era muito forte, afinal, e muito fraca, como se pode ser , na convicção que sempre teve, e na qual a mantive por tempo demais, ajudando-a, talvez, a avançar o passo: ou seja, que a liberdade, adquirida neste mundo ao preço de mil renúncias, as mais difíceis, exige que desfrutemos dela sem restrições enquanto nos for dada, sem consideração pragmática de nenhuma espécie,e isso porque a emancipação humana, concebida em definitivo sob a sua mais simples forma revolucionária, que não passa da emancipação humana sob todos os aspectos, entendamos bem, segundo os meios que cada um dispõe, continua sendo a única causa digna de servir. Nadja foi feita para servir a essa causa, nem que fosse só para demonstrar que se deve fomentar em torno de cada ser uma conspiração muito particular, que não existe apenas na sua imaginação, a qual seria conveniente, do simples ponto de vista do conhecimento, levar em consideração, e também , mas muito mais perigosamente, para passar a cabeça, depois um braço, entre as grades assim afastadas da lógica , ou seja da mais odiável das prisões.


                                                   André Breton, 1926

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