segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O Jazz é a expressão musical da liberdade:

Enquanto muitos militantes de esquerda ficam grilados, preocupados demais com o conteúdo da letra de uma canção, eu sugiro que se mergulhe pra valer na melodia enquanto expressão sonora da liberdade, aspiração maior do socialismo. Estou portanto no território livre do jazz: este não é apenas o maior gênero da música popular norte americana, pois seu significado é internacionalista. A música negra do jazz associa-se imediatamente ás lutas políticas dos oprimidos e marginalizados devido ao seu óbvio significado étnico e estético; ou seja a cultura afro enquanto plataforma simbólica anti-burguesa. Logicamente que hoje a música do jazz envolve uma mercadoria luxuosa, distante do seu ambiente marginal de origem. Mas se na atualidade jazz virou símbolo do"  bom gosto " e da " alta cultura ", sua significação não tem absolutamente nada a ver com os juízos estéticos do burguês.
 Rompendo com o gosto que moldou a identidade musical da aristocracia e da burguesia, o jazz com seu eterno perfume de jasmim e sua sensualidade latente, trouxe o corpo para dentro da música contemporânea: se as músicas  clássica, sacra e militar batem apenas nos ouvidos, levando tão unicamente á contemplação da autoridade(artística, religiosa, militar ou política), o jazz bate a um só tempo no ouvido e no quadril da plebe; é um ritmo pulsante em que se exala o sopro do imprevisível na dança ou na contemplação carnal dos objetos: é a música que faz da cultura afro mesclada com a cultura do white man  um dos elementos fundadores da modernidade. O jazz exprime o mundo urbano em suas contradições econômicas e sociais, formando um grande paradoxo cultural no coração industrial da civilização burguesa. Então, se o jazz está hoje cooptado pelo gosto burguês, retira-lo da opulência material capitalista e coloca-lo na sua origem proletária e desajustada, é devolver a esta música sua verdade histórica.
  As qualidades dionisíacas de jazz o empurram para o plano da contestação política. Não foi por acaso que o pessoal da Resistência contra os nazistas durante a Segunda guerra mundial, concebia o jazz enquanto expressão da liberdade: a estrutura jazzística é o oposto do gosto musical fascista, é o oposto das melodias de Wagner que davam voz á corja da SS(não estou aqui desmerecendo o valor musical de Wagner, compositor de importância inquestionável no Romantismo alemão, mas apenas constatando a vinculação ideológica da sua música no século passado). A contestação internacional do jazz estaria sintonizada também com os ouvidos rebeldes dos existencialistas franceses, dos intelectuais marxistas ingleses dos anos trinta e com o eixo poético contracultural da Beat generation. Tudo isto já nos faz valorizar o jazz enquanto manifestação orgânica da verdadeira liberdade social e musical, pois suas melodias ajudavam a movimentar os ambientes da esquerda e da contestação política.
 Seja em sua inúmeras derivações musicais que vão das vozes arrasa quarteirão de Louis Amstrong e Billie Holiday, passando pela sofisticação do Bebop de Charilie Parker(num paralelo fantástico de liberdade e improviso formal com o expressionismo abstrato na pintura), desaguando no cool jazz de Miles Davis, Chet Baker e finalmente na música completamente livre do Free jazz, este diversificado gênero musical traduz a luta pela liberdade musical, corporal e política.

                                     Tupinik

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