quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O Panfleto Artístico:

Se existe algo que deixa os escritores e artistas de classe média em pânico, é quando a literatura e a arte são produzidas de acordo com as necessidades ideológicas do proletariado. Estes profissionais de porcelana, arremessam pedras de dentro dos seus castelos massificados quando o escritor deixa de lado os fantasmas pessoais para priorizar a histórica marcha operária em direção ao socialismo. Essa gente que adora querelas literárias, que adora usar o sadomasoquismo e os paraísos artificiais para agredir os papais e as mamães, são vizinhos de almofada da grande classe média, sejam eles religiosos, devassos ou esquerdizantes(ou as três coisas ao mesmo tempo).
  Os artistas trabalhadores que estão espalhados pelas cidades brasileiras, tem por suas condições materiais de sobrevivência, a obrigação de fazerem pouco caso dos complexos pequeno-burgueses na criação artística. É verdade que muitos são alvos fáceis da indústria cultural norte americana, mas o marxismo ainda se apresenta enquanto solução filosófica para alimentar as estéticas que crescem nas ruas e não nas mansões. Pois bem, venho mais uma vez defender a necessidade da arte proletária, assumindo sem medo que a obra de arte panfletária educa politicamente.Intelectuais culturalistas esbravejariam, horrorizados, que a arte deve ser " livre " para tratar daquilo que diz respeito a um mundo " plural ", recheado de " discursos ". Esta adequação da arte á democracia liberal, escamoteia o sentido de classe que permeia o relativismo estético da rapaziada " cult ". Perante isto tudo, a resposta artística/literária tem que ser dura, objetiva, fria e sem maiores frescuras.
   A saída está no Realismo? Sim, mas não no Realismo do século XIX e nem no Realismo cínico de muitos artistas, cineastas e escritores que hoje em dia fingem problematizar a realidade, mas que apresentam apenas desfechos diplomáticos, quando não niilistas e carentes de coesão com um projeto político capaz de chacoalhar os destinos da sociedade. Há um relativo desconhecimento por parte de artistas e militantes de práticas estéticas que modernizaram a proposta do Realismo. Vejam por exemplo o movimento da Nova Objetividade, que durante o entre guerras ofereceu a precisão artística de novos componentes expressivos(sobretudo na Alemanha, antes é claro, da barbárie nazista). A reportagem, a maquinaria, o cotidiano, as tribunas, as estatísticas, enfim toda a vida moderna articuladora de expressões que se comunicam diretamente com o proletariado. Talvez uma das principais consequências revolucionárias da Nova Objetividade tenha sido a Arte Direta, que tanto ilustra o teatro político de Piscator. Este teatrólogo alemão(a quem Brecht deve e muito...) soube converter a arte em necessidade informativa para os trabalhadores. Os elementos estéticos surgem em Piscator em função da necessidade política de organizar a classe operária. Assim sendo, uma arte panfletária armada com a tecnologia e a ciência moderna condiz com as necessidades racionais do confronto político: a prática artística é derrubada do seu velho pedestal metafísico e colocada sob um ponto de vista útil, prático, informativo, esclarecedor e não mistificador da realidade social.
  Ser realista não é suficiente para a arte revolucionária: temos que elaborar formas artísticas que se comuniquem com a velocidade da informação na era digital. Tais formas se resolvem em obras claramente panfletárias, pois seu objetivo não é o gozo contemplativo e nem a birra infantil das rebeldias literárias e artísticas, mas a utilização da arte para e pelo operário. As estéticas panfletárias nos mostram que os trabalhadores devem fazer arte e política.


                                                José Ferroso 

Nenhum comentário:

Postar um comentário