terça-feira, 12 de novembro de 2013

As relações entre Arte e Revolução segundo Marcuse:

(...) A busca é de formas artísticas que expressem a experiência do corpo(e da " alma "), não como veículos de poder e resignação do trabalho mas como veículos de libertação. É a busca de uma cultura sensual, no sentido em que envolve a transformação radical da experiência e da receptividade dos sentidos do homem; a sua emancipação de uma produtividade auto propulsora, lucrativa e mutiladora. Mas a Revolução Cultural vai muito além da reavaliação artística; ela ataca as raízes do capitalismo no indivíduo.
(...)  A relação entre Arte e Revolução é uma unidade de opostos, uma unidade antagônica. A arte obedece a uma necessidade e tem uma liberdade que lhe é própria- não a da Revolução. Arte e Revolução estão unidas em mudar o mundo - Libertação. Mas, em sua prática, a arte não abandona as suas próprias exigências nem abdica de sua dimensão: permanece não-operacional. Na arte, a meta política somente se manifesta na transfiguração que é a forma estética. A Revolução pode estar ausente da obra de arte, mesmo quando o próprio artista é um " engajado ", um revolucionário(...). O destino da arte continua vinculado ao da Revolução. Neste sentido, é deveras uma exigência interna da arte que empurra o artista para as ruas- para lutar pela Comuna, pela Revolução Bolchevique, pela Revolução alemã de 1918, pelas Revoluções Chinesa e Cubana, por todas as Revoluções que tem a possibilidade histórica de libertação. Mas, ao faze-lo, o artista abandona o universo da arte e penetra no universo mais vasto de que a arte continua sendo uma parte antagônica: o universo da prática radical.
(...)A Revolução Cultural de hoje coloca novamente na agenda os problemas de uma estética marxista(...). A arte pode, de fato, tornar-se uma arma na luta de classes, ao promover mudanças na consciência predominante. Contudo, os casos em que existe uma correlação transparente entre a respectiva consciência de classe e a obra de arte são extremamente raros(Moliére, Beaumarchais, Defoe). Em virtude de sua própria qualidade subversiva, a arte está associada á consciência revolucionária, mas no grau em que a consciência predominante de uma classe é afirmativa, integrada e embotada, a arte revolucionária será o oposto disso. Onde o proletariado for não revolucionário, a literatura revolucionária não será literatura proletária.


                                          Herbert Marcuse, 1972.

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