sábado, 9 de novembro de 2013

A construção da Arte Socialista é incompatível com a cultura da " classe C ":

A Arte socialista ainda não existe: todos os escritores, artistas e militantes da cultura sabem que ela será fruto de um longo processo histórico de construção, de experimentações que ajudam a fermentar uma nova cultura(Trotski foi extremamente perspicaz quando refletiu sobre o assunto em seu clássico livro Literatura e Revolução, de 1923). Mesmo com o modo de produção capitalista ainda de pé, esta arte precisa ser pensada, gestada a partir das manifestações artísticas historicamente acumuladas(do Futurismo ao Grafite existe uma infinidade de experiências estéticas a serem assimiladas pelos artistas revolucionários da atualidade) . Isto já nos leva a concluir que uma nova produção artística e literária irá abranger um amplo conjunto de formulações e vivências estéticas, que em sua diversidade, serão decisivas para contribuir com a abolição do trabalho alienado e ao mesmo tempo gerar polêmicas quanto ás diferentes resoluções formais. Posto isso, precisamos agora compreender os obstáculos culturais para o desenvolvimento desta nova arte. Dentro da cultura brasileira em especial, um fenômeno recente tende a configurar-se cada vez mais enquanto obstrução ideológica para a consciência política revolucionária: a produção cultural voltada para a chamada " classe C ".
   Vamos começar pela desmistificação deste conceito: não existe classe C, pois diferentemente de uma divisão serial própria aos mecanismos de controle do mercado, o que existe é a classe trabalhadora. Portanto a letra C além de ser uma tentativa de ocultar a luta de classes, reforça a dominação da indústria cultural sobre o proletariado brasileiro. A Era Lula e por tabela a Era Dilma se caracterizam pela inserção dos trabalhadores na sociedade de consumo, na dinâmica dos diferentes serviços do mercado(apesar é claro, das rendas desproporcionais e do alto contingente de miseráveis espalhados pelo país). Ou seja, o PT além de ser um governo que não é operário, que passa longe do projeto socialista mediante o compromisso com a burguesia expresso nas prioridades econômicas dadas aos grupos e conglomerados detentores do capital , compreende o trabalhador não enquanto sujeito histórico produtor da sua cultura, mas sim enquanto objeto de caridade dos projetos sociais e alvo consumidor num novo filão de mercado. Alguém poderia dizer que o governo trouxe melhorias econômicas para os trabalhadores. Sim, ocorreram " melhorias ", mas estas participam politicamente da construção do socialismo ou do fortalecimento do capitalismo? Moradia, luz elétrica, acesso á universidade e bens de consumo devem ser analisados sob o ponto de vista cultural do socialismo: casas próprias e luz elétrica num desenho urbanístico individualista  e testemunha do espaço público destroçado? Acesso a uma universidade voltada para o tecnicismo e para a Educação capitalista? Bens de consumo cuja estética alimenta a dissociação entre trabalho e cultura? Isto tudo nos leva a concluir que a arte, por exemplo, se quiser contribuir com o socialismo, deve se opor com firmeza a este processo de cooptação da classe trabalhadora brasileira.
  As políticas do governo funcionam no plano da superestrutura enquanto uma cama de gato para que a indústria cultural cumpra o seu papel de coesão ideológica com a ordem capitalista. Mesmo anteriormente a Era Lula, já era possível perceber que a indústria cultural estava circulando pela TV e pelo rádio uma nova produção que exprime os gostos populares em forma de churrasco, pagode e futebol. Nada contra nenhuma destas manifestações e de outras que compõem o gosto popular. O problema que aponto aqui é como o gosto popular é apropriado por uma lógica industrial que preza pela simplificação das formas e pela promoção da alienação política. Os canais de TV tanto " abertos " quanto"  fechados " revelam não apenas o massacre cultural do imperialismo norte americano em filmes e seriados, mas a existência de uma produção cultural brasileira americanizada e reforçadora da mais completa alienação do gosto popular pelo mercado(das novelas aos programas de humor e de auditório). Deste modo " a cultura da classe C " se apresenta enquanto grande inimiga do proletariado, pois ela não expressa os seus interesses históricos.
   Creio que boa parte da esquerda atual(e refiro-me a verdadeira esquerda, socialista e revolucionária) não cai na conversa fiada de idolatrar a cultura popular, pois essa já apresentou em parte exemplos suficientes de conivência com as classes dominantes ao longo da História. Ao mesmo tempo, é fato que muitos dos elementos estéticos da cultura popular também podem ser potencialmente revolucionários. É nesta segunda perspectiva que os militantes precisam atuar: as experiências vanguardistas e de arte revolucionária em geral não podem se calar diante da " Estética de classe C ", mas devem partir do gosto das massas para  produzir " Estéticas populares e revolucionárias ". Com a audiência da TV aberta despencando, a internet enquanto espaço não apenas de recepção mas de produção direta sobre o veículo de comunicação, pode pela criação artística e literária devolver á cultura popular o seu espaço político próprio: o inconformismo social e a elaboração plástica das doutrinas anticapitalistas. Esta arte já existe nas periferias do país. Cabem aos grupos e organizações culturais de esquerda, circularem as reflexões e realizações estéticas dentro de territórios em que o PT também não conseguiu organizar sob a ótica do socialismo: as escolas, os sindicatos e os centros culturais. A longa construção da arte socialista passa pelo confronto declarado contra a miséria espiritual da chamada " cultura da classe C ".



                                                     Geraldo Vermelhão

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