segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Mário Pedrosa na ordem do dia:

Se a arte contemporânea está em crise, isto deve-se antes a um desleixo utópico, a uma separação descabida entre arte e vida, entre arte e política. Portanto, gente do calibre de Mário Pedrosa(1900-1981) é que deve constar nas referências teóricas dos artistas da atualidade. Felizmente a editora Cosac Naify anunciou que irá, no ano que vem, editar os principais escritos do crítico, divididos em volumes sobre artes plásticas, arquitetura e reflexões políticas. Uma ótima notícia para quem busca entender o papel revolucionário e ao mesmo tempo autônomo da arte. Pedrosa foi um revolucionário na medida em que compreendeu a Revolução tanto no campo político quanto estético. Ele exerceu de fato a crítica de arte porque a encarava enquanto dimensão fundamental da sua militância: não é a descrição subjetivista ou o relativismo pós-moderno que interessam para ele, e sim a busca pelos fundamentos estéticos e históricos dentro do que havia de mais avançado nas chamadas artes visuais.A luta de Mário Pedrosa pela emancipação humana, o levou a valorizar a radicalidade da forma e as pesquisas expressivas dos movimentos de vanguarda; Pedrosa dava um nó na cachola dos direitistas e dos esquerdistas(os últimos ainda confundem com frequência, arte com um atalho mal feito para ilustrar ideias políticas).
  Além de ter sido um dos precursores da oposição internacional de esquerda, isto é do trotskismo, no Brasil, Pedrosa cumpre um itinerário crítico de tirar o chapéu: já de cara conviveu e tomou lições de liberdade com os surrealistas parisienses, no final dos anos vinte. Logo em seguida inaugurou a crítica de arte brasileira de viés marxista, ao analisar uma exposição da gravurista alemã expressionista Kaethe Kollwitz no CAM(Clube dos Artistas Modernos), na cidade de São Paulo em 1933. Após este início promissor, Mário Pedrosa se notabilizou por teorizar e divulgar no Brasil o abstracionismo. Brother que era do artista norte americano Alexander Calder e atento ás pesquisas formais da Gestalt, Pedrosa seria como ele mesmo gostava de dizer " um arauto das vanguardas ". Seus artigos transpiram as novidades trazidas pela Bienal das artes a partir de 1951, assumindo o valor de verdadeiras plataformas teóricas para o trabalho de artistas como Ivan Serpa e Abraham Palatinik. Seu pioneirismo quanto ao estudo da arte realizada por internos de clínicas psiquiátricas e por crianças, trouxe importantes avanços que extrapolaram os limites institucionais da arte. Impossível ainda pensarmos o desenvolvimento do concretismo e do neoconcretismo entre os anos cinquenta e sessenta, sem a envergadura teórica do crítico.
  Esteja claro que não estamos realizando aqui uma " dica ", mas um ato de militância: Mário Pedrosa precisa circular pelas veias da crítica para irrigar a arte. Quem quiser tratar da arte revolucionária removendo de vez os perigos do esgoto stalinista, precisa ler Mário Pedrosa.


                                    Os Independentes

Nenhum comentário:

Postar um comentário