terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os caminhos da música de protesto:

Quais são as músicas que os trabalhadores brasileiros ouvem hoje? Sertanejo, pagode, funk, rap, gospel, rock, estão entre os gêneros que invadem diariamente os ouvidos do povo. Certamente que esta diversidade musical é sintoma  de uma sociedade plural; no entanto esta diversidade coexiste com as desigualdades resultantes do trabalho explorado. Se é fato que não cabe a música apenas tratar de problemas sociais, não podemos deixar de detectar que pela língua da indústria a música muitas vezes produz uma linguagem alienada, reprodutora da ideologia dominante. Eis que surgem os comentaristas pós-modernos que se fundamentam na velha questão do " gosto " para justificar toda e qualquer forma de música. Não sou a favor de patrulhar a música, mas acontece que a análise pelo critério do " gosto " acaba fragmentando e portanto bloqueando, boicotando uma dimensão fundamental dentro da música popular: o protesto político.
  As relações entre política e música são do tempo " da onça ", remetendo-nos pelo menos aos tempos da Revolução francesa de 1789: uma trilha sonora danada de boa acompanhou a derrubada da nobreza, é só pensar na Carmagnole dos San culottes. Mas será que a música pode mesmo ajudar na luta política? Quando Bob Dylan se afastou do engajamento folk, chegou a declarar ainda nos anos sessenta que a música não mantém um movimento social, não mantém uma greve. Penso que Dylan estava pessimista, mas por outro lado, a ingenuidade é um sério perigo. Para a música de protesto surtir efeito ela precisa estar integrada á realidade de uma comunidade: o rap é a prova viva de como o protesto musical faz efeito, pois ele está inserido na vida de homens concretos.
 Diante da realidade industrial(e acrescentaria, como já o fiz em outros textos, que estamos na época digital presenciando uma mudança significativa na produção e circulação de músicas), devemos pensar o engajamento musical dentro da realidade concreta dos trabalhadores. Além dos ritmos regionais, a indústria cultural ameaça destruir os vínculos entre música e política; O protesto musical precisa fazer parte da luta política, pois mesmo as composições mais avançadas quando estão apartadas do povo, não surtem o efeito político desejado. Basta olharmos para a música popular brasileira durante o regime militar: canções maravilhosas, de qualidade estética e política como Carcará, do saudoso João do Vale(esse cara faz falta...), apesar de serem manifestações de resistência diante da ditadura militar, eram compreendidas e cultuadas pelos intelectuais de esquerda da classe média, e não pelo proletariado. Longe de mim menosprezar esta e outras canções: elas são documentos vivos da luta contra o regime militar, são ouro melódico que precisa chegar hoje aos ouvidos da juventude trabalhadora, para assim ajudar a arar o solo para a música do futuro.
 Num momento em que muitos compositores deste período(décadas de sessenta e setenta) andam em entrevistas e em documentários desmentindo ou relativizando o papel político de enfrentamento de suas canções na época, precisamos informar os trabalhadores sobre a necessidade de criação de canções de protesto que não se domesticam com o tempo.Para enfrentarmos a alienação musical precisamos cultivar a música de protesto dentro das comunidades.


                                            Tupinik

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